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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

A estudante Haruka volta a Tóquio após um programa de intercâmbio nos Estados Unidos. Ela está com as duas pernas quebradas, devido a um acidente de carro. Já em seu país, é recebida pelo irmão, Koichi, que insiste em ficar registrando o dia a dia dela na cadeira de rodas. Para a surpresa deles, fatos estranhos começam a acontecer no apartamento e ele decide então mudar o foco de suas lentes para tentar descobrir o que estaria causando os fenômenos.

Crítica

A franquia Atividade Paranormal começou muito bem em 2007 com um filme que, sendo uma produção caseira de estilo found footage, contava com uma falta de técnica linguística e narrativa somadas a atores essencialmente desconhecidos, fatores que normalmente seriam vistos como deméritos e que acabaram sendo, na verdade, o principal acerto para potencializar os sustos do filme: a naturalidade cotidiana. A câmera era deixada de lado e virada para a parede, às vezes ligada em momentos aleatórios do dia-a-dia do casal e seu uso era justificado desde o início pelos protagonistas, que já começam o longa em meio aos acontecimentos estranhos que se sucedem na casa. Sua continuação manteve a qualidade e ainda reinventou sua abordagem linguística ainda dentro do mesmo padrão, e mesmo o terceiro filme, apesar de uma trama obtusa e que até mesmo é contraditória em relação aos episódios anteriores, possuía sustos criativos e elaborados. Ao que chegamos nesta versão japonesa de um filme de terror americano (um estranha ironia), que repete a estrutura de seus originais sem o mesmo carisma, sem a inteligente abordagem descompromissada e, consequentemente, sem naturalidade alguma. Muito pelo contrário, o que realmente assusta no projeto é que alguém consiga, de fato, consiga se assustar assistindo-o.

Dois jovens adultos, uma garota e um garoto (desta vez não um casal, mas dois irmãos), moram em uma casa onde estranhos eventos começam a acontecer. Decididos a descobrir o que se passa ali, ao invés de saírem correndo, eles começam a gravar seus respectivos quartos durante a noite, enquanto dormem. Não que faça diferença saber o que se passa na casa, já que parecem não reagir a nenhuma das descobertas feitas através das filmagens e suas interações com a entidade ali presente é praticamente zero. Todas as noites eles voltam a dormir tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Fora isso, as múltiplas câmeras usadas pelo protagonista – que, apesar de ser um mero estudante, possui um equipamento completo de uma pequena produtora em casa – parecem sempre estarem ligadas no horário certo e apontadas para lugar mais apropriado. Fica claro durante a projeção, inclusive, que aparentemente uma das obsessões do jovem é filmar seus jantares e discussões com a irmã, além de demonstrar uma alarmante psicopatia quando prefere filmar uma amiga que passa mal em sua sala de estar ao invés de ajudá-la. Sendo assim, os personagens humanos são muito mais assustadores que aqueles ditos “paranormais”. Pena que este não era o objetivo do filme.

Mas não se pode dizer que Atividade Paranormal: Tóquio não tenta reinventar a série, apostando em um exercício metalinguístico interessante ao exibir relógios no canto da tela sempre que se foca nas imagens das câmeras noturnas. E se digo metalinguístico é porque no resto do tempo esses relógios não estão lá! Claro que seus realizadores tinham um bom motivo para querer que soubéssemos as horas exatas dos ataques, afinal há um padrão evidente nos números 02:45, 03:39, 01:27, etc. Pensando melhor, são bem aleatórios, não? E o que dizer do peixinho dourado? Talvez a produção, com medo que os atores, a ambientação e a língua falada não estabelecessem muito bem que o filme se passa no Japão, decidiram incluir em várias tomadas um peixinho dourado, que por sua insistência em ser enquadrado pela câmera, acaba gerando comoção no espectador quando seu destino é selado de forma trágica dentro da trama. O que nos leva a pergunta que realmente deve ser feita: precisava o peixe, de fato, morrer?

Uma questão tola gerada por um filme tolo, que até o seu último minuto não cansa de se embaraçar, incluindo um epílogo em que uma câmera de segurança flagra uma das falas mais risíveis do longa: “você deve reconhecer o corpo”, diz um médico que duvida da inteligência alheia ao proferir tal frase a um homem que está parado em frente a um cadáver deitado sobre uma mesa de autópsia. E o gancho final é apenas um plágio muito mais cômico do que assustador da versão original, que, ao invés de me deixar curioso sobre um próximo filme, apenas me atrapalhou enquanto, em prantos, me perguntava: “onde compro um peixinho dourado?!”.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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