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Sinopse

Um adolescente do Brooklyn, sem objetivo na vida, luta para escapar de sua vida familiar sombria e levantar questões de auto-identidade. Enquanto equilibra seu tempo entre seus amigos delinquentes, ele conhece uma possível namorada e homens mais velhos.

Crítica

Um jovem senta em frente ao computador e entra num programa de chat à distância com câmera. Um homem mais velho começa a conversar com ele. Elogia sua beleza. Tímido, ele agradece. O interlocutor começa a tirar a roupa. Frankie (Harrison Dickinson) é um adolescente do Brooklyn que está descobrindo sua sexualidade e, apesar de afirmar não saber do que realmente gosta, sua atração pelo sexo masculino está aflorada. Ainda mais quando se trata de alguém com muito mais idade. Beach Rats, da cineasta Eliza Hittman, cria uma história que poderia ser como tantas outras já contadas no cinema LGBT. Porém, o diferencial é a intensidade com que trata a homofobia incrustada nos próprios homossexuais.

Frankie se divide entre dois mundos. De um lado, o convívio com rapazes da mesma idade, heterossexuais, com quem conversa trivialidades, fala a respeito das meninas que "pega" e usa drogas sem se preocupar com as consequências. Do outro lado, sozinho em casa, passa as noites online em conversas picantes com vários caras. Sempre às sombras, com um olhar perdido, como quem tem vergonha de si. Às vezes, encontros ao vivo em locais escondidos, como arbustos. Ele não se considera gay, apenas alguém que está experimentando. E ele experimenta. Já sabe o que é sexualmente falando, mesmo que não aceite.

O protagonista vive numa comunidade em que a ignorância e a intolerância andam de mãos dadas. O verão tedioso em Coney Island aflora seus conflitos internos. Ele tem uma namorada. Na verdade, uma “ficante”, Simone (Madeline Weinstein), a menina do bairro. Em um passeio enxerga duas pessoas do mesmo sexo se beijando. O rapaz questiona a companheira sobre o que ela acha disso. "É apenas gay", diz ela. A dúvida cresce mais. Será que as pessoas ao seu redor são mais tolerantes do que ele pensava? Porém, não é só sua sexualidade que o afeta. Ele está desempregado. Seu pai agoniza por conta do câncer. A mãe, mal sabe em que mundo vive. Frankie está sozinho. Talvez, menos do que imagina, mas a sensação é de desolamento.

Frankie precisa e quer desesperadamente se conectar a alguém. Porém, ninguém ao redor lhe entende. Os homens com os quais se encontra, que poderiam, não querem mais que algo casual. O protagonista não busca entrelaçar-se de forma amorosa, mas também não está afeito a algo tão frívolo e sem importância. Ele quer deixar a própria homofobia interna de lado. Mas como fazer isso sem apoio? Dickinson, seu intérprete, entrega uma grande performance realista que nos faz criar uma ligação com Frankie como alguém que vemos todos os dias ao nosso lado. Sim, existem muitos Frankies por aí que mal sabemos onde, já que é difícil para alguém em sua situação se lançar para fora, demonstrar o que sente.

A diretora Eliza Hittman move sua câmera na intimidade do protagonista, de uma forma naturalista e orgânica. Por seu olhar, o erotismo vem aliado ao perigo quando não se sabe o que está fazendo. Seu trabalho de estreia rendeu prêmio no Festival de Sundance. Não é pra menos. O foco da diretora na tristeza de seu personagem principal é visto com uma empatia absurda, quase inexistente no mundo atual. Seu estudo psicológico encontra naquele Brooklyn de sol, calor e marasmo um cenário perfeito para potencializar mais o drama que os “ratos de praia” tem no cotidiano. Beach Rats é um filme sobre a passagem da adolescência para a vida adulta e o quão agridoce ela pode ser. Ainda mais quando você descobre quem é de verdade e sabe que o mundo não te aceita. Ao menos, não de forma igualitária.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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