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Sinopse

O que acontece quando o muro que separa um pequeno país chamado Sbórnia do resto do mundo cai acidentalmente? Tranquilos e parados no tempo, o povo da Sbórnia é agora atingido pelos ventos da modernidade vindos da cidade grande. Os conflitos causados pelo violento choque cultural bagunçam a vida dos protagonistas Kraunus e Pletskaya, dois conhecidos músicos sbornianos. Como consequência da interferência continental nos arraigados hábitos da Sbórnia, alguns nativos fazem acordar velhas crenças adormecidas e se põem a resgatar sua identidade como sbornianos.

Crítica

Duas são as atrações para os turistas desavisados que visitam Porto Alegre no verão: o pior calor do mundo e o espetáculo Tangos & Tragédias. Criado pelos gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, em 1984, o musical enraizou-se de forma definitiva na cultura e no itinerário do Estado.

A história trata da epopeia de Kraunus e Plestkaya, músicos refugiados da fictícia Sbórnia, pequeno país ligado ao continente por um istmo. Sem deixar de ser uma bem-vinda homenagem a um ícone cultural do Rio Grande do Sul, a animação de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. tem como proposta recriar a genealogia dos acontecimentos anteriores ao encenado anualmente, conservando a essência artística.

O qualificado trabalho de direção de arte de Eloar Guazzelli e Pilar Prado foi fundamental para que Até que a Sbórnia nos Separe sincronizasse habilmente o humor dos personagens originais com a transposição em tela. O ritmo acelerado e o estilo espalhafatoso das ações são escolhas acertadas para o andamento dos traços. O desenho não tem limites, assim como ilimitada é a criatividade dos irrepreensíveis Kraunus e Plestkaya.

Quando o primitivo jogo de machado-bola, esporte preferido na península, derruba desastrosamente a muralha que isola a Sbórnia do restante do país, nasce, então, a curiosidade por desbravar a terra destes habitantes peculiares. A narrativa se estrutura a partir desse acontecimento, no primeiro ato, e ruma para a construção de dois núcleos. Da parte dos estrangeiros, a Sbórnia lhes aparece como lucrativa fonte de berzwin, a exótica bebida local. Em contrapartida, o foco os nativos recai sobre a paixão de Plestkaya por uma jovem do país. O relacionamento os coloca em conflito com a família da garota, que a havia prometido para outro, em troca de dinheiro e status.

Até que a Sbórnia nos Separe caminha bem durante seu desenvolvimento, quando os personagens estão frescos para o espectador e o material adicionado, como costumes e atividades, compõe um painel das esquisitices do povo. O problema se encontra, porém, na transição para o desfecho. No momento em que a relação de Plestkaya vira uma aventura, o filme perde força. Os personagens estagnam. Sem novidades, o fim é questão de tempo – mas em excesso.

Em tempos em que a comédia é o grande filão do cinema nacional, tanto a animação de Guerra e Torresan, quanto a peça de Hique e Nico, demonstram como a comicidade pode advir da observação somada à criatividade. O escracho, a ofensa e o ridículo não são caminhos para o humor, ainda que alguns títulos insistam na fórmula. Saber se aproveitar de uma cultura é uma forma de astúcia; transformá-la em bom gosto, inteligência.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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