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Sinopse

Barton Fink é o dramaturgo mais badalado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Escalado por Hollywood para escrever um filme B, o autor se hospeda num hotel de segunda categoria e é brindado com uma viagem bizarra.

Crítica

Suor e sangue. Duas palavras que resumem, de alguma forma, o trabalho dos irmãos Joel Ethan Coen no excêntrico Barton Fink: Delírios de Hollywood. O subtítulo nacional acaba por entregar um pouco o teor insano do filme, ainda que os caminhos por que passam os personagens da trama assinada pela dupla possam ser alvo de diversas discussões a respeito dos seus significados. Seriam delírios? Seria outra realidade? Ou seria apenas a ofuscante Hollywood? Os irmãos cineastas não têm intenção alguma em responder estas dúvidas, mais preocupados em desenvolver seus personagens deliciosamente interessantes, defendidos com entusiasmo por John Turturro e John Goodman – dupla que já havia trabalhado com os diretores anteriormente e que seriam presença constante em sua filmografia.

Na trama, Barton Fink (Turturro) é um dramaturgo de teatro que começa a gozar de algum sucesso com suas peças. O ano é 1941, a cidade é Nova York e a principal vontade do escritor é conseguir capturar a alma do homem comum em seus trabalhos, colocar seus anseios, dúvidas e problemas em cima do palco. Antes de conseguir seu intento, Fink é convidado para escrever roteiros em Hollywood. Primeiramente ele reluta. Mas a oportunidade é boa demais para ser deixada de lado. Hospedado em um hotel calorento na Califórnia, Fink é incumbido de escrever o script de uma fita de luta livre, um filme B sem muita importância – ainda que o chefe do estúdio, Jack Lipnick (Michael Lerner), diga o contrário. Pressionado para fazer um bom trabalho, o roteirista estreante sofre com bloqueios. A folha em branco o apavora. Para piorar, seu vizinho barulhento o atrapalha. Após reclamar para a recepção, Fink acaba o conhecendo – e se afeiçoando – pelo bonachão Charlie (John Goodman).

Encontros com um famoso roteirista bebum (John Mahoney) e sua fiel secretária (Judy Davis) mudam o destino de Fink – talvez para pior. A história de Barton Fink é tão excêntrica que é difícil resumir em apenas um parágrafo, sem revelar muitas surpresas. O que é possível dizer não estragando a experiência do espectador é que existe um crime na segunda metade do filme que muda completamente o jogo, transformando-o em um suspense (igualmente excêntrico). A partir deste momento, a trama – que já tinha toques de fantasia – embarca completamente no surreal. Pode não agradar a todos a ausência de respostas para algumas pontas soltas, mas é um dos momentos mais criativos e interessantes do longa-metragem.

Muito deste clima surreal está na direção de arte, caprichadíssima para criar aquele hotel infernal. O calor do local é impresso nos rostos de John Goodman e John Turturro, que suam em bicas durante todo o filme. Os papéis de parede que não se mantém no lugar, os sapatos engraxados e deixados à porta dos quartos, os corredores estranhamente compridos. Tudo ali nos leva a crer que aquele hotel é mais do que apenas um alojamento. Alguns pensam se tratar do inferno, inclusive. Essa é apenas uma das teorias que surgiram desde a estreia do filme. Inferno ou não, Barton Fink vive seu martírio. Tenta escrever, mas simplesmente não consegue. A imagem de uma moça olhando o mar serve de alento, quase uma miragem. Mas não o ajuda. Os Coen brincam com a fonética do nome do protagonista, um trocadilho com “think” (pensar, em inglês), fazendo dele um sujeito com intelecto invejável, mas totalmente refém de sua ansiedade. Ele não consegue pensar, logo não consegue ser ele mesmo. Quer colocar o homem comum nos palcos, mas nunca está pronto para ouvir Charlie, o homem comum em pessoa. Esta desatenção poderá custar caro a ele. Turturro capricha na neurose e faz uma ótima dobradinha com Goodman, a simpatia em pessoa.

Quem rouba a cena é Michael Lerner como o boquirroto chefe de Fink. Metralhadora de palavras e de temperamento explosivo e mutável, Jack Lipnick é o alívio cômico do filme, uma pessoa impossível de se interromper, discordar ou mesmo conversar. Indicado ao Oscar por sua performance, Lerner foi uma das três lembranças que a Academia teve em relação a Barton Fink: Delírios de Hollywood. As outras (certíssimas) indicações foram para Direção de Arte e Figurino. O que o Oscar não premiou, o Festival de Cannes laureou com folga. Os irmãos Coen saíram da França com os três principais prêmios, inclusive a Palma de Ouro, de forma inédita. Com uma trama curiosíssima e personagens que, futuramente, iríamos conhecer como típicos do universo dos irmãos Coen, Barton Fink: Delírios de Hollywood é um belíssimo trabalho da dupla de cineastas. Daqueles filmes que geram discussões e reflexões a respeito do que foi visto, típico longa-metragem que a cada nova conferida provoca novas reações.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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