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Sinopse

Em 2008, ataques terroristas ocorreram na cidade de Mumbai, na Índia. Foram três dias de completo caos, nos quais a cidade foi tomada por terroristas e devastada por incêndios, tiros e explosões de granadas.

Crítica

Em 2008, um numeroso grupo de terroristas organizaram um ataque em diversas frentes – ou seja, em mais de um lugar ao mesmo tempo – na cidade de Bombaim, Índia. Um dos destinos mais afetados foi um estabelecimento muito bem localizado, frequentado pela mais alta elite internacional. Talvez esse seja um dos motivos para tanta atenção ao episódio, que volta agora às telas em formato ficcional em Atentado ao Hotel Taj Mahal. O diretor e roteirista Anthony Maras, em sua primeira experiência no formato, havia abordado temática similar no curta The Palace (2011) – sobre refugiados que precisam escapar do avanço do exército turco no Chipre se escondendo em um palácio abandonado – e agora amplia o escopo de sua atuação, resvalando, por consequência, na falta de tato ao lidar com dimensões tão além das quais estava acostumado.

Há em Atentado ao Hotel Taj Mahal um esforço evidente para tornar tudo ainda maior do que de fato fora. Certo que o incidente foi trágico o bastante para merecer uma atenção mais cuidadosa, mas o esforço do cineasta em escolher duas figuras completamente unidimensionais como protagonistas demonstra de antemão que não está interessado em sutilezas. Ambos, aliás, são tão opostos quanto complementares. Arjun (Dev Patel, que apesar de britânico se tornou o ‘indiano’ favorito de Hollywood) é o garçom que não tem nem sapatos para trabalhar, mas está disposto a se sacrificar em nome dos seus hóspedes. David (Armie Hammer, em um retrocesso se comparado com o seu desempenho em Me Chame Pelo Seu Nome, 2017, novamente voltando a se contentar em ser apenas uma estampa apropriada), por sua vez, é o milionário viajado que trata cada novo lugar com a mesma pasteurização planejada, evitando contato com os locais e buscando ao máximo o conforto que, provavelmente, já desfruta em casa.

Nenhum dos dois, no entanto, se apresenta de forma antipática ao espectador. Eles possuem seus próprios problemas, e no âmago deles estão suas relações familiares. Um está com a esposa prestes a dar a luz, e por isso não pode se descuidar de sua condição como provedor. O segundo se tornou pai há pouco tempo, e quando as coisas se complicam para seu lado, será nelas – na esposa e na criança – que terá que pensar em primeiro lugar. Os dois são pontas de um mesmo problema, que estará se desenrolando exatamente entre eles. É quando os terroristas invadem o saguão do hotel que as coisas, de fato, começam a acontecer. Felizmente, para efeitos dramáticos, não chega a demorar muito. Tudo que vem antes é quase um prólogo, não mais do que uma apresentação de personagens. Sem muitas informações, nem são oferecidos elementos que possam situar melhor a audiência a respeito do momento histórico e social no qual a ação se passa. O imediato é que acaba valendo, acima de qualquer outra coisa.

Em nome desse dinamismo, o filme acaba se valendo mais como um thriller genérico de ação, fazendo pouco caso da relevância merecida – e que terminou por motivar, inclusive, sua realização. Dev Patel e Armie Hammer até soa comprometidos, mas pouco lhes é oferecido: a partir do momento em que o hotel é tomado pelos invasores, não há mais o que se fazer. Eles rastejam de um lado para o outro, e os mais corajosos – ou seriam inconsequentes? – rumam apenas para um desfecho previsível diante de uma situação como essa. Não há heróis envolvidos, sejam ficcionais ou não. São pessoas desprivilegiadas, vítimas de lavagens cerebrais com motivações religiosas, que acabam envolvidas em um ato de extrema loucura. Possuem suas razões? Difícil afirmar que não. O método que escolhem para serem ouvidas, no entanto, revela o erro que assumem. Uma reflexão a respeito destes contrastes cairia bem. Mas ninguém aqui parece interessado nestas possibilidades.

Outros nomes que poderiam despertar interesse, como Jason Isaacs e Nazanin Boniadi (Homeland, 2013-2014), acabam invariavelmente desperdiçados, sejam através de atitudes desprovidas de razão ou posturas irrelevantes, pouco conseguindo ir além do estereótipo ao qual foram convidados a defender. No mais, Atentado ao Hotel Taj Mahal pode, é claro, servir como lembrete a um episódio de alto potencial e consequências desastrosas. No entanto, a determinação dos realizadores em “enxergar o copo meio cheio”, inclusive apontando o sucesso na recuperação dos envolvidos nos anos posteriores, além de atos desmedidos durante a ocupação, que resultaram em nada prático, é suficiente para esvaziar as possibilidades de algo mais duradouro e consistente. Há boas intenções por todos os lados, isso é fato. Mas só com elas, muito pouco pode ser feito.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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