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Sinopse

Após atravessar quatro paredes em uma tentativa fracassada de assalto, Lino é preso. A coragem no ato e seu conhecimento técnico lhe rendem um convite para integrar uma equipe de combate ao tráfico, dentro da própria polícia, na qual ele seria o mecânico. Ele aceita a proposta e, desta forma, passa a retornar à prisão apenas para dormir. Entretanto, quando o líder da equipe é assassinado, Lino logo é considerado suspeito do crime. Com isso, ele precisa fugir e encontrar algum meio de provar sua inocência.

Crítica

O cinema de ação está sempre em busca de novos rostos, candidatos a rejuvenescer um gênero que costuma ser um tanto quanto repetitivo e, em vários casos, dependente dos efeitos especiais. O perfil buscado por vezes reflete as peculiaridades de momento, que o digam os "exército de um homem só" personificados por Schwarzenegger e Stallone nos anos 80, o tom plástico e tendendo ao cômico de Jackie Chan nos anos 90 ou mesmo o estilo porradeiro de Matt Damon na saga Jason Bourne, já na virada do século. Em tempos onde a massa bruta chamada The Rock e a contundência de Jason Statham reinam, Bala Perdida busca um perfil diferente: o do gente como a gente.

Não se trata, entretanto, da busca por um novo Bruce Willis, que fez sucesso com tal proposta em Duro de Matar (1988). Aqui, a ideia é ter alguém ainda mais leigo, ao menos na aparência. Assim somos apresentados ao Lino de Alban Lenoir, um cara franzino que age por reação e não por idealismo, um tanto quanto desengonçado nos movimentos e longe da beleza plástica de Statham ou Chan. Suas lutas são mais brutais e realistas, às vezes violentas, por mais que também recorra à tática corriqueira de Jackie Chan de se apropriar do que estiver à volta para usar como arma. Ou seja, trata-se de um mix pouco usual em filmes do gênero e isto, no fim das contas, é o que há de mais interessante em Bala Perdida.

Isto porque, como tantos outros filmes de ação, Bala Perdida oferece um fiapinho de roteiro como desculpa para a fuga desenfreada de seu personagem principal. A abertura, entretanto, revela outro viés que será explorado mais a frente: a busca pelo espetáculo a partir de colisões e capotagens de carros. É o que acontece já de início, quando Lino e seu Clio atravessam quatro paredes de uma loja, em uma tentativa fracassada de assalto. Destino: a cadeia, onde não ficará por muito tempo.

O porquê dele sair é tão irrelevante que Bala Perdida não dedica nem cinco minutos a explicar, e menos de 20 até iniciar a tal perseguição. Há uma divisão dedicada ao combate ao tráfico e policiais corruptos envolvidos nela, mas isto serve apenas para escancarar vilões convenientes. É na peregrinação de Lino que tudo importa e é a ela que o filme dedica mais de dois terços.

Com lutas e tiroteios que buscam o realismo, Bala Perdida entrega uma crueza até surpreendente, por não esconder o sangue. Não por acaso, a trajetória de Lino é semelhante à de um videogame, no qual ele precisa superar fases cada vez mais difíceis até encontrar o chefão no final, encarando inimigos estereotipados que estão lá apenas para confirmar que são realmente vilões. Não há área cinzenta neste filme, tudo é muito direto e preto no branco. Se em relação às cenas de luta até funciona, entrega também uma pobreza enorme em relação ao roteiro.

É bem verdade que Bala Perdida até tem umas sequências bacanas, como a do carro com os ganchos na dianteira - taí uma ideia ainda não aproveitada pela saga Velozes & Furiosos - e mesmo sua sequência final de ação, mas o desleixo com os coadjuvantes e mesmo com a história é tamanho que deixa um incômodo constante. Apesar de até valer como diversão rápida e rasteira, típica de futuras sessões no Domingo Maior, Bala Perdida chama a atenção por esta proposta pouco usual em relação ao seu protagonista. É no tipo físico e no perfil de Alban Lenoir, e no modo como ele encara as lutas que atravessam seu caminho, que o filme se diferencia de seus semelhantes.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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