Crítica
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Crítica
O cinema de Eduardo Coutinho é célebre por perscrutar o âmago dos personagens, capturando momentos capitais em que eles vencem a frivolidade do cotidiano e se tornam excepcionais, dessa forma se revelando. Tal operação é mencionada pelo próprio cineasta em Banquete Coutinho, documentário que intenta realizar um inventário desse método peculiar e, por conseguinte, expor a essência do artista e do ser humano. Buscando o estabelecimento de uma ponte mimética com os estratagemas do objeto de estudo, Josafá Veloso menciona rapidamente as circunstâncias que levaram ao resultado, dos primeiros encontros ao dia da captura do testemunho. Todavia, a alusão formal não é a única, tampouco a menos desajeitada, nesse percurso que guarda boas doses de saudosismo, em virtude dos filmes que surgem como referência e da própria imagem do homem que se expressa, em meio aos paradoxos e às contradições que lhe tornavam único e fascinante.
Banquete Coutinho não esconde, pelo contrário, escancara a celebração, a admiração que seu realizador tem pelo colega de profissão e, provavelmente, fonte de inspiração. Parte da pungência do longa advém da interlocução entre os depoimentos de Coutinho, apinhados de tiradas agridoces e despidos de afetações, e as imagens dos filmes que o tornaram indispensável no cenário cinematográfico mundial. No princípio Josafá até ensaia atribuir às imagens, ou seja, aos exemplares escolhidos, a função de deflagrar a natureza de Coutinho, mas a sucessão de reproduções sem contexto narrativo suficientemente denso acarreta a sensação prevalente de aleatoriedade. Gera saudosismo, especialmente aos conhecedores da obra logo revisitada, a conjugação de excertos de Cabra Marcado para Morrer (1984), Santo Forte (1999), Edifício Master (2002) e Jogo de Cena (2007), sendo sintomático que nenhum outro componente funcione de modo tão efetivo no todo.
Desde a pergunta inicial que Josafá faz a Coutinho, fica evidente que o aprendiz se conforma com a retórica do cineasta colocado num justo pedestal de maestria. Banquete Coutinho vale o quanto pesa essa saudade de um dos nossos principais criadores cinematográficos, deixando no ar perguntas deliberadamente sem respostas. Repetidas vezes o realizador questiona se o veterano não fez, ao longo de várias décadas, os mesmos filmes, focados em personagens poeticamente próximos a ele. Preservando o questionamento, mas não exibindo muitos esforços para, ao menos, chegar perto de uma resposta, ainda que inconclusiva, ele acaba tornando o dispositivo banal e conveniente. A dialética entre os colegas de profissão é prejudicada pelo acanhamento do mais novo, que se restringe a concordar com determinadas colocações do entrevistado, se dispondo insuficientemente a instiga-lo. Coutinho fala absolutamente acerca daquilo que lhe parece pertinente.
Na miríade de imagens que entrecruzam as palavras de Eduardo Coutinho no documentário, estão presentes trechos de verdadeiros emblemas, como do cubano Memórias do Subdesenvolvimento (1968). Contudo, Josafá veda a compreensão da referência aos que não assistiram ao filme de Tomás Gutiérrez Alea e que, de tal forma, são destituídos da proximidade com o protagonista que vagueia por uma Cuba convulsionada social e politicamente. A rima aqui é, sobretudo, com os contratempos que levaram a interrupção da primeira tentativa de rodar Cabra Marcado para Morrer, em 1962 e 1964. Para equilibrar a balança, o cineasta valoriza dizeres preciosos de Coutinho, como suas citações de pensadores para sustentar elucubrações sobre a existência, o cinema e o que transcende. Pena que o impacto da cena inaugural, com a criança falando de Deus ao homem que experimentava seus últimos meses de vida, não é reproduzida adiante, no decurso que soa arrastado, apesar dos parcos 75 minutos, ainda que consiga ser criar bonita homenagem a esse sujeito de cinema.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Chico Fireman | 5 |
Lucas Salgado | 6 |
Francisco Carbone | 6 |
Cecilia Barroso | 5 |
MÉDIA | 5.2 |
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