Crítica
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Sinopse
Tentando esvaziar uma pequena cidade do Velho Oeste para construir um trilho de trem, o perverso político Hedley Lemar manda seus capangas aterrorizarem a localidade. Mas, tudo muda quando alguém é empossado como xerife.
Crítica
O western é um gênero, portanto repleto de cânones e códigos muito particulares que foram sedimentados ao longo dos anos, sobretudo na sua fase áurea, quando estabelecido como o mais influente dos Estados Unidos. Mel Brooks decidiu, então, fazer uma sátira dos filmes de cowboy, levando seu bom humor característico ao oeste selvagem. Banzé no Oeste se desenvolve do início ao fim enfileirando piadas que deflagram o racismo, visto como um fenômeno distante, coisa do século 19, mas que, certamente, representava a conduta de muitos em 1974, quando o filme foi lançado. Na verdade, o preconceito racial ainda está aí, só que mais acobertado por uma fina camada de falsa civilidade. Nesse sentido, fazer chacota para mostrar o quão patética é a discriminação, infelizmente, ainda torna essa realização atual.
A história começa com uma ferrovia que precisa avançar para conduzir o progresso. Por causa da areia movediça – constatada pelos negros, pois os encarregados não podiam se dar ao luxo de arriscar os animais na tarefa – será necessário passar pela cidade de Rock Ridge. Mas como fazer isso se o local está cheio de gente? Hedley Lamarr (Harvey Korman), vilão propositalmente caricato e maior interessado financeiramente no avanço da ferrovia, influencia a nomeação de um xerife negro à cidade, na impossibilidade de dizimar todos os moradores, como havia feito com os índios em outra ocasião. Ele sabe que a controvérsia vai gerar confusão e, portanto, fragilidade. Todos os personagens de Banzé no Oeste são meio paspalhos, desde os bandidos até os habitantes da cidadezinha que rechaçam o novo homem da lei por conta de sua cor, mas que depois, hipocritamente, lhe darão tortas de agradecimento.
Banzé no Oeste é uma grande bobagem, até certo ponto divertida, que liquefaz alguns itinerários do western através do nonsense. Depois da terceira piada seguida sobre racismo, a coisa começa a patinar mais que deveria, pois, a bem da verdade, Mel Brooks liga a trama no piloto automático, fazendo dela apenas uma linha mestra por onde caminham esquetes e outros momentos que, comicamente, funcionam mais isolados que em conjunto. Assim, o riso que vinha fácil no início amarela rapidamente por conta da repetição e da pouca imaginação visual com a qual a narrativa vai sendo construída. As interpretações são funcionalmente exageradas, mas, por exemplo, Gene Wilder é bastante subaproveitado, pois seu personagem, com potencial para ser aquele coadjuvante ladrão de cenas, acaba soterrado ora na banalidade do que tem a dizer e/ou fazer, ora na pura e simples falta de espaço.
Os besteiróis que vemos hoje satirizando todo tipo de gênero, principalmente o terror, melhorariam um bocado caso seguissem a cartilha de Mel Brooks, cineasta que não parece muito preocupado em fazer comédia sofisticada, mas que, em contrapartida, evita chafurdar no mau gosto. Grosso modo, em Bazé no Oeste, ao invés de pegar pesado na sacanagem com os elementos caros ao western, ele prefere usar o gênero enquanto plano de fundo, sobre o qual constrói uma narrativa monocórdica, no mais das vezes focada realmente apenas no racismo sofrido pelo protagonista. Faltam mais cenas de apelo imagético, como a do brutamonte que derruba o cavalo do adversário com um soco, exagero genuinamente engraçado. A metalinguística cena final é tão estapafúrdia que quase chega a ser boa (mas não é), pois, ao menos, chacoalha a paródia de sua própria preguiça.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Bianca Zasso | 8 |
MÉDIA | 6.5 |
Curiosa a sua opinião, pois lembro de ter lido em mais de uma resenha que Banzé no Oeste era uma das melhores comédias já feitas em cinema.