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Sinopse

Um acidente quase fatal leva um amigo a ir parar em um hospital, enquanto que o resto de grupo viaja em suas férias anuais. Os segredos e a cobiça de cada um dos envolvidos ameaça romper o grupo de amigos no meio.

Crítica

Ludo (Jean Dujardin) é puro ímpeto. Bastam as três cenas iniciais de Até a Eternidade para constatarmos isso. Durante a festa, beija a garota de um conhecido; cumprimenta o segurança do lugar como se fossem velhos amigos; deixa a casa noturna em uma moto. Convencidos e invejosos de tamanha espontaneidade, acompanhamos Ludo se deslocar pelos bulevares de Paris. A bela cena – quase uma provocação – termina em um cruzamento.

É preciso um acidente para que a realidade, antes mera possibilidade, tome forma. Diante dela, a turma de amigos da qual Ludo faz parte precisa decidir como agir. Reunidos em torno do companheiro hospitalizado, decidem não alterar a rota das férias. O ritual anual de passar o verão na casa de praia de Max (François Cluzet), o bem-sucedido patriarca do grupo, será mantido. Para lá, então, rumam Marie (Marion Cotillard), Vincent (Benoît Magimel), Éric (Gilles Lellouche), Véronique (Valérie Bonneton) e Antoine (Laurent Lafitte). As alcunhas passam da ambientalista ao ator que não desponta, porém são menos relevantes do que os traços que os unem: a insegurança e a soberba.

Por esse panorama, o diretor Guillaume Canet retoma um aspecto presente em Mon idole (2002), seu primeiro longa-metragem, ao delatar a hipocrisia das relações humanas sob um drama pontuado por momentos cômicos. Para a tarefa, entretanto, não contribui o roteiro escrito pelo próprio Canet. O número de dramas pessoais exige muito da narrativa. Fracionada ao máximo, esta não consegue dar uniformidade às histórias mesmo com o uso ilimitado de diálogos. Não seria de surpreender se depois de um bom tempo o espectador se perguntasse por Ludo. Menções ao personagem que abre o filme e que ao final articulará as pontas do enredo a fim de dar-lhes sentido reaparecem aleatoriamente. Infelizmente, mais pela necessidade do que para a evolução da história.

A culpa age de forma imprevisível. Por isso, Até a Eternidade procura ressaltar a importância do grupo frente aos dramas individuais. O indivíduo é importante, mas quando sucumbe encontrará suporte e alívio nos outros, naqueles que esquecerão de si por um momento para socorrer o amigo. Neste sentido, o filme consegue apresentar o panorama atual e encadeá-lo com uma lição de moral sem demagogia. Filmado acertadamente no registro mais real possível, o diretor exagera apenas nos últimos momentos do terceiro ato. Sem necessidade, os desfechos das histórias particulares tornam-se emotivos. A trilha sonora implora pelas lágrimas do espectador a ponto de arriscar infantilizar parte do realismo psicológico construído. Mas o filme resiste.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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