Crítica
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Sinopse
A protagonista de Bandida: A Número Um é Rebeca (vivida por Maria Bomani). Nascida na miséria, ela é vendida para o bicheiro que comanda a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Brasil. Cotidianamente, aprende mais sobre o "ofício" das organizações criminosas.
Crítica
Inspirado na história real de Raquel de Oliveira (aqui Rebeca), chefe do narcotráfico na Rocinha, comunidade do Rio de Janeiro, nos anos 1980, e baseado em livro de memórias da mesma, Bandida: A Número Um instiga curiosidades antes mesmo do início. Afinal, histórias de líderes mulheres em ambientes tão brutais não aparecem rotineiramente nas telonas, pelo menos no cinema brasileiro. De fato, há muito de “Bandida” no enredo, mas, estranhamente, pouco daquela que ficou conhecida como a “Número Um” do crime.
O roteiro, escrito a quatro mãos, compreende a trajetória de Rebeca (Maria Bomani) desde os primeiros anos de vida na favela. Nascida de mãe solteira, em região periférica, a jovem foi criada com recursos insuficientes. Ainda criança, foi abandonada e, sob a tutela da avó paterna, vendida ao influente bicheiro Amoroso (Milhem Cortaz) para ser criada como garota de programa. Isso até o criminoso ser informado por sua conselheira Ialorixá (mãe de santo, na linguagem popular) de que Rebeca possuía espírito forte, digno de respeito e potencial, deliberação que “melhorou” a condição da pequena no espaço. Nos anos seguintes, a menina se torna braço direito de Amoroso, aprendendo sobre todos os labirintos que compõem o crime organizado no morro.
A receita proposta pelo diretor - João Wainer, o mesmo de Pixo (2009) e A Jaula (2022) - está semi-pronta. Há diversos elementos dos favela movies mais notórios, como Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007), na empreitada. As câmeras trêmulas, a montagem agressiva e a violência explícita atravessam a narrativa, configurando efeitos que possibilitam boa imersão. Ainda nos minutos iniciais, esse conjunto de aplicações também ganha ótimo frescor com o embalo de canções divergentes do que estamos acostumados nessa classe de filmes. No entanto, diferente dos títulos dos anos 2000 já citados, a trama se perde em meio às mediações.
É curioso acompanhar como o longa parece se esquecer da história que está relatando. Nuclearmente, o que mais interessa é Rebeca e sua carreira até se tornar a maioral. Mesmo que narrado pela protagonista, seu passado parece ter sido escrito por outra pessoa. E isso pode ser verificado em sequências que pouco agregam no aperfeiçoamentos da personagem que mais merece atenção, como diversos diálogos de personagens secundários e, principalmente, no excessivo investimento do roteiro no romance da biografada com Pará (Jean Amorim). De fato, essa relação é significativa, mas não a ponto de ser maior do que a própria Rebeca.
Maria Bomani, ainda novata no cinema, equilibra brechas com postura séria e comprometida, que facilmente poderia descambar para o caricatural. Dentro das cinco partes que constituem o filme, a atriz é peça central apenas na última, que dura menos que dez minutos. Uma pena, pois o pouco da plenitude que se vê da artista é capaz de dar outra dimensão ao que assistimos de forma pregressa. Recheado de dinamismo e recursos técnicos, Bandida: A Número Um poderia ser retrato mais intrigante da maior criminosa da favela da Rocinha se, efetivamente, se encantasse por ela.
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