Crítica
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Sinopse
Vera Holtz é uma atriz que, através do cinema, decidiu resgatar a memória de sua família com as irmãs Teresa, Rosa e Regina. Enfrentando lapsos de memória, a artista tenta reinventar a própria vida no filme: a infância e a adolescência em Tatuí, no interior de São Paulo; a convivência familiar e as irmãs como personas do seu ser, eterna fonte de inspiração para suas personagens.
Crítica
Vera Lucia é irmã de Maria Tereza, Rosa Cristina e Regina Maria. A primeira, o Brasil inteiro a conhece pelo nome artístico, Vera Holtz. Atriz consagrada no cinema, teatro e televisão, em sua longa carreira já incorporou uma infinidade de carismáticos personagens, como a bruxa Fanny, a suburbana Dos Anjos, a vampira Alice, a professora do Menino Maluquinho, a alcoólatra Santana, a Madame Nazaré, a Rainha Valentina, Dona Redonda ou a vilanesca Magnólia. Apenas neste ano, a ouvimos como uma voz ao telefone em Alguma Coisa Assim (2017), enquanto que em Berenice Procura (2017) assumiu um papel que havia sido escrito com Paulo César Pereio em mente! A diversidade, como se percebe, faz parte de sua persona. No entanto, a cada novo tipo que incorpora, um pouco daquela figura também vai se adicionando ao seu ser. E como voltar para a própria essência? É preciso retornar à casa, buscar as origens, olhar para trás e redescobrir de onde se veio. É o que faz em As Quatro Irmãs, uma bela e comovente jornada bastante pessoal da intérprete ao lado daquelas que lhes são mais próximas.
Durante os ensaios do espetáculo Um Pai (Puzzle), monólogo estrelado por Ana Beatriz Nogueira e dirigido por Vera em companhia de Guilherme Leme, ela se aproximou do cineasta Evaldo Mocarzel, que havia preparado a adaptação dramatúrgica do livro de Sybille Lacan e foi assistir a um dos ensaios. A empatia entre os dois se deu quase que por imediato, a ponto dela lhe propor esse desafio: retratar sua vida e obra partir desse olhar tão particular, resgatando a memória afetiva não apenas dela, mas também das irmãs. O ponto de partida? Os cem anos do casarão da família, onde nasceram e cresceram, na distante Tatuí, interior de São Paulo. A infância, as relações com os pais e entre elas, as descobertas, as travessuras, as lembranças que se misturam e confundem: está tudo presente, não na voz de uma, mas das quatro. O resultado é um passeio cheio de afeto, ainda que por vezes se aproxime do intrusivo.
Isso se dá porque a artista se despe de cerimônias ao dar voz a estas recordações, agora compartilhadas pela presença constante das três irmãs ao seu lado. Elas também se manifestam – não são apenas figuras para compor um cenário – mas são participações complementares. A condutora e protagonista é Vera, e nenhuma outra. Sabemos que a mais velha possui a língua presa, e por isso fala pouco. Que a do meio é mais vaidosa, e que a caçula era a mais sociável, tinha o maior grupo de amigos e que sempre, de uma forma ou de outra, se destacava das demais. Características, no entanto, filtradas pelo olhar de Vera, que deixa sua voz impressa tanto pelas líricas imagens escolhidas por Mocarzel para ilustrar tais depoimentos, como também no sentimento que emana do evidente carinho que existe entre elas.
Não deve ter sido fácil convencer as outras três a participar do filme – afinal, nenhuma é atriz como Vera. Mas ali estão, as quatro, lado a lado, ainda que seja evidente que umas se mostrem mais confortáveis do que as outras. O diretor faz uso das ferramentas que lhe competem ao sobrepor estes constrangimentos, criando uma narrativa através da qual tais detalhes se tornam quase irrelevantes. Não estamos diante de um documentário tradicional – longe disso. Ainda que por alguns momentos assim se mostre, sem vergonha ou constrangimento. Nada de depoimentos ensaiados ou questionamentos intermináveis, ainda que sessões de conversas entre elas se revelem quase como um prazer secreto: estamos ali, ao lado delas, compartilhando daquela intimidade, como que ao bisbilhotar pela fresta de uma porta entreaberta. O deleite é inevitável, como se o perigo de sermos descobertos fosse uma constante. Pelo contrário, é a um convite que o espectador atende, e sua presença junto às protagonistas é tão esperada quando desejada.
Quem acompanha Vera Holtz pelas redes sociais sabe bem que seu olhar não é nada acomodado ou convencional. A arte e a provocação fazem parte do seu ser, e um filme que tenha como proposta se debruçar sobre sua história não teria como ser mais longe do lugar-comum. As Quatro Irmãs revela apenas o que está na intenção, nem mais, nem menos. Mas o que entrega é bastante, ainda mais pela oportunidade única que representa. Evaldo Mocarzel é feliz em emprestar eficiência ao relato delas, sem jamais se impor no caminho por elas desenhado. Assim, o filme é de Vera, Maria, Rosa e Regina. E de mais ninguém, além de todos aqueles que dessa caminhada se proporem a seguir juntos, de pés descalços e ao sabor do vento. A mesa está posta, a panela está fervendo e as janelas estão abertas. É só chegar e se servir. E, com sorte, molhar depois os pés no mar, recarregando energias e seguindo adiante, pronto para mais um dia a ser celebrado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 7 |
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