Crítica


8

Leitores


3 votos 10

Onde Assistir

Sinopse

Durante a década de 1970, os Lisbon formam uma família saudável e próspera. O sr. Lisbon é um professor de matemática e sua esposa é uma rigorosa religiosa, mãe de cinco adolescentes, que atraem a atenção dos rapazes da região. Porém, quando Cecília, de apenas 13 anos, comete suicídio, as relações familiares se decompõem rumo a um crescente isolamento e superproteção das demais filhas.

Crítica

Em seu primeiro longa-metragem, Sofia Coppola já evidencia uma maturidade e sensibilidade de uma realizadora veterana. As Virgens Suicidas é um trabalho de uma sensibilidade ímpar, com temática pesada, mas sem perder a ternura jamais. Comandando uma Kirsten Dunst no auge de sua beleza e com um elenco cheio de nomes interessantes, como James Woods e Kathleen Turner, a filha de Francis Ford Coppola demonstrou talento inegável atrás das câmeras. E isso depois de ter sido duramente criticada pelas suas performances como atriz nos filmes do pai, o que certamente serviu como uma volta por cima para a jovem cineasta.

Baseado no romance homônimo de Jeffrey Eugenides, o roteiro assinado pela cineasta é ambientado nos anos 70, mostrando um grupo de garotos de um subúrbio de Michigan encantados pelas belas e enigmáticas irmãs Lisbon. Ao todo, são cinco meninas: a primogênita Therese (Leslie Hayman), Mary (A. J. Cook), Bonnie (Chelse Swain), Lux (Kirsten Dunst) e a caçula Cecilia (Hanna R. Hall). Quando a mais jovem comete suicídio, os pais das garotas (Woods e Turner) tentam vigiar ainda mais de perto o cotidiano das filhas, não enxergando o quanto essa proteção demasiada causava problemas. Quando Lux ganha permissão para sair com um menino do seu colégio, o conquistador Trip (Josh Hartnett), durante o baile de formatura, parecia que a situação na casa dos Lisbon mudaria para sempre. E é o que acontece, mas para o pior.

Sofia Coppola constrói uma atmosfera que beira o onírico para contar a trágica história das irmãs Lisbon em As Virgens Suicidas. A fotografia assinada por Edward Lachman ajuda a construir essa ambientação, assim como os movimentos de câmera e a própria velocidade da narrativa que, vez em quando, em sua lentidão, parece divagar sobre os assuntos abordados. Essa morosidade no ritmo da trama, saberíamos mais tarde, viraria uma marca da cineasta. Seus trabalhos seguintes trariam também tempos mortos (vide, principalmente, Um Lugar Qualquer, de 2010) e uma total falta de pressa em desenrolar sua trama (Maria Antonieta, de 2006, sendo o melhor exemplo).

O roteiro é um grande trunfo de Coppola e consegue trabalhar bem as temáticas levantadas. A ausência da liberdade e o desejo de descobrir os saudáveis mistérios da puberdade são fatores que levam aquelas meninas Lisbon ao limite. A forma como os pais daquela família tentam proteger sua prole, não entendendo o quanto aquele zelo em demasia é perigoso chega a ser desolador. As cinco jovens viviam praticamente em uma redoma, longe do mundo real e das vicissitudes que acompanham aquela tenra idade. Quando elas ganham a chance de provar a liberdade e têm um gosto do que é o amor (ou a falta de), toda a superproteção anterior se mostra um equívoco, visto que elas não possuíam ferramentas para conseguir encarar a dureza da vida.

Chega a impressionar como Coppola consegue pegar um tema pesado como o suicídio e fazer um filme que beira o lírico. Isso passa também pela performance das atrizes principais, com destaque óbvio para Kirsten Dunst em um papel de peso que separou a jovem mulher dos papéis infantis que recebia até então. A atriz consegue mostrar doçura e certa ingenuidade de início, contrastada com a decepção e a depressão que vêm como resultado dos acontecimentos da trama.

Com uma trilha sonora ótima, assinada pelo duo francês Air, e com algumas canções da década de 70 utilizadas para embalar as “reuniões dançantes” dos personagens, a cineasta dava os primeiros sinais do quanto a música teria papel importante em sua filmografia. Belíssima estreia de uma cineasta que, apenas quatro anos depois, entregaria o irretocável Encontros e Desencontros. E, mais tarde, outras produções dignas de elogios.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
avatar

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *