Sinopse
Dois jovens de classes sociais distintas disputam o amor de uma mesma mulher. Adiante, ambos se alistam no exército e viram combatentes na Primeira Guerra Mundial.
Crítica
Em sua primeira edição, única a premiar o cinema mudo, em 1929, o Oscar possuía duas categorias de Melhor Filme. Uma tinha como critério principal o avanço artístico, e a outra a qualidade da produção. O prêmio da primeira ficou com Aurora (1927), de F. W. Murnau, enquanto o da segunda foi dado a Asas (1927), de William A. Wellman. Ambas as produções são excepcionais e de grande importância para a história do cinema, mas não somente por terem vencido um Oscar.
Por isso, é compreensível todo e qualquer culto em torno de Asas. Em seus minutos iniciais somos capturados pelos grandes olhos de Clara Bow, ela que, por mais que fosse uma das grandes atrizes da época, aqui estava ciente de que deveria ser apenas uma pequena peça numa grandiosa trama de guerra sobre dois homens e suas batalhas, internas e externas. Lançado em 1926 pela Paramount Pictures, o filme ficou mais de 60 semanas em cartaz, não para menos, afinal era um dos mais ambiciosos projetos do estúdio. A trama, para os dias de hoje, pode parecer batida, mas levar às telas uma história de contrastes entre dois homens de dois mundos bem distintos, um rico e outro pobre, que se tornam pilotos na Primeira Guerra Mundial ao passo que se apaixonam pela mesma mulher, era corajoso. Asas foi um grandioso evento para a época, tendo em vista que a Primeira Guerra Mundial havia acabado há menos de 10 anos.
É verdade que as atuações, como em diversos filmes anteriores à década de 1970 e de tom melodramático, parecem datadas e exageradas, quase incompreensíveis para as plateias atuais acostumadas a interpretações mais contidas. Mas o filme de Wellman, assim como tantos, traz grandes diferenciais que o tornam um marco. Riquíssimo em termos históricos, a produção que retrata o difícil relacionamento de dois “inimigos” na batalha do amor, que se veem num outro campo de batalha, o aéreo, vai ganhando nuances. Na guerra, os maiores inimigos são os alemães e não eles próprios. Tanto que, em determinada cena, a cumplicidade dos protagonistas é explicitada na tela da forma mais pura e direta, com um beijo nos lábios. É certamente uma das mais belas e tristes cenas já filmadas. Aberto a interpretações, esse momento foi a primeira cena de beijo entre dois homens em um filme de um grande estúdio norte-americano.
Os alcances de Asas para a época não param por aí. As filmagens das batalhas aéreas são lições para qualquer produção que se aventure nesse tipo de empreitada, até hoje. O jogo de câmera que Wellman apresenta é belíssimo, seja o que acompanha o balanço em que se encontra o casal apaixonado ou o das mirabolantes cenas aéreas. Existem vários enquadramentos e movimentos preciosos. Se há um lado ruim, é quando o capitalismo exacerbado adentra à narrativa do filme. Asas é a primeira produção a ter propaganda de produtos em cena. Uma barra de chocolate Hershey’s explode na tela durante a rápida participação de um jovem Gary Cooper. Uma batalha de atuações que, felizmente, o ator ganha de lavada.
Com grandes alcances, não existem dúvidas a respeito do marco que a produção de Wellman é para o cinema. Justificando isso, é um filme dramático de alta qualidade com uma direção de cena muito bem desenvolvida para um melodrama que se mantém excepcional mesmo depois de quase 90 anos. Pode não ter o refinamento de Murnau em seu Aurora, mas certamente não lhe fica devendo nada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Renato Cabral | 9 |
Cecilia Barroso | 6 |
Diego Benevides | 7 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 7.3 |
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