Sinopse
Crítica
Tem algo bem interessante a ser dito, antes de tudo. A presença de Isabelle Huppert não é o que mais chama a atenção de forma positiva por aqui. Nem o fato de termos sua filha interpretando, basicamente, sua primogênita. O segundo longa-metragem de Laura Schroeder é uma produção sobre conexões. É a respeito da relação entre avó e neta, mãe e filha. Um clássico exemplar de conflitos e semelhanças entre gerações. Barrage é muito bonito visualmente, em diversos momentos, mas carece do principal num filme do gênero: alma. Se a química da trinca de atrizes é evidente, a história é recheada de percalços que prejudicam o prazer do espectador. Ruim? Não, nem um pouco. Levemente chato, é o que pode ser dito.
O ponto de partida está em Elisabeth (Huppert) e sua neta, Alba (Themis Pauwels), a quem a avó dedica boa parte do tempo, numa educação rígida, mas não menos carinhosa. As coisas começam a se complicar com o retorno de Catherine (Lolita Chammah), após uma década de autoexílio e consequente abandono da filha de 12 anos. Catherine quer se reconectar com Alba, mas a garota não parece interessada nisso. A solução é uma viagem para o chalé da família numa área rural. Elas estão na barragem que faz alusão ao título, o que metaforicamente implica nas relações estabelecidas do trio.
Se fosse preciso dezenas de caracteres para contar mais do roteiro, Barragem se encontraria numa sinuca de bico. A diretora lança um olhar menos aos sentimentos que envolvem os traumas familiares, enfocando mais o caráter de cada uma das personagens. O que importa não é como Alba se sente em relação a sua mãe e sua avó, mas sim como sua personalidade foi construída nesses anos longe da genitora. Percebe-se o quanto a avó é uma presença forte nesse molde, por conta desde as lições de tênis aos detalhes (ainda que a garota não queira seguir no esporte por falta de paixão). E é esse ponto de conexão que ela vai encontrar Catherine, já que ambas tem coração rebelde e não conseguem seguir o que Elisabeth lhes impôs durante todas as suas vidas.
Temos a morte de um cachorro que faz as situações virarem de ponta cabeça, como se o trauma fosse necessário para Alba tomar uma chacoalhada de realidade. Ela é praticamente o alvo de disputa das duas principais figuras femininas que a rodeiam. Catherine quer desfazer o passado nebuloso. Elisabeth vê na neta uma nova chance de criação na família. O conflito central acaba dando margem às duas atrizes mais experientes, ainda que ambas não dividam a tela por muito tempo. Huppert, então, quase some a partir do segundo ato. É a chance de um novo talento brilhar, algo que Themis Pauwels aproveita com naturalidade, tomando a produção para si sem esforço aparente. É uma intérprete notável e que parece ter um bom futuro.
Essa responsabilidade que recai sobre o elenco apenas demonstra o quanto a história em si é frágil e mais do mesmo, por exemplo, deixando sequências de sonhos e pesadelos deslocadas. São cenas que mais parecem um artifício banal do que realmente necessárias para compreendermos as personalidades esmiuçadas na tela. Nem a metáfora da barragem e dos peixes surte tanto efeito. Pelo contrário, parece artificial, ainda mais dentro do tom naturalista com que a história quer ser contada. Assim, Barragem se torna enfadonho muitas vezes, como se soubesse aonde quer ir, mas precisando preencher o tempo com conexões desnecessárias. Talvez um olhar mais atento à própria construção das personagens o tornasse um belo drama familiar. No fim, é só mais um título com verniz europeu que não tem muito o que dizer.
A sequência do treinamento de tênis é um dos melhores e mais sinceros momentos do filme. Uma pena que a produção não mantenha essa qualidade estética em paralelo ao seu desenvolvimento narrativo. O uso literal do título original, mais à frente, acaba prejudicando ainda mais dentro desse contexto, como se fosse necessário fazer jus a ele. Não era preciso. Elenco de competência já se tinha em mãos. O que falta aqui é coração. Mesmo que os três expostos na tela sejam deflagrados a todo instante. A impressão é que várias boas ideias foram jogadas a esmo durante as filmagens e a montagem do longa. Falta tensão. Tudo que uma produção assim pede. O que não é muito.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 4 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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