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Sinopse

Em Batman Eternamente, Duas-Caras e Charada, dois excêntricos bandidos, decidem descobrir a identidade do Homem-Morcego, para depois matá-lo. Este, por sua vez, recebe a ajuda de um jovem que tem sede de vingança, por ter perdido a família em um acidente provocado exatamente pelo Duas-Caras.

Crítica

De pronto, o que mais chama atenção em Batman Eternamente em relação a qualquer um dos outros filmes com o Homem Morcego (incluindo as versões dos anos 1940 e 60), é o Dispositivo. Entendemos aqui como Dispositivo não só o aparato técnico do material que constitui o filme (seguindo as concepções estética e narrativa de Christian Metz), mas também toda e qualquer relação da própria técnica (câmera) com os personagens. Ora, Joel Schumacher não filma com o tom jocoso de Tim Burton (que, após dois filmes, aparece aqui como produtor), e as vezes parece não saber onde colocar a câmera e mesmo para onde levá-la: os personagens se escondem do enquadramento – naquilo que deveria haver uma contaminação, existe apenas um leque de gags gastas e tacanhas dominando a ação. Quando Schumacher acerta (Um Dia de Fúria, 1993), parece que foi sem querer.

Também era difícil, já que o roteiro de Batman Eternamente (mais família, segundo a publicidade) perde a sensualidade que permeava os diálogos dos dois filmes anteriores dirigidos por Tim Burton que, vamos dizer francamente, possuem lá suas limitações. Enquanto os anteriores roubavam dos personagens suas sensibilidades carnais (no discurso; na mise en scène), aqui eles não possuem nada a doar pois são não-personagens: o tom de voz, a luz (fotografia), o humor (!), a ação e a música só contribuem para salientar o quanto suas deficiências são latentes, pois precisam repetir as notas para formar o acorde desejável. É um erro sistemático, ativado na base da produção cultural, que desmistifica os heróis da pior maneira possível: despolitizando e tirando a crueldade do herói (paralelo no cinema mais contemporâneo é o Os Vingadores, 2012).

Quando surge na cena outro herói (Robin), o ritmo só aumenta em sua superficialidade. Sai aquela sede de explorar as personas e entra o apelo ao produto, o ridículo que antes era amigo, passa agora a significar o desequilíbrio em si. Problemas: Batman Eternamente não é um filme engraçado, a ação é uma clipagem dos piores filmes de ação dos 1980, mas sem o grito de uma época que aqueles filmes possuíam e ainda possuem. A questão parece ser, sobretudo, uma questão de texto e não especificamente de roteiro , já que a estrutura é comum o suficiente para não oferecer desconfortos ao diretor e ao montador na hora de pensar as imagens e suas posições no filme. A narrativa é de segunda mão pois aquilo que tanto importa num filme, a palavra, é mero jogo de fruição – só aparece quem fala.

Salvo por um Tommy Lee Jones inspirado pela própria extravagância de seu personagem (nota-se o tom especialmente diferente em relação aos vilões dos filmes sob o comando de Christopher Nolan) e por um Jim Carrey dançando sua música, o filme de Joel Schumacher passa lento e não convence como aventura, tampouco aparenta ser um filme família. Ora, os “filmes família” são sempre os mais cruéis.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do RS. Edita o blog Tudo é Crítica (www.tudoecritica.com.br) e a Revista Aurora (www.grupodecinema.com).
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