Sinopse
Durante sua viagem pelo Oceano Pacífico, um navegador experiente tem seu veleiro parcialmente destruído após a colisão com um contêiner. Uma vez remendado o caso, ele terá a árdua tarefa de resistir às tormentas e à hostilidade da fauna marinha, munido apenas de mapas e de seu conhecimento das correntes marítimas.
Crítica
Curioso que dois ótimos filmes lançados em 2013 tenham uma premissa parecida, mas uma execução totalmente diferente e um destino bastante diverso no que tange a premiações. Até o Fim e Gravidade poderiam ser produções irmãs. No primeiro, Robert Redford é um marinheiro que precisa salvar seu pescoço após seu barco ficar inutilizável, passando por tempestades e toda sorte de infortúnios, até ficar completamente só em alto mar. Em Gravidade, o gênero do protagonista muda, sai o mar, entra o espaço, e a situação de deriva é o mesmo. Em ambos os casos existe uma lacuna na vida do personagem central, um arrependimento ou trauma que não os deixa viver em paz. A briga pela sobrevivência, no entanto, acaba transformando-os. A execução das duas histórias é bastante diferente e a resposta da Academia foi entusiasmada em relação à Gravidade (com suas dez indicações) e bastante reticente ao belo drama Até o Fim, lembrado apenas como Melhor Edição de Som. Uma lástima, visto que o longa-metragem dirigido por J.C. Chandor poderia muito bem emplacar outras categorias no Oscar.
O roteiro de Até o Fim é assinado pelo próprio cineasta e conta com apenas um nome no elenco: Robert Redford. É ele quem passa por todos os percalços da trama, um homem sem nome e com pouquíssimas falas que briga pela sobrevivência em um momento no qual todas as probabilidades estão contra ele. No começo do filme, ouvimos este homem falando em arrependimentos, sobre pontos em seu passado que ele gostaria de apagar e que, neste momento, quando tudo está perdido, não são mais possíveis. A trama, então, volta oito dias para nos mostrar pelo que passou aquele sujeito. Depois de ter seu barco atingido por um contêiner solto no mar, o marinheiro tenta consertar sua embarcação, mas se vê com cada vez menos armas para lutar.
Diferente de Náufrago (2000), longa-metragem em que Tom Hanks fica sozinho em uma ilha e tem na “companhia” da bola de vôlei Wilson uma forma de travar contato com alguém, Robert Redford em Até o Fim não utiliza de nenhum subterfúgio. Como não existe ninguém para conversar, seu personagem fica calado durante 97% do filme. Fora o monólogo inicial (que depois descobrimos ser uma espécie de mensagem na garrafa) e uma tentativa de comunicação com a costa, Redford permanece quieto durante boa parte do filme. E a ausência de diálogos está longe de ser um problema. Qualquer consternação, ideia ou sentimento que passa pela cabeça do protagonista nos são transmitidos de forma completamente inteligível através das expressões de Redford. Ausência bastante sentida na categoria Melhor Ator no Oscar 2014, o eterno Sundance Kid se desvencilha de qualquer bengala na construção de um personagem que tem um objetivo muito claro: manter-se vivo. Infelizmente, a sorte não parece estar do lado do sujeito, que passa por maus bocados em pleno alto mar.
Não deixa de ser curioso observar que o filme que sucede o ótimo e boquirroto Margin Call: O Dia Antes do Fim (2011) na filmografia do diretor J.C. Chandor seja tão diferente, tão intimista. Se no primeiro, um elenco cheio de rostos conhecidos nos trazia informações complicadas sobre o caos no sistema financeiro norte-americano, em Até o Fim, Robert Redford é uma força solitária em um mar bravio, tendo de esboçar poucos verbos para nos transmitir sua angústia. Ponto para o cineasta, que prova não ser um diretor de uma nota só, fazendo dois belos filmes consecutivos.
O primor técnico do filme chama a atenção. Na falta de diálogos, os sons que cercam o protagonista ficam bastante perceptíveis. Podemos notar cada ruído dentro daquela embarcação, cada relâmpago da tempestade, cada reparo que o protagonista tenta empreender no bote. Isso sem falar nos efeitos visuais, que se não são tão flagrantes quanto Gravidade, também ajudam a criar a atmosfera de desespero por que passa o personagem de Robert Redford. Em dado momento, é verdade, os desafios por que passa o protagonista começam a soar exagerados, como se uma verdadeira maré de azar tivesse chegado e nunca ido embora. Isso não chega a atrapalhar, pela forma orgânica que os desafios são colocados.
Com seus precisos 106 minutos de duração, Até o Fim nos convida para uma viagem angustiante junto de um homem que tenta de todas as forças lutar pela sua sobrevivência. Assim como o outro oscarizável Clube de Compras Dallas (2013), no qual o protagonista encontra sentido na vida quando se vê prestes a morrer, Robert Redford nos mostra esta mudança de peito aberto e sem bengalas. Numa atuação que foi lembrada em diversas premiações e, infelizmente, esquecida pela Academia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 8 |
Robledo Milani | 8 |
Wallace Andrioli | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
Chico Fireman | 6 |
Francisco Carbone | 9 |
MÉDIA | 7.8 |
o filme é fantástico e realmente pouco reconhecido. É muito legal o fato do filme ter quase nenhuma fala, e, ainda assim consegue-se entender totalmente as emoções do personagem. Eu gosto muito da sequência de fatos e realidade impressa nas situações que rolam, uma atrás da outra, como por exemplo, spoileeer, a passagem dos navios... é muito real e decepcionante ao mesmo tempo. Adoro.
O filme é bem interessante, mas ano estava realmente forte em atuações masculinas e realmente ficou "sem espaço" para Redford. Joaquin Phoenix (Ela), Oscar Issac (Inside Llewyn Davis) e Michael B. Jordan (Fruitvale Station) foram outras faltas muito sentidas.