Crítica
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Sinopse
Num futuro sombrio, Batman e Robin, a dupla dinâmica, mora num trailer afastado. Repentistas punk-rock, eles constatam que o planeta Terra ficou pequeno demais para sua perfeição, genialidade e potência, e decidem encontrar seu lugar em galáxias distantes.
Crítica
Escrito e dirigido por Tavinho Teixeira, diretor estreante, Batguano é uma surpresa positiva quanto a coragem do olhar. A trama apresentada é inesperada, fruto de uma desconstrução pura, a uma corrente francesa, como se Teixeira fosse um leitor de Roland Barthes rebelde, mais insinuante e menos prolixo do que o próprio mestre.
No futuro, a dupla Batman e Robin é desfeita da bolha ficcional clássica, elaborada para protegê-los do mundo real, e transpostos para a realidade ficcional. Não deixamos o campo da ficção, nos diz o diretor, mas abandonamos o mundo da hipocrisia. Batman (Everaldo Pontes) e Robin (Tavinho Teixeira) sofrem as leis da física e da moral. Com um trabalho de direção de arte bastante interessante, a velhice toma conta dos heróis, assim como os vícios e o peso da trivialidade.
A reconfiguração apresentada por Batguano é a ironia pura, pois coloca aqueles que dedicaram a vida à melhoria do mundo diante de uma sociedade, anos depois, pior do que a defendida. O desespero do bem não realizado, a força de um vento que parece soprar com um pessimismo em direção a um decadentismo moderno formam o espaço que fere a inocência. Pela circunstância, o humor é o resultado mais óbvio, esperado e – por sorte, com a boa direção de Teixeira – o mais eficaz.
Os heróis são, antes de mais nada, um produto da esperança. Criados em períodos sociais conturbados, são a analogia ateia do mundo religioso. Assim como o paraíso surge depois da vida mundana, os desenhos asseguram que em uma realidade comandado por incorruptíveis homens da justiça (deuses de capa e máscaras) tudo está sobre controle. O filme flexibiliza o imagético. Batman e Robin, homossexuais, perdidos no medo da morte e do esquecimento (este outro tipo de morte, mais lenta e dolorosa), despedaçados física e moralmente. Em determinada cena, Batman se olha no espelho sem máscara e escuta a voz de Robin a confirmar o inevitável: você era jovem e bonito, diz. O exemplo é o resultado emblemático da derrocada dos ideais. Em um mundo sem sentido, a indiferença é um escudo; em um mundo sem salvação, os heróis são inúteis. Os sobreviventes precisam ser medíocres. É forte. É real.
A câmera de Teixeira é eficaz. Com um mise-en-scène extremamente controlado, em um espaço cênico limitado, os personagens se concentram em ações pontuais entrecortadas com a narração de cunho filosófico-reflexivo. A junção é certamente ousada. Utilizar um material pronto, reconstruí-lo, trabalhando de forma seletiva a seu próprio interesse tem certamente algo de criativo. Investigar, porém, até onde segue a criatividade é o que segura o espectador, uma vez que o manancial de invenções sofre por uma repetição de referências e avança lentamente no terço final.
A questão é se o arrefecimento compromete ou não o todo da obra. A resposta é não. Batguano é um clássico desde já pela combinação extremamente original de alta e baixa cultura (Batman gay ao som de Mahler é o sincretismo do cinema brasileiro), da irreverência com densidade. Sigamos a nossa solidão.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 7 |
Francisco Carbone | 10 |
Chico Fireman | 6 |
Cecilia Barroso | 6 |
Wallace Andrioli | 6 |
MÉDIA | 7 |
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