Ausência
Crítica
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Sinopse
Serginho é um menino de 14 anos muito mais maduro que os outros jovens de sua idade. Ele cuida de seu irmão mais novo, Wiliam, e de sua mãe ausente e alcoolatra, Luzia. Trabalhando em uma barraca de feira com seu tio Lazinho, ele só se diverte ao lado de Mudinho, um amigo com quem divide sua intimidade. O único adulto com quem Serginho tem um relacionamento de afeto é o professor Ney, que o ajuda com o dever de casa durante à noite. A confusão entre o despertar de sua sexualidade e a busca de uma figura paterna faz Serginho perceber que ele está sozinho no mundo.
Crítica
Após algumas experiências em documentários – no cinema e na televisão – o diretor Chico Teixeira estreou na tela grande causando impacto com o drama A Casa de Alice (2007). Esta interessante história familiar sobre uma mulher que – literalmente – carrega nas costas o marido infiel, a mão idosa e os filhos irresponsáveis foi premiada no Brasil e no exterior, indicando que teríamos ali um realizador de peso, destinado a entregar ao seu público grandes trabalhos no futuro. Essa espera se alongou por quase uma década, mas o cineasta finalmente realizou seu segundo longa: Ausência. E o melhor que ele pode apontar é a confirmação daquela promessa feita há tantos anos.
O cinema de Chico Teixeira segue voltado para uma classe suburbana da população, com seus problemas comuns do dia a dia, mas com impactos que se alongam por toda uma vida. O foco de Ausência, no entanto, deixa de lado os adultos – apesar destes ainda estarem por ali, mas nas periferias – e se concentra no jovem Serginho (Matheus Fagundes, que antes havia feito uma pequena participação em 2 Coelhos, 2012). Ele não é mais uma criança, apesar de estar longe de poder ser considerado um adulto – ainda que suas responsabilidades sejam bastantes próximas dessa condição. Abandonado pelo pai – o filme começa com esse retirando suas coisas da casa, inclusive a televisão, deixando os dois filhos e a ex-esposa com nada – o garoto precisa trabalhar com o tio na feira, e com o dinheiro que ganha ali cuidar do irmão caçula e ainda ajudar a mãe (Gilda Nomacce, de Gata Velha Ainda Mia, 2014).
Os interesses do menino são escassos, e muito se deve à sua rotina atribulada. A narrativa, no entanto, constrói esse universo sem pressa. Em casa as coisas tentam manter uma normalidade que é interrompida quando menos se espera pelos excessos maternos com a bebida – logo se percebe que a mulher é alcóolatra, condição que irá selar o destino deles. Como amigos da mesma faixa etária, há um outro rapaz que vive na rua – e é surdo-mudo, dificultando a conexão entre eles – e uma jovem oriental, por quem se descobre levemente atraído. O único porto seguro acaba sendo o professor Ney (Irandhir Santos, contido), que abre sua porta para conversar, aproveitá-lo em pequenos serviços (como trazer as compras do mercado) e orientá-lo em aulas particulares. Mas, mais do que isso, é a única figura adulta e madura com quem consegue estabelecer algum tipo de relação de confiança. E quando essa se quebra, tudo parece querer vir abaixo.
Teixeira não quer impor verdades sobre seus personagens. Por todos nutre um real carinho e interesse, e mesmo as atitudes mais condenáveis deles são cobertas por motivos que as justifiquem. Serginho está sozinho no mundo, e Ausência deixa claro os esforços com os quais um jovem precisa se comprometer para encontrar seu espaço. A descoberta da sexualidade, a desconstrução dos laços familiares e a formação de novos núcleos de identidade são temas abordados com delicadeza pelo realizador, que faz uso de um elenco coeso e preocupado acima de tudo com a história, e não em momentos de brilho próprio. São todos engrenagens de um cenário maior, que é a jornada do protagonista e a busca deste por um caminho próprio a ser seguido. Simples, porém sem ser nunca simplista, é o seu maior mérito.
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