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Crítica


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Sinopse

Depois de perder a herança da família em Las Vegas, Tino se vira como pode para ganhar uns trocados. Porém, sua sorte muda uma vez mais quando é atropelado pelo herdeiro do homem mais rico do Brasil e descobre que sua filha Teté e o rapaz se apaixonaram.

Crítica

No início de Até que a Sorte nos Separe 2 (2013), os realizadores precisaram fazer uso de um recurso forçado para criar no universo da ficção uma justificativa que explicasse ao público porque a esposa de Tino (Leandro Hassum) estava sendo interpretada por Camila Morgado, e não mais por Danielle Winits, como fora em Até que a Sorte nos Separe (2012). Bom, o mesmo exagero se dá no começo de Até que a Sorte nos Separe 3, mas dessa vez é para explicar o emagrecimento do personagem principal (o intérprete fez uma cirurgia no estômago, que o fez perder dezenas de quilos). Como se percebe, portanto, o tom de absurdo segue presente na série, o que deixa claro que somente com muita boa vontade o espectador irá encontrar algo de fato interessante em cena. A diferença, no entanto, é que ao invés de esticar uma única piada por todo o filme (como nos dois longas anteriores), dessa vez se tenta, ao menos, elaborar uma história. E isso tem consequências tanto boas quanto ruins.

Assumindo-se de vez como o maior representante do cinema-televisivo brasileiro (toda a sequência inicial se passa em um programa de auditório de um conhecido apresentador), Leandro Hassum deixa de lado qualquer cerimônia para mostrar que seu humor escrachado e apelativo segue presente, mesmo com tantos quilos a menos. Ele é aquele tipo de humorista que acredita mais no grito do que na sutileza, no escândalo do que na inteligência. Paulo Cursino, roteirista do três longas, se junta agora a um novo parceiro, Leo Luz, e os dois deixam de lado a fórmula básica já explorada à exaustão – cara pobre e sem noção fica rico da noite pro dia (primeiro ganhando na loteria, depois recebendo uma herança) e coloca tudo a perder por não saber lidar com o dinheiro – e aposta em uma trama um pouquinho mais elaborada, ainda que não fuja muito do esperado.

Tino, Jane (Morgado) e os filhos estão mais uma vez pobres, se virando como podem. Tudo muda quando ele é atropelado por um playboy, filho do homem mais rico do Brasil. O garoto não só banca sua recuperação no hospital, como também se apaixona por sua primogênita (Julia Dalavia). Acontece que, desempregado, Tino acaba indo trabalhar com o sogro da filha, onde encontra o antigo vizinho, Amauri (Kiko Mascarenhas). Quando faz uma trapalhada fenomenal que coloca em risco o futuro da empresa e a saúde financeira das duas famílias, ele terá que descobrir como sair dessa e ainda salvar a felicidade dos envolvidos, parentes ou não. Ou seja, a mudança mais imediata é que deixa-se de ser tão centrado no próprio ego do protagonista, expande-se a trama aos demais personagens, e se oferece ainda uma responsabilidade maior sobre o destino dele e de seus próximos, mostrando que o individualismo visto anteriormente talvez tenha sido deixado de lado.

Se algumas destas iniciativas são positivas, nem tudo são flores em Até que a Sorte nos Separe 3. Até porque, como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio, e não adianta apenas fazer diferente, é preciso ser melhor. O que não é bem o caso. Roberto Santucci – mais uma vez acompanhado pelo co-diretor Marcelo Antunez, que já esteve ao seu lado em O Candidato Honesto (2014) e em Qualquer Gato Vira-Lata 2 (2015) – mostra novamente falta de sensibilidade ao abordar temas que poderiam render muito mais, como a questão política (a sequência alusiva à Presidenta Dilma é constrangedora, independente da posição partidária do espectador) ou homossexual (a impressão é que nem mesmo Ailton Graça deve saber como agir, pois se num momento ele se entrega como frequentador da boate gay carioca Le Boy, no seguinte está se contorcendo para dar em cima da perua vivida por Emanuelle Araújo). E entre tantas indecisões e presenças inadequadas (Bruno Gissoni? Silvia Pfeiffer? Daniel Filho?), resta somente a esperança de que este seja, enfim, o capítulo final desta piada sem graça, ofensiva e preconceituosa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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