Crítica
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Sinopse
Mike e Marcus se envolvem em um caso que os coloca entre os mais procurados criminosos de Miami, EUA. Agora, precisão se unir para limpar seus nomes.
Crítica
Pensar que a saga Bad Boys tem quase três décadas – o primeiro, Os Bad Boys, é de 1995 – é um tanto impressionante. Não pelos feitos alcançados – apesar de nenhum ter sido fracasso de público, os ganhos de bilheteria também não chegam a ser fora do normal, enquanto que a crítica segue torcendo o nariz para sua ação desenfreada e inconsequente – mas pelo status dos dois principais nomes do elenco. Will Smith e Martin Lawrence eram pouco mais do que meros desconhecidos quando Michael Bay os uniu pela primeira vez. A marca que percorreu aquele filme – e os que vieram depois – do início ao fim, mais do que a do realizador ou de seus astros, era a dos produtores Jerry Bruckheimer e Don Simpson. Este último, falecido um ano após o lançamento do longa de estreia, segue assinando cada um dos quatro projetos, algo que Bruckheimer faz questão. Ambos, afinal, entregaram sucessos como Um Tira da Pesada (1984) e Top Gun: Ases Indomáveis (1986). Bad Boys: Até o Fim, quarto capítulo dessa história, é quase um episódio perdido no tempo, um produto dos anos 1990 – e que se orgulha como tal – que se tornou realidade somente em 2024. Mantém, portanto, um charme nostálgico, principalmente para os fãs do original. Ao mesmo tempo, há uma imensa inadequação em relação aos tempos atuais. Um desconforto crescente que beira o insuportável quando chega ao fim.
Cada um dos quatro títulos surgiu com um propósito. O primeiro veio para consolidar as carreiras de Smith e Lawrence. O segundo, Bad Boys II (2003), queria mostrar que Smith, após uma indicação ao Oscar e uma carreira de cada vez maior destaque como cantor, seguia sendo uma opção viável para liderar um blockbuster. O terceiro, Bad Boys Para Sempre (2020), que se tornou possível após um intervalo de quase vinte anos, tinha como intenção resgatar a carreira de Lawrence, que não participava de um projeto de destaque desde... Vovó... Zona 3: Tal Pai, Tal Filho (2011). Pois agora é chegada a vez de Bad Boys: Até o Fim recuperar a imagem do outro membro da dupla. Afinal, é Smith que está em apuros. Ainda que tenha levado a estatueta dourada para casa por King Richard: Criando Campeãs (2021), o que ficou na memória de todos foi o tapa que deu na cara de Chris Rock na mesma cerimônia de premiação. Na manhã seguinte, raras vezes se viu um vencedor ser tão evitado em Hollywood. A estratégia de controle de danos foi recorrer aos personagens mais conhecidos de sua filmografia. Tanto é que uma sequência para Eu Sou a Lenda (2007) também está confirmada, e retomadas de MIB: Homens de Preto e até Independence Day (1996) não foram descartadas.
Dito isso, é curioso perceber que o verdadeiro protagonista desse Bad Boys 4 é Lawrence, e não Smith. Por mais que a trama comece com o casamento de Mike, essa sequência é a única dedicada ao personagem, além da volta do filho bastardo, Armando (Jacob Scipio), já visto no capítulo anterior. É durante esta festa, porém, que Marcus tem um enfarto, o que o leva ao hospital e a uma experiência de ‘quase-morte’. Em um encontro no além com o ex-chefe, o capitão Howard (Joe Pantoliano), fica sabendo não apenas que ainda não chegou “a sua hora”, como também é alertado quanto a uma forte tempestade que se aproxima da dupla, mas que ambos, se resilientes e fortes o suficientes, conseguirão dela se livrar ainda mais determinados do que antes. Pois o que acontece a seguir é bastante simples: um ex-oficial (Eric Dane) se alia a um cartel de tráfico de drogas e passa a incriminar não apenas o colega falecido, mas também os dois policiais mais conhecidos de Miami. É o velho argumento do agente (no caso, uma dupla) que precisa provar sua inocência, ainda que todos que até então estavam ao seu lado passem a vê-lo como culpado. Tom Cruise construiu uma franquia milionária com os seus Missão: Impossível apenas com variáveis dessa mesma ideia. Como se vê, nada de novo no front.
Há um desespero tão grande por parte dos diretores Adil e Bilall (os mesmos de Bad Boys Para Sempre) em tornar cada segundo ‘instagramável’ ou em acordo com os rápidos cortes do TikTok que qualquer personalidade que porventura ainda sobrevivesse após tantos anos é eliminada sem nenhum sinal de culpa. Chega-se ao ápice de colocar as câmeras nas mãos de Smith e Lawrence, fazendo deles os condutores dos acontecimentos, como num simulacro de um videogame – gerando uma sensação de interatividade com o espectador que pouco vai além da intenção. Se Mike é força bruta e um charme um tanto desgastado, o intento de vê-lo por meio de um prisma um pouco mais complexo, a partir de supostos ataques de pânico, é logo esvaziado pela falta de consequência e desenvolvimento da questão, por demais presente, mas nunca vista com a seriedade que urgia. Marcus, por outro lado, é bem-sucedido em ir além do posto de alívio cômico que Lawrence tão bem sabe ocupar. Ele é a figura da qual nada se espera e tudo pode acontecer. É por seus rompantes e idiossincrasias que essa jornada, cansativa antes mesmo de começar, encontra algum tipo de graça e surpresa.
Em um cenário tão massivamente ocupado por homens brancos e abrutalhados, há um inevitável ganho em colocar dois tipos negros e distintos entre si (se um ganhou músculos, o outro fez do físico comum um dos seus acertos). Por outro lado, a presença feminina continua descartável (Vanessa Hudgens está quase irreconhecível), quando não clichê (a mocinha em perigo, papel de Melanie Liburd, ou a gostosa perigosa, defendida por Tiffany Haddish). Rhea Seehorn (Better Call Saul, 2015-2022) é a pior em cena, não só pelas caretas repetidas, como por defender aquela que deveria ser a lei, mas tudo o que consegue é abraçar o lema que “bandido bom é bandido morto”. Mas a competição se mostra acirrada com a participação de Ioan Gruffudd (Quarteto Fantástico, 2005), que é tão canastrão que nem consegue disfarçar o quão culpado é por tudo que acontece ao seu redor. No fim das contas, Bad Boys: Até o Fim é excessivo e barulhento o suficiente para distrair a audiência dos seus tropeços enquanto se desenrola, seja pelo vazio do discurso como pela ausência de novidades que agrega ao cânone, mas sofre mesmo é após o término, frente à imensa sensação de vazio que deixa, seja junto aos personagens que busca sem efeito oferecer uma sobrevida, seja nos espectadores exaustos diante de tanto barulho por nada.
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