Crítica
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Sinopse
Mesmo que tenha acabado de perder o emprego, Michel vive feliz ao lado de Marie-Claire. Os dois se orgulham da família construída e da luta política que sinaliza seus valores morais. Porém, isso muda quando eles são assaltados e perdem o dinheiro que juntavam para visitar o monte Kilimanjaro. O problema maior é a identidade do autor.
Crítica
Feliz surpresa foi constatar que o novo trabalho de Robert Guédiguian, As Neves do Kilimanjaro, era um feel good movie, mesmo não parecendo em um primeiro momento. Ora vejam. O protagonista do filme é demitido, ganha uma viagem para os pés do Kilimanjaro com grande esforço dos amigos e familiares mas não a aproveita por um assalto, que leva não só suas economias como o sistema nervoso de sua família. Se já não bastasse isso, o autor do crime é um ex-colega de serviço, demitido na mesma leva. Como uma trama como esta pode fazer com que o espectador sinta-se bem no desfecho? A resposta está na humanidade que os personagens demonstram no decorrer da trama, dando um belo exemplo de amor ao próximo e solidariedade.
Baseado em um poema do clássico escritor francês Victor Hugo, com roteiro de Guédiguian, As Neves do Kilimanjaro começa nos mostrando o que talvez seja o sorteio mais desanimado de todos os tempos. Enquanto Michel (Jean-Pierre Darroussin) retira os nomes dos seus colegas de trabalho de uma urna, nenhum dos sorteados se mostra satisfeito. Também pudera. Cortes na firma obrigaram demissões em massa e a melhor forma encontrada pelo sindicato foi sortear os nomes dos dispensados. Michel, por fazer parte do sindicato, em teoria, não precisaria colocar seu nome no bolo. “Mas isso seria um privilégio, e não quero isso”, explica Michel para seu cunhado e melhor amigo, Raoul (Gérard Meylan), logo depois de ter puxado o seu próprio nome da urna. Desempregado, Michel dá a notícia para sua esposa, Marie-Clarie (Ariane Ascaride), que recebe com serenidade a novidade. “Você não cansa de ser um herói, não?”, fala Marie, com ar de orgulho pelo marido.
Durante um inocente jogo de cartas, Michel, Marie-Clarie, Raoul e sua esposa, Denise (Marilyne Canto) são rendidos por uma dupla de assaltantes que sabem de uma pequena bolada recebida por Michel e Marie durante as comemorações de 30 anos de casamento do casal, momento no qual receberam passagens para uma viagem e dinheiro para aproveitarem uma segunda lua de mel. Mal sabe Michel que o autor do roubo é um ex-colega de trabalho, Christophe (Grégoire Leprince-Ringuet), que possui responsabilidades que farão toda a diferença para o casal assaltado.
Guédiguian é inteligente ao definir muito bem a personalidade de cada um dos protagonistas antes de colocá-los no principal enrosco do filme. Vemos o quão Michel e Marie-Clarie são parceiros, corretos e honestos. No entanto, um evento traumático como o ocorrido e a indignação por um crime sem sentido pode transformar uma pessoa. Esta mudança acontece momentaneamente com Michel, que perde as estribeiras com Christophe ao confrontá-lo sobre o assalto. Isto e o fato de tanto Michel quanto Marie-Clarie esconderem algumas escolhas que fazem no decorrer da história os colocam como seres humanos reais, falhos, que pensam no bem comum, mas que não, necessariamente, agem de forma aberta.
Nos sentimos bem ao conferir o desenrolar dos fatos por podermos observar que ainda existe bondade neste mundo. A atitude do casal é tão abnegada e, no entanto, tão real e condizente com suas personalidades, que em nenhum momento pensamos se tratar de um ato inverossímil. Ajuda o fato de o elenco principal defender muito bem seus personagens. Com exceção de Karole Rocher, que vive a irresponsável mãe de Christophe, em atuação exagerada e fora de sintonia com o resto do elenco, todos estão excepcionais em seus papéis.
Colocando em cheque o trabalho dos sindicatos e passando de raspão na crise econômica, As Neves do Kilimanjaro consegue resolver bem todas as temáticas que se propõe. E ainda guarda surpresas agradáveis em sua trilha sonora, como Joe Cocker, Blondie e a clássica sessentista Les Neiges du Kilimandjaro, de Pascal Danel. Um filme bonito de se ver, que faz pensar e sorrir.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Rodrigo de Oliveira | 10 |
Ailton Monteiro | 6 |
MÉDIA | 8 |
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