float(12) float(3) float(4)

Crítica


8

Leitores


3 votos 8

Onde Assistir

Sinopse

Max, um organizador de eventos por trinta anos, está prestes a realizar um grande casamento, e acredita que tudo irá correr como o planejado. A equipe da festa, que será em um imponente castelo do século XVII, já foi selecionada por ele em ocasiões anteriores: garçons, cozinheiros, fotógrafo e músicos. Mas o que não imaginava era que, em uma noite repleta de emoções, algumas coisas sairiam do controle.

Crítica

Do que trata, afinal, Assim é a Vida? Anunciado com toda a pompa e circunstância que um novo filme dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache – a mesma dupla responsável pelo irresistível Intocáveis (2011) e pelo subestimado Samba (2014) – merece, este é um daqueles longas sobre tudo e, ao mesmo tempo, o nada. Temos um flash, um episódio recortado dentre a vida de um grupo de pessoas – ou seriam somente personagens? – que, em comum, tem o fato de compartilharem, ao menos durante este intervalo de tempo, interesses em comum. E o que acontece a cada uma dessas figuras, seja em maior ou menos escala, não só diz respeito aos eventos em si, mas também à repercussão destes nas leituras conduzidas por aqueles que os observam, ou seja, os próprios espectadores. Assim, tem-se um conto absoluto, ainda que repleto de falhas inegáveis. Tal como se dá com qualquer um, independente de que lado da tela se esteja.

Max Angély (Jean-Pierre Bacri, de Além do Arco-Íris, 2013) está tentando ajudar um casal a se decidir pelo melhor na cerimônia de casamento que estão organizando. Flores, doces, arranjos, decorações, figurinos: tudo entra em discussão. Os noivos, como é de se esperar, querem não apenas o mais bonito e gostoso, mas, também, o mais barato. O organizador, por sua vez, só pode aceitar clientes pechinchando até certo ponto. A partir dali, é a qualidade do seu trabalho que estará em jogo. E, em casos assim, quando o limite é ultrapassado, é melhor abdicar do compromisso do que assumir algo fadado ao fracasso. Ou seria possível uma terceira via, intermediária entre as reduções da realidade e os exageros dos sonhos? Se aquele dia parecia ter começado com o pé esquerdo, os acontecimentos seguintes pouco fariam para mudá-lo de ideia de que esta seria uma jornada destinada ao desastre. Porém, talvez até o inferno se torne um lugar melhor com as companhias certas.

O episódio pela manhã é apenas uma nota de rodapé diante de tudo que há pela frente: um casamento em um legítimo castelo no interior da França, com direito à serviço aos moldes de Luiz XV, música ao vivo, fogos de artifício e até um desfecho tão engenhoso quanto impossível. Só que todas as surpresas programadas não serão páreo diante o inesperado, filho este que não reconhece mãe nem pai, apenas oportunidade. De que adianta Max ter refeito em sua cabeça milhares de vezes todos os passos certos a serem dados, se aquela que é seu braço direito não para de discutir com o cantor, se o fotógrafo não consegue ficar longe dos doces e salgados a serem servidos aos convidados, se o garçom, que também é seu cunhado, se descobre apaixonado pela noiva e uma intoxicação alimentar tratará de colocar boa parte de sua equipe fora de combate? E não pense que isso é tudo: estamos, acredite se quiser, apenas no começo.

Como todo bom filme francês, Assim é a Vida também é daqueles em que cada um dos seus personagens – ou seriam pessoas? – e os diálogos que se desenvolvem entre eles são mais importantes do que os eventos com os quais se veem envolvidos. Com personalidades bem construídas, é possível se importar com cada um dos seus pequenos dramas, pois, ainda que apresentados em coletivo, os vemos como indivíduos. Torcemos pela amante ultrajada disposta a uma última cartada para ter ao seu lado o homem que ama, assim como lamentamos os dois possíveis destinos oferecidos à moça de branco: o noivo egocêntrico ou o ex-colega sem noção? Os trabalhadores ilegais ali estão como um toque de realidade, como que a nos lembrar: as alegorias podem ser bonitas, mas só funcionam quando ligadas a uma realidade urgente e precisa. O mundo pode parecer uma festa sem fim, mas o amanhã não tarda a se manifestar como alerta de que novos caminhos – ou antigos trajetos – precisam ser percorridos.

Indicado ao Goya – o Oscar do cinema espanhol – como Melhor Filme Europeu, ao lado de títulos como o sueco The Square: A Arte da Discórdia (2017), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, e Toni Erdmann (2016), indicado ao Oscar como Melhor Filme Estrangeiro, Assim é a Vida é uma daquelas gemas que qualquer olhar mais apressado não será capaz de identificar todos os seus inegáveis méritos, por mais discretos e dissimulados que estes se apresentem. Muito, é claro, está nas mãos dos dois realizadores, hábeis em buscar o melhor em cada uma das situações que desenham. Mas de nada isso adiantaria se não fossem os ombros mais do que capazes de Bacri, se que demonstra um protagonista à altura do desafio que lhe é proposto. Porém, ainda que um ou outro acerto se destaque, o mais importante a ser reconhecido é que, independente deste feito ou daquele deslize, o que importa é a satisfação do cliente e a tranquilidade de se ir para casa com a certeza do dever cumprido. Pois um resultado assim não se alcança em cada detalhe e, sim, numa soma que se revela maior do que suas partes em separado.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *