Crítica
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Sinopse
Crítica
Caso fôssemos fazer uma lista das diversas características atribuídas a Clint Eastwood durante toda sua carreira, romantismo certamente figuraria longe do topo. O ator/diretor construiu uma filmografia com personagens durões, destemidos e monossilábicos. Portanto, observá-lo sorrindo e travando longos diálogos sensíveis em As Pontes de Madison pode ter sido uma grande surpresa no ano do lançamento do filme, em 1995, para quem cresceu o assistindo em Dirty Harry, a trilogia do Homem sem Nome de Sérgio Leone ou qualquer outra das mais de quarenta produções estreladas pelo astro. Quem diria, então, que o homem que ganhou a vida no cinema com um revólver em punho faria um trabalho tão sensível quanto este As Pontes de Madison?
Com roteiro de Richard LaGravenese, baseado no livro de Robert James Waller, o longa-metragem começa no presente, quando dois irmãos, Carolyn (Annie Corley) e Michael (Victor Slezak), precisam dar conta dos pertences de sua mãe, Francesca (Meryl Streep), recém falecida. Em meio aos seus últimos pedidos inclusos no testamento, um chama a atenção: Francesca deseja ser cremada e suas cinzas jogadas da ponte Roseman, um belo ponto turístico do condado de Madison. Michael não entende o porquê, já que seu pai possui um jazigo da família e o mais correto seria enterrar sua mãe junto do seu marido. Uma carta deixada por Francesca revela o mistério para os filhos: durante 4 dias, em 1965, ela viveu um romance com o fotógrafo da National Geographic Robert Kincaid (Clint Eastwood), que passara pelo local para registrar as pontes cobertas de Madison. De posse de um longo diário deixado pela mãe, Michael e Carolyn descobrem o que se passou naqueles dias, enquanto nós, espectadores, acompanhamos uma bela história de amor.
Desde seu início, As Pontes de Madison surpreende. Primeiramente, por ter um Clint Eastwood como um charmoso fotógrafo, um homem sensível que nunca encontrara o grande amor de sua vida. Quis o destino que este romance acontecesse em poucos dias, com uma mulher casada e comprometida com sua família. Eastwood consegue deixar todos os seus brucutus personagens para trás e dá uma interpretação sólida e realmente cativante como o viajado fotógrafo. Sua química com Meryl Streep de começo é percebida, logo no primeiro diálogo. A atriz, que vive uma imigrante italiana, pode derrapar aqui e ali no sotaque, mas apresenta uma interpretação totalmente naturalista – assim como Eastwood – fazendo parecer que estamos testemunhando a gênese de um belo e verdadeiro romance. Sua atuação inclusive foi lembrada pela Academia com uma indicação a Melhor Atriz no Oscar daquele ano.
Pontos para o cineasta Clint Eastwood, que não tem pressa alguma em engatilhar o affair entre os dois. Vemos paulatinamente a admiração de um pelo outro crescer, em diálogos corriqueiros, olhares fortuitos e toques acidentais. Quando o casal percebe, está irremediavelmente enrolado. Visto de longe, o fato de uma dona de casa casada experimentar um romance com um viajante poderia parecer questionável. No entanto, a história vai progredindo de tal forma que é difícil não entender que uma força muito maior envolve os personagens. Sim, trair é errado. Mas o amor que nasce entre os dois é tão forte e as cenas que o casal divide tão bem construídas que até o espectador mais moralista terá trabalho para não se envolver.
O fato de o filme começar no presente, apresentando o romance como um grande flashback, é um jeito interessante de já discutir a traição de Francesca. O roteiro apresenta os dois lados da moeda, colocando o espectador de carona com os dois filhos de Francesca. Enquanto Michael não tolera o fato de a mãe ter traído seu pai, Carolyn tenta entender os motivos que a levaram a isso. É, basicamente, as duas formas como o público poderia receber a história em um primeiro olhar: intolerante ou curioso. Depois de conhecer todos os desdobramentos, Michael e Carolyn chegam a um consenso que, provavelmente, será o mesmo que a dos espectadores.
Em certos aspectos, As Pontes de Madison lembra outro romance lançado naquele mesmo ano de 1995: Antes do Amanhecer, de Richard Linklater. Nele, observávamos o nascimento do amor entre um rapaz e uma garota durante uma viagem acompanhando basicamente os diálogos que levaram os dois a se apaixonarem. No longa-metragem dirigido por Clint Eastwood, o mesmo é verdadeiro. Somos convidados pelo cineasta a acompanharmos de camarote, como voyeurs, um romance em sua gênese. Cada frase, cada olhar, é importante. E estamos presentes, conferindo o início desta história de amor.
Um fato que difere As Pontes de Madison de outros romances é a idade dos protagonistas. Clint Eastwood estava com seus 65 anos e Meryl Streep passava dos 40. Ou seja, um amor maduro, para uma audiência igualmente mais experiente. Isso não significa que o público mais jovem é espantado pela trama. Mas é certo que o andamento mais lento e a própria história tende a atrair espectadores mais velhos. Louvável, já que boa parte dos filmes do gênero tende a esquecer esta parcela do público.
Resumindo, As Pontes de Madison é um belíssimo romance, filmado de forma inteligente por Clint Eastwood, construindo uma história com protagonistas apaixonantes e apaixonados. Os mais sensíveis devem ter em mente que lenços de papel são requisitos básicos para uma sessão do filme, bem como alguém especial ao lado. Programa obrigatório para casais.
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Amo a cena quando ela na sala já com as malas prontas para eles irem embora fala: o mais longe que eu vá com você nunca sairei dessa casa, aqui estão minhas raízes!
0 melhor filme romântico dos últimos 50 anos. Uma paixão avassaladora, silenciosa e proibida seguida de uma resignação épica como em Casablanca. Eastwood em seu papel mais sensível e Meryl Streep lindíssima e sensual mesmo coberta por muita roupa.