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Sinopse

O detetive Hercule Poirot está a bordo do Orient Express, em direção a Londres, e se envolve em uma investigação bastante suspeita. Um dos passageiros foi brutalmente assassinado durante a viagem e, devido a uma forte nevasca, o trajeto do trem teve que ser interrompido. Para descobrir quem cometeu o crime, Poirot precisa utilizar toda a sua inteligência no interrogatório dos 12 passageiros do vagão de luxo.

Crítica

Sidney Lumet conseguiu um feito digno de elogios em Assassinato no Expresso Oriente. Não abandonou de forma alguma suas características como diretor e, ao mesmo tempo, conseguiu ser bastante fiel ao trabalho de Agatha Christie, a grande dama da literatura de suspense. O cineasta, com a hábil ajuda do roteirista Paul Dehn, faz pequenas mudanças na trama da escritora, dinamizando os acontecimentos e proporcionando um belíssimo filme de suspense, com um elenco de encher os olhos.

O britânico Albert Finney dá vida ao astuto detetive belga Hercule Poirot em uma das obras mais famosas da escritora Agatha Christie. Em Assassinato no Expresso Oriente, Poirot está a bordo do trem do título, em direção a Londres, e se envolve em uma investigação a pedido de seu amigo de longa data, o italiano Bianchi (Martin Balsam), diretor da companhia que mantém o Orient Express. Um dos passageiros foi brutalmente assassinado durante a viagem e, devido a uma forte nevasca, o trajeto do trem teve de ser interrompido momentaneamente. É de interesse de Bianchi, portanto, que o caso seja solucionado antes do trem chegar à estação, evitando assim que má publicidade cause prejuízos a sua empresa.

O homem assassinado, Ratchett (Richard Widmark), era, na verdade, o mandante de um crime covarde realizado nos Estados Unidos, que resultou na morte de cinco pessoas, dentre elas, a menininha Daisy Armstrong. Para descobrir quem havia matado Ratchett, Poirot utiliza toda a sua sapiência no interrogatório de 12 passageiros do Orient Express.

Lumet se mantém bastante fiel ao livro em muitas passagens, mas se dá ao luxo de incluir alguns pontos bem interessantes. Um exemplo disso é o prólogo, mostrando a cobertura da imprensa sobre o caso Armstrong. Agatha Christie inicia sua história sem contextualizar em nenhum momento este fato, colocando na boca de Poirot todas as explicações sobre o crime no meio do romance. Desta forma, o cineasta já coloca as cartas na mesa deste o começo, não trazendo coelhos na cartola no meio da trama. Outras mudanças, no entanto, acabam minimizando a investigação do detetive, fazendo parecer que a resolução do caso fora bastante fácil – totalmente o contrário, se formos nos deter na história escrita por Christie. Obviamente, seria impossível que Lumet mantivesse tudo que havia sido escrito no livro. Portanto, as pequenas mudanças realizadas são, em sua maioria, bem-vindas, dando agilidade à trama.

O que chama a atenção em Assassinato no Expresso Oriente é o peso do elenco. Não é qualquer diretor que consegue reunir em um mesmo filme nomes como Sean Connery, Lauren Bacall, Vanessa Redgrave, Ingrid Bergman, Anthony Perkins, Martin Balsam, Michael York, Jacqueline Bisset, Wendy Hiller e Albert Finney. O tempo de tela de cada um varia, mas nenhum tem muito material para trabalhar. Desta forma, cada ator se escora apenas em seu talento para conseguir se destacar. Por isso, não é de se estranhar que Ingrid Bergman tenha vencido o Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação. A cena que Bergman divide com Finney não dura mais que cinco minutos, mas é uma das melhores de todo o filme. Nela, os dois trocam frases de forma tão naturalista que é difícil pensar que havia um script já ensaiado. Uma soberba performance da atriz, ao lado de um inspirado Finney, caprichando nos trejeitos do inteligentíssimo detetive belga.

Acostumado ao desafio do confinamento de personagens (vide 12 Homens e uma Sentença, 1957), Sidney Lumet não se atrapalha em momento algum ao manter quase toda a ação de seu filme dentro do Orient Express. O diretor inclusive utiliza a noção de espaços fechados e das pequenas cabines do trem para passar uma ideia claustrofóbica do lugar, dizendo ao espectador que se o assassino continua dentro do trem, não existe forma de escapar.

Com um desfecho bastante inventivo e história bem amarrada, Assassinato no Expresso Oriente é um dos romances mais interessantes de Agatha Christie e, não por acaso, sua versão cinematográfica acabou sendo uma das melhores já realizadas sob material assinado pela criadora de Hercule Poirot. É o que se ganha ao convidar um grande diretor para comandar uma produção igualmente grandiosa. Legítimo filme para curtir e tentar descobrir quem é o assassino, já que as pistas são todas colocadas ao alcance dos espectadores. Assista e seja você o detetive.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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