Crítica
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Sinopse
Marcado pelo assassinato de seus pais quando ainda era criança, o milionário Bruce Wayne decide viajar pelo mundo em busca de encontrar meios que lhe permitam combater a injustiça e provocar medo em seus adversários. Após retornar a Gotham City, sua cidade-natal, ele idealiza seu alter-ego: Batman, um justiceiro mascarado que usa força, inteligência e um arsenal tecnológico para combater o crime.
Crítica
Batman é um dos personagens mais cultuados do universo das histórias em quadrinhos. E é também um dos mais peculiares. Afinal, ele é apenas um homem, e não um extraterrestre, como o Superman. Não sofreu mutações genéticas que lhe conferiram superpoderes, como os X-Men. Trata-se de um multimilionário, e não de um garoto comum, como o Homem-Aranha. Não tem origem clássica, como a divina Mulher Maravilha, nem é um governante de uma nação lendária, como Aquaman. Não tem supervelocidade (Flash), nem artefatos mágicos (Lanterna Verde), nem passou por experiências científicas (Capitão América), não tem superforça (Hulk), nem sentidos ultra-aguçados (Demolidor). É apenas alguém que carrega um trauma do passado – a morte dos pais quando ainda criança – e que por isso é capaz de fazer coisas inimagináveis, tudo em nome da justiça (ou vingança, dependendo do ponto de vista). E, felizmente, é justamente sobre isso que se ocupa Batman Begins.
Os filmes anteriores de Batman no cinema (Batman, 1989, e Batman: O Retorno, 1992, ambos de Tim Burton, e Batman Eternamente, 1995, e Batman & Robin, 1997, os dois de Joel Schumacher) dividiram a opinião do público e da crítica. Os primeiros são mais respeitados pela visão autoral do diretor, pela seriedade do projeto e pela valorização dos talentos envolvidos. Embora o maior consenso seja em torno de Batman: O Retorno, é preciso reconhecer que estes filmes são muito mais sobre os Vilões do que sobre o Herói em si. Já os dois últimos são verdadeiros desastres, com destaque para o último, que continha bizarrices como o “batcartão de crédito” (!) e os mamilos do uniforme em alto relevo (!!). Ao desperdiçar atores como Tommy Lee Jones, Nicole Kidman e Uma Thurman e abrir espaço para distrações como Alicia Silverstone e Chris O’Donnell, Schumacher quase acabou de vez com a franquia do homem-morcego nos cinemas. Mas preste atenção: quase!
E é nesse ponto que chegamos à Batman Begins, que pouco tem a ver com os anteriores, preferindo ser encarado como um novo começo. Até a origem do personagem é recontada, enfocando a história no primeiro ano de atividades dele em sua cidade natal, Gotham City, e no aprendizado prévio que recebeu para se tornar o homem capaz de enfrentar o crime do modo que se apresenta. Assumindo uma postura muito mais realista no desenvolver de sua trama, a maior parte do mérito do sucesso desta produção se deve ao diretor Christopher Nolan, ele próprio um fã dos quadrinhos (ao contrário dos antigos realizadores). Nolan e o roteirista David Goyer (diretor de Blade: Trinity, 2004) conduzem o enredo de modo bastante seguro, procurando oferecer respostas e elucidando toda dúvida. Isso acaba um pouco com a magia? Sim, é verdade, mas também elimina maiores inverossimilhanças. É um sacrifício em nome de uma plausibilidade maior.
Batman Begins nos apresenta Bruce Wayne (Christian Bale), um garoto que presencia o assassinato dos pais num beco escuro, na saída de uma ópera. Carregando culpa e frustração, ele cresce seco e amargurado. Quando vê o homem responsável pela morte dos seus entes queridos ser libertado num acordo judicial – e posteriormente assassinado na saída do julgamento – decide abandonar a cidade e partir numa jornada de auto-conhecimento dos seus limites. Neste período conhece Henri Ducard (Liam Neeson), um homem que trabalha para Ra’s Al Ghul (Ken Watanabe), líder da Liga dos Assassinos. Eles o ensinam a expandir suas habilidades e aumentar seus conhecimentos, sua resistência e sua força. Com o treinamento completo, regressa para casa, se transformando no Cavaleiro das Trevas, determinado a acabar com a insegurança e a violência das ruas.
O longa conta muito mais. Há ainda a participação de um psicólogo (Cillian Murphy) que domina o “gás do medo”, que se autodenomina “Espantalho”. Temos também o “poderoso chefão” do crime organizado de Gotham, Carmine Falcone (Tom Wilkinson), o sargento Gordon (Gary Oldman), o único homem honesto da força policial disposto a ajudar Batman, a promotora Rachel Dawes (Katie Holmes) que se torna vítima das armações vilanescas, o empresário Richard Earle (Rutger Hauer), que deseja controlar as Indústrias Wayne, e os dois “braços direitos” de Bruce em sua jornada, Lucius Fox (Morgan Freeman) técnico responsável pela maioria dos “batbrinquedos”, e o sempre presente mordomo Alfred (Michael Caine).
Se há um problema em Batman Begins, este é o seu direcionamento um tanto exagerado aos fãs dos quadrinhos. Assim, acaba incorrendo no mesmo defeito de filmes como Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999): grande parte de sua história só se comunica eficazmente com os já iniciados, aqueles que conhecem cada detalhe desta mitologia própria. Muito vai passar batido àqueles desprovidos de qualquer conhecimento anterior. Ou seja, não é um filme que se defende por si só. E também não é popular como os longas da trilogia original do Homem-Aranha: estamos diante de um herói perturbado, e tudo aqui conspira neste sentido, já que o que prevalece é a escuridão, o terror, o sombrio.
Mas é uma opção, e quem resolver se aventurar neste caminho deve estar consciente disto. Batman Begins é certamente o longa mais fiel ao personagem já feito, com tudo de bom e de ruim que esta constatação carrega. Não vai agradar a todos, isto é fato, mas também não ficará no meio do caminho. Aqueles que souberem reconhecer seus méritos ficarão por demais entusiasmados e satisfeitos. E aos demais que se perderem na névoa da confusão, resta apenas torcer para que fiquem ao menos estimulados o suficiente para irem atrás de mais informações. Afinal, um mundo novo desponta por trás do nome “Batman”, e quem o conhece sabe muito bem que ele é arrebatador. Assim como o filme.
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