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Crítica


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Sinopse

Uma colagem de quase cinco mil cortes com trechos de 143 filmes.

Crítica

Conhecido por explorar diversos estilos narrativos ao longo de sua carreira, muitas vezes mesclando a ficção ao documentário, o cineasta Marcelo Masagão retorna ao modelo do filme-colagem, utilizado em seu primeiro e mais célebre trabalho, Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos (1999). O novo projeto se apresenta como uma união entre livro O Mal-Estar na Civilização, de Sigmund Freud, e trechos de 143 filmes realizados em diferentes épocas e lugares do mundo.

Em Ato, Atalho e Vento, Masagão não trabalha com uma temática definida com rigor, tendo o cinema, de uma forma bastante livre, como seu objeto de observação. A busca do cineasta é pelas relações afetivas e sensoriais geradas pelos fragmentos dos filmes apresentados e, para potencializá-las, divide o longa em blocos subtemáticos. Assim, temos conjuntos de filmes distintos, muitas vezes sem uma ligação inicial aparente entre si, que se unem através de uma associação de tópicos pré-estabelecidos: pessoas dormindo, correndo, olhares femininos, etc. A estrutura destes segmentos varia, mas em geral eles possuem uma ou duas cenas-base sobre as quais outros trechos mais curtos são costurados. As referências são das mais variadas, indo de Joel e Ethan Coen a Takeshi Kitano, de Akira Kurosawa a Woody Allen, mas sempre priorizando o cinema mais autoral e menos mainstream. Talvez a única referência próxima da produção comercial seja o letreiro de abertura apresentado ao estilo Star Wars.

A quase ausência de diálogos nos trechos selecionados reforça a proposta imagética de Masagão, complementada por uma competente trilha sonora que visa intensificar e delinear as emoções que estão sendo transmitidas na tela. Enquanto isso, a ligação com a obra de Freud surge de um modo mais vago, podendo ser apontada na representação da sexualidade em diversos blocos do filme, algo que encontra as ideias do psicanalista. O poder, o fascínio e os efeitos do sexo aparecem tanto de forma explícita - nos segmentos sobre a descoberta da libido por jovens garotos e das taras sexuais adultas – ou de forma mais subjetiva, como nos segmentos sobre a dança ou sobre as mãos femininas. O trabalho cuidadoso de edição, aliado aos elementos já citados, faz com que o longa tenha um ritmo equilibrado e bastante homogêneo. No entanto, a ausência de uma linha narrativa clara, como citado anteriormente, acaba funcionando como uma via de mão dupla. Se por um lado abre a possibilidade para a diversidade de interpretações e reações a cada um dos segmentos, também gera um sentimento de aleatoriedade, como se não houvesse um real objetivo para esta viagem cinematográfica. Com isso, o espectador não se sente completamente guiado por um propósito, como ocorria em Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos, por exemplo.

O inevitável exercício de cinefilia que surge durante o longa também se mostra como uma potencial armadilha, pois a ânsia de adivinhar/lembrar os filmes utilizados na montagem pode ser extremamente divertida, mas também pode atrapalhar parte da experiência. Poucas coisas conseguem desconcentrar mais um fã de cinema do que não se lembrar do nome de um filme já assistido. É um risco que Masagão aceita correr, resultando em um trabalho que propicia momentos de satisfação aos amantes da sétima arte, mas que não atinge toda a força poética que poderia ter.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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