Crítica
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Sinopse
Sissy Hankshaw é uma mulher de 29 anos que tem algo de diferente: ela tem polegares enormes, que a ajudaram desde a juventude a viajar pelos Estados Unidos pegando carona. Ela decide ir para Nova York tentar a carreira de modelo e a sua agente, Condessa, a manda para sua fazenda no Orego, para uma campanha de produtos de higiene íntima. Lá, ela acaba se aproximando de Bonanza Jellybean e entra em uma rebelião junto com as vaqueiras locais para transformar o lugar em um santuário ecológico.
Crítica
Chega a surpreender o quão decepcionante é o resultado final de Até as Vaqueiras Ficam Tristes, longa baseado na obra de Tom Robbins lançado em 1993. As expectativas eram as melhores possíveis. O filme foi exibido no Festival de Veneza, tinha um elenco cheio de nomes interessantes como Uma Thurman, Keanu Reeves, Sean Young, Crispin Glover e John Hurt e ainda era comandado por Gus Van Sant, diretor em ascensão na época, recém tendo comandado o elogiado Garotos de Programa (1991). Algo, no entanto, saiu muito errado e o filme simplesmente não dá liga. São diversos personagens que passeiam pela tela sem muita função, uma protagonista mal desenhada e interpretada com pouca inspiração e uma narrativa totalmente solta, à deriva.
Gus Van Sant é quem assina o roteiro desta produção, tendo baseado seu texto no livro homônimo. Na trama, Sissy Hankshaw (Thurman) nasceu com uma anomalia que lhe conferia dedos opositores avantajados. Ela nunca os viu como um defeito, mas como uma condição diferente. Aproveitando este predicado, Sissy passou a viver pedindo caronas, sendo infalível com seus dedões em riste. Usando deste recurso, viajou a Nova York e virou modelo – trabalhando para a colorida Condessa (Hurt). Lá ela conhece um pretendente, o asmático Julian Gitche (Reeves), além de uma galeria de figuras curiosas, como o amalucado Howard (Glover). Viajando para o interior para gravar um comercial, Sissy conhece a vaqueira Bonanza Jellybean (Rain Phoenix), uma rebelde sem causa que tomará de assalto o rancho da Condessa e, por tabela, o coração da jovem Sissy.
É verdade que existem diversas temáticas interessantes que Gus Van Sant tenta abarcar nos 90 minutos de duração do filme. A mais lembrada é a homossexualidade de sua protagonista, que vai se descobrindo com o decorrer da trama. Parte road movie, parte drama de formação, Até as Vaqueiras Ficam Tristes é cheio de boas intenções e teria tudo para cativar o espectador com seu senso de humor esquisito e personagens desajustados. Mas o diretor não consegue fazer funcionar o todo. De predicados sobram a encarnação exagerada, mas divertida, de John Hurt como a Condessa e a trilha sonora sob medida de k.d. lang, que consegue ser tão interessante que sempre ganhou destaque nos cartazes do filme.
De resto, temos em Uma Thurman uma protagonista perdida e nada convincente com suas próteses de borracha como dedos opositores. Os dedões são tão mal concebidos que sempre nos fazem lembrar de que estamos vendo um filme, usurpando a experiência imersiva que o espectador deveria poder usufruir. Não bastasse isso, Thurman deixa transparecer sua inexperiência, entregando uma atuação monocórdia e frágil. Com isso, a atriz foi indicada ao Framboesa de Ouro naquele ano por sua performance. Sean Young lhe fez companhia nas lembranças deste prêmio pouco cobiçado, como Pior Atriz Coadjuvante. Ela mal aparece no filme, assim como Keanu Reeves, que tem umas duas cenas em todo o longa-metragem.
Com poucos momentos inspirados e muitas cenas soltas e nada envolventes, Até as Vaqueiras Ficam Tristes foi a primeira (mas não a única) grande decepção da carreira de Gus Van Sant. Ele viria a dirigir o esquecível remake de Psicose (1998), que assim como esta produção de 1993 teve a melhor das intenções na hora da execução, mas um resultado final a léguas de distância do esperado. Com isso, é possível perceber o quanto um diretor talentoso e com ótimos títulos no currículo pode errar o alvo. Mais de uma vez.
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