Sinopse
Crítica
Engana-se redondamente quem acredita nos bastidores cinematográficos como instâncias repletas de ostentações, celebridades e vida fácil. Pouco glamour e muita ralação condizem mais com as realidades do setor, permeadas por dificuldades. Até num filme com bom aporte financeiro são inúmeras as engrenagens a funcionar adequadamente para que tudo acabe em projeção e, talvez, aplausos. B.O. é uma grande brincadeira com as realizações de baixo orçamento, esse tipo de produção que nasce, essencialmente, da vontade de uma turma disposta a sacrifícios para fazer valer sua imensa paixão pela Sétima Arte. Pouca coisa passa incólume, nesse sentido, à veia satírica do roteiro que empilha eventos corriqueiros, tais como a explanação de uma boa ideia a profissionais interessados sobremaneira no potencial de lucratividade ou mesmo as precárias condições de trabalho impostas aos técnicos e artistas quando o dinheiro não necessariamente é abundante. O charme da trama é justamente o compromisso estrito com a piada, jocosidade então estendida por vários segmentos.
Obrigados a abandonar a ideia de filmar a comédia de um homem que se finge de morto para despistar a namorada, Pedro (Daniel Belmonte) e Fabrício (André Pelegrino) se deparam com as contas a pagar. O diálogo com os pais de um deles é sintomático, um colóquio cheio de lições acerca da estabilidade financeira como um dos pilares da vida adulta. Ali, por meio da câmera inquieta, se desenha um cenário recorrente nesse meio tão disputado quanto o cinematográfico – e que tende a ficar ainda mais restrito com as atuais politicas de austeridade federal relativas às famigeradas leis de incentivo à cultura. Mas, B.O. não está verdadeiramente preocupado com a crítica social, algo evidente no despojamento dos diálogos e na deliberada frivolidade do texto. Tudo em cena conspira para a configuração de uma comédia leve com toques de observação pertinentes, tais como as imposições mercadológicas, vide a celebridade egocêntrica da web transformada em estrela.
George Sauma, como Amaral, o produtor bico-doce que claramente sobrevive de atividades ilícitas (apenas os protagonistas não percebem isso) é o grande destaque do elenco. Especialmente na primeira metade do filme ele ameaça eclipsar os demais personagens com tiradas e trejeitos espirituosos. Ele é o típico 171 boa praça. B.O. avança em desabalada carreira, meio que atropelando etapas, negligenciando o percursos das pessoas, apenas pontuando as camadas desalinhadas da produção rodada integralmente numa locação. Portanto, o espírito de picardia se sobrepõe aos elementos restantes, o que restringe o alcance da sátira, deixando-a superficial. Entretanto, a leveza é preservada ao ponto de gerar um passatempo gostoso. Os cineastas Daniel Belmonte e Pedro Cadore parecem efetivamente buscar o escapismo como antídoto à sisudez dos temas encarados, fazendo, a partir do acúmulo de situações arquetípicas, uma caricatura das coxias da rodagem.
É uma pena que B.O rapidamente deixe para trás os expedientes férteis vistos logo no começo para se entregar à pura chacota. Exemplo desses componentes que elevam a narrativa a um patamar ligeiramente sofisticado do ponto de vista da linguagem é a espirituosa montagem que intercala as características do que seria “um drama de festival”, escritas numa lousa, e as ideias para preencher tais lacunas. O longa-metragem também faz troça da impetuosidade do artista não disposto a desapegar-se das convicções, ainda que diante de uma realidade completamente avessa. Todavia, a frouxidão que gradativamente toma conta do conjunto diz respeito à frágil aposta nessas observações que se equilibram entre o irônico e o ridículo. Com mais de tempo, os coadjuvantes, aqui meramente ilustrações sem qualquer subjetividade, talvez ganhassem espaço para demonstrar que não somente o diretor e o roteirista sofrem num set de filmagem de baixo orçamento.
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