Batman vs Superman: A Origem da Justiça
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Batman v Superman: Dawn of Justice
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2016
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
O implacável vigilante de Gotham City, preocupado com as ações de um super-herói com poderes quase divinos e sem restrições, enfrenta o mais adorado salvador de Metrópolis, enquanto todos se questionam sobre o tipo de herói que o mundo realmente precisa. E com Batman e Superman em guerra um com o outro, surge uma nova ameaça, colocando a humanidade sob um risco maior do que jamais conheceu.
Crítica
A grande pergunta para qualquer fã de histórias em quadrinhos é: quem venceria um suposto encontro entre seres donos de poderes aparentemente iguais? No entanto, mais interessante do que saber quem se daria melhor no final, talvez seja imaginar quem conseguiria se antecipar ao conflito, superando-o e revertendo suas forças em nome de um bem – ou um mal – maior. Essa é, basicamente, a gênese por trás da trama básica de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, filme que nasceu como sequência de O Homem de Aço (2013), mas que com o desenrolar de sua produção se transformou em algo muito mais ambicioso: o embrião de uma nova realidade para super-heróis no cinema: o Universo DC.
Concorrente direta da Marvel, a DC saiu na frente, mas acabou comendo poeira com o passar do tempo diante os avanços da adversária. O primeiro grande passo destes seres superpoderosos na tela grande foi Superman: O Filme (1978), mas assim como aconteceu com os longas estrelados pelo Homem-Morcego, tais lançamentos nunca foram parte de algo organizado e estratégico, como se viu com tudo que a rival realizou a partir de Homem de Ferro (2008). É por isso que, após os quase US$ 700 milhões arrecadados em todo o mundo com sua visão sobre Superman lançada três anos atrás, o diretor Zack Snyder ficou encarregado de solidificar as bases deste novo contexto. E o que poderia ser melhor do que chamar o Cavaleiro das Trevas para se juntar ao time? Talvez agregar outros nomes de peso, como o da amazona Mulher Maravilha!
Muitos podem ter reagido com espanto ao vislumbrar um duelo entre Batman e Superman. Afinal, como se bem sabe, os dois são paladinos da justiça, e ambos são amigos fiéis nas histórias em quadrinhos e nos desenhos animados. Então, o que poderia colocar um contra o outro? Snyder e os roteiristas Chris Terrio (vencedor do Oscar por Argo, 2012) e David S. Goyer (responsável pela trilogia O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan) foram hábeis o suficiente para elaborarem um cenário em que fosse plausível a desconfiança mútua entre eles, talvez nem tanto por seus alter egos, mas mais por suas identidades secretas: o milionário Bruce Wayne, com seu histórico de mortes e perdas, quer saber o que dá direito a um alienígena provocar destruições em massa pelas cidades terrestres, ao mesmo tempo em que o repórter Clark Kent decide investigar o abuso de poder do vigilante de Gotham e o império de medo que este criou na cidade.
Ou seja: eles se estranham justamente por serem... estranhos um ao outro! Não se conhecem, e estão acostumados a suspeitar de tudo e todos. Mas há um mal maior por trás deles, e uma vez cientes desse fato, não hesitarão em unir forças para darem, de fato, origem à justiça! E o nome desse perigo é Lex Luthor. O multimilionário é, em resumo, um ser psicótico preocupado apenas com o poder e em como eliminar qualquer um que possa se opor a ele. O que descobrimos é que Luthor tem usado há anos suas empresas para investigar em todo o mundo qualquer tipo de registro a respeito de seres com habilidades especiais. Será por isso que Diana Prince – a Mulher Maravilha – irá aparecer em seu encalço, em busca de algo que lhe pertence que está de posse do magnata (e um vislumbre de Chris Pine, um dos protagonistas do já anunciado filme solo da heroína, estará à disposição para animar os mais curiosos). E também será nesse momento que teremos acesso às primeiras cenas de Flash (o homem mais rápido do mundo), Aquaman (o rei dos mares) e Ciborgue (um ex-atleta vítima de um acidente que terá seu corpo reconstruído a partir de uma fusão com elementos robóticos). Estes três, principalmente, não terão participação alguma nesta trama, mas já se pode imaginar o que poderão oferecer em aventuras futuras.
Em resumo, Batman vs Superman: A Origem da Justiça tem o pé firme em um dos arquétipos mais consagrados do cinema norte-americano: trata-se, em última instância, de um filme noir, uma trama de suspense sobre detetives decididos a solucionar mistérios e descobrir segredos, inebriados pela aparição surpresa de uma femme fatale para admirador nenhum botar defeito. Luthor sabe a verdade por trás do cruzado vermelho – e por isso usa Lois Lane e até mesmo Martha Kent quando deseja provocar a fúria do Homem de Aço. Batman também é uma preocupação crescente, e colocar um contra o outro não lhe parece ser uma má ideia. Mas ele quer mais, e uma vez que descobre o que resquícios de kryptonita – deixados na Terra após as explosões vistas no filme anterior – podem fazer a um ser de Krypton (descoberta que faz após experiências com os restos mortais do General Zod), sua arma definitiva começa a se moldar. E adquirirá contornos monstruosos em um plano a la Frankenstein, resultando no surgimento do aparentemente invencível Apocalipse (e qualquer um que seja minimamente familiarizado com as histórias do gibis sabe o que isso significa).
O que fãs do mundo inteiro temiam a partir das escolhas do elenco era se Ben Affleck estaria à altura de envergar o distintivo do morcego. Se pensarmos que Christian Bale fez um trabalho fenomenal e que George Clooney foi o homem certo no filme errado, talvez o que Affleck apresenta não seja tão comprometedor. Mesmo assim, ele parece longe da envergadura que o herói prometia, agindo de forma controlada, mais confortável atrás da máscara do que sem ela por perto. Ao contrário de Henry Cavill, que demonstra segurança como Kal-El em sua segunda incursão com o personagem, defendendo bem o ar austero e magnânimo de alguém capaz de qualquer coisa, mas talvez sem um lugar para chamar de seu nesse mundo. Gal Gadot – ex-Miss Israel – surpreende como uma Mulher Maravilha de personalidade própria, e as expectativas em relação às suas novas aparições só aumentaram.
Jeremy Irons (o mordomo Alfred), Amy Adams (Lois Lane) e Holly Hunter (como a senadora June, que lidera as investigações do governo a respeito dos atos do Homem de Aço) entregam a competência de sempre, cada um fazendo participações pontuais, porém determinantes para o andar da trama. A nota em falso, no entanto, está em Jesse Eisenberg como Lex Luthor. A impressão é que ele buscou um registro próximo ao de Heath Ledger como o Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008): perturbado e ameaçador, beirando a insanidade quase sem controle. Quem conhece Luthor, no entanto, sabe que seu perfil é outro, mais frio, autoritário e controlador. Ao invés de buscar uma composição própria, tudo que o ator indicado ao Oscar por A Rede Social (2010) consegue é fazer um arremedo de algo brilhante, mas que aqui não encontra espaço.
Os filmes da Marvel, com heróis brilhantes e coloridos como Homem-Aranha, Capitão América, Hulk e Thor, sempre conseguiram alternar com eficiência momentos de embate com um bom humor descarado, em uma medida que se tornou marca registrada dos títulos da companhia. Quando o assunto é DC, no entanto, tal tom inexiste em sua narrativa: a coisa aqui é muito mais séria. Estamos falando dos seres mais poderosos deste e de outros mundos, sendo eles donos ou não de capacidades extraordinárias. Batman vs Superman: A Origem da Justiça coloca frente a frente aquele que pensa em tudo contra o que tudo pode, mas o filme é muito mais sobre o início de algo maior – ou o fim de um símbolo de proporções absurdas – em nome de um mundo que poderá ser melhor, bastando para isso apenas acreditar. Temos um embate entre deuses, e Snyder, em parceria com seus habituais parceiros – o diretor de fotografia Larry Fong (300, 2006), o editor David Brenner e o compositor Hans Zimmer (ambos de O Homem de Aço) – oferece os elementos necessários para essa interpretação: muita câmera lenta, uma imagem sempre sombria, uma trilha sonora grandiosa. Tem-se, enfim, um épico na mais legítima concepção do termo. A brincadeira, aqui, é para adultos. E é muito bom começarmos a nos acostumar com isso.
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