Crítica
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Sinopse
Pelas ruas de seu bairro da infância, Brian busca áreas para um novo empreendimento imobiliário. Em seu escritório moderno, Romeo traça uma estratégia de marketing. Carla planeja os investimentos. Um jogo de projetar a cidade.
Crítica
O mundo de hoje constrói constantemente um vocabulário próprio. Na concorrência das palavras que são lançadas todos os dias, algumas somem instantaneamente, enquanto outras fixam raízes e criam sentido. Um exemplo destas é a locução “especulação imobiliária”. Ainda que empregada de forma pouco clara e pejorativamente, é impossível pensar em alguém que não a tenha escutado nos últimos tempos.
Documentário de estreia de Miguel Antunes Ramos, Banco Imobiliário adentra com sagacidade no mercado imobiliário, a fim de apresentar as nuances que estão por trás desse processo. O documentário finalmente molda a face de um termo abstrato ao participar das várias etapas que constituem a cadeia do negócio. Para isso, acompanhamos desde o corretor que nos leva pelas ruas, demonstrando como flertar com futuros terrenos e a relação com os clientes, até o discurso aplicado pelas empresas de marketing revestir de sentido a compra de um apartamento.
Pontual e conciso, o documentário infiltra-se no mundo imobiliário de uma forma dissimulada, estilo que rapidamente nos remeterá a Michael Moore. Diferentemente do diretor americano, porém, Ramos utilizará mais refinamento, uma espécie de cinismo silencioso e menos zombaria. O resultado estético é uma combinação muito bem equilibrada da problematização do discurso do crescimento, fotografado de forma seca e distante por Alexandre Wahrhafting e montado com precisão por Lia Kulakauskas. Sútil, Kulakauskas impõe ao filme um tom autoirônico, essencial para que fosse possível gerar uma crítica ao tema sem precisar confrontá-lo verbalmente.
Ao jogar com a sobreposição de plantas arquitetônicas e pessoas reais, o roteiro assinado pelo diretor consegue se descolar de um documentário tradicional, centrado unicamente no debate sobre um tópico, e levá-lo a assumir a análise existencialista de como opera o desejo humano. Ali, frente a um showroom midiático, em que pipoca e cachorro-quente são servidos de forma circense, a compra de uma casa assume gradualmente a promessa de uma felicidade futura possível, dependente unicamente da tomada de um conjunto de decisões - o número de quartos, a quantidade de banheiros, a nome do bairro.
Operando em um registro veladamente crítico, Banco Imobiliário atrai o público pela leveza da sua postura, fazendo-o refletir em consequência do engenho da sua percepção de mundo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Willian Silveira | 8 |
Bruno Carmelo | 6 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.3 |
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