Crítica
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Sinopse
Em Às Vezes Quero Sumir, Fran é uma garota tímida que tem seu cotidiano alterado com a chegada do novo colega de trabalho. Uma conexão inesperada acontece.
Crítica
O cartão de visitas da atriz britânica Daisy Ridley foi o protagonismo da terceira trilogia da saga Star Wars. Uma responsabilidade enorme que pode significar tanto uma benção quanto uma maldição – pensando na continuidade de uma carreira a médio e longo prazos. Figura principal da primeira trilogia, Mark Hamill, intérprete de Luke Skywalker, nunca conseguiu se desconectar de seu personagem, poucas vezes sobressaindo em outros papeis. Peça essencial da segunda trilogia, Hayden Christensen tampouco teve muito êxito fora do universo de George Lucas. Será que Ridley terá mais sucesso na tentativa de romper a simbiose com Rey, o papel que catapultou internacionalmente o seu nome? Caso a resposta seja negativa, ao menos não será por falta de tentativa. Em Às Vezes Quero Sumir ela interpreta Fran, a tímida funcionária de escritório, mulher de poucas palavras e moradora de uma cidade costeira dos Estados Unidos. Engrenagem da empresa que às vezes parece uma sucursal da Dunder Mifflin de The Office (2005-2013) – até a chefe tem um quê nonsense bem ao estilo Michael Scott –, Fran é o tipo de colega competente da qual se pode ficar dias sem ouvir a voz. Ridley compõe cuidadosamente a introspecção dessa pessoa com dificuldades de manter contato visual e demonstrar afeto aos demais. Tudo muda com a aposentadoria de uma veterana e a chegada de Robert (Dave Merheje) para substitui-la.
Em termos de tamanho de produção, Às Vezes Quero Sumir é a antítese dos filmes da saga Star Wars antes protagonizados por Daisy Ridley. Com uma história enxuta, personagens e situações comuns ao cinema independente norte-americano, o longa-metragem não se apressa para mostrar a movimentação gradual (ainda que significativa) das placas tectônicas internas da protagonista. Intimamente, Fran anseia pelo contato humano, deseja conversar, ir ao cinema e trocar carinhos, mas acaba sempre cedendo às próprias impossibilidades que percebemos por meio das falas cortantes fora de hora e da sinceridade típica de quem cultiva poucas raízes sociais. A aproximação de Fran e Robert é cheia de hesitações, de senões de lado a lado, de obstáculos a serem transpostos para ambos conseguirem concretizar os seus desejos. A cineasta Rachel Lambert não recorre à ideia de um percurso transformador, a isso preferindo mostrar os personagens em tentativas inibidas de proximidade com o outro. Simples e direto assim. Robert fala de contratempos amorosos, acolhe a opinião divergente de Fran a respeito do filme recém-visto (que ele amou, ao contrário dela) e toma as iniciativas para garantir uma conexão real. Enquanto isso, a solitária colega evidentemente está lutando com a própria introspecção para mudar a realidade de sua vida. Diferentemente de outras personagens semelhantes em filmes parecidos, Fran não é a apegada às rotinas e/ou tem medo das mudanças. Ela anseia por uma.
Às Vezes Quero Sumir é limitado à observação das adversidades enfrentadas por personagens com pouco traquejo social que, por isso, tendem à melancolia. Fran é tomada de assalto por pensamentos intrusivos durante seus dias monótonos, geralmente se imaginando em situações perigosas ou mesmo como um cadáver esquecido no meio da floresta afastada. Por meio dessas projeções, Rachel Lambert transforma em imagem as sensações codependentes de abandono e desalento carregadas pela protagonista, mesmo que os quadros imaginários sejam praticamente inofensivos como produtores de sentido. O que isso quer dizer? Que pouco afeta o espectador esse acesso privilegiado à imaginação mórbida da jovem de comportamento mecanizado, pois o filme mantém emoções encubadas, assim não transformando as viagens pessoais em momentos angustiantes ou reveladores, por exemplo. Ainda que exiba um ponto de vista curioso sobre essas figuras introspectivas durante as suas tentativas de sair um pouco do próprio isolamento sentimental, a realizadora não vai muito além de criar o ambiente propício para Fran e Robert apararem arestas e, ao menos, tentar chegar ao meio termo para não sepultar possibilidades efetivas. Tudo converge esquematicamente para a mensagem que Fran recebe de alguém, uma chave que a diretora nos dá de mão beijada para fechar a interpretação do que é preciso fazer.
Ao encontrar a ex-colega aposentada, Fran é submetida à história da veterana que protelou a felicidade em prol de diversas coisas, mas é impossibilitada de gozar dessa fase tão aguardada. Atingida por uma lição de moral, a protagonista de Às Vezes Quero Sumir se torna ciente de que não é mais possível postergar coisas, como a tentativa de viver o amor ou a saída do casulo criado para autoproteção. Mesmo que não seja memorável, principalmente pelo modo excessivamente calculado com que formula e amarra o seu discurso, o filme se torna um bom veículo à expressão da versatilidade de Daisy Ridley, desta vez na pele de uma personagem diametralmente oposta à corajosa Rey da saga Star Wars. Fran é caracterizada por gestos sutis, olhares enviesados e modos antissociais, enquanto Rey é curiosa, aventureira e intrépida. Rachel Lambert distribui algumas migalhas de pão pelo caminho a fim de estabelecer elos simbólicos com outras obras. Como quando Fran escolhe a trilha sonora original de Angelo Badalamenti composta para Veludo Azul (1987), um dos principais filmes de David Lynch, filme no qual o amor é um antídoto para a feiura do mundo. As alusões à obra-prima de Lynch também estão nos insetos e nos sons dos pintarroxos. Porém, a realizadora não escancara essa conexão, deixando-a acessível apenas a quem já assistiu ao filme de Lynch, ou seja, buscando certas cumplicidades nesse filme singelo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Ailton Monteiro | 8 |
Alex Gonçalves | 7 |
MÉDIA | 6.3 |
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