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Crítica


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Sinopse

A história da icônica banda de hip-hop Beastie Boys, notabilizada como a primeira formação de b-boys brancos.

Crítica

Para quem está chegando agora ao Planeta Terra, vale informar que Beastie Boys foi um dos grupos de rap/rock mais influentes de todo o mundo no final do século XX / início dos anos XXI. Formado em Nova Iorque em 1981, lançaram o primeiro álbum apenas cinco anos depois (License to Ill, 1986) – o que deixa claro a falta de planejamento que tinham em suas ações. Mesmo assim, Michael Diamond, Adam Yauch e Adam Horovitz se consagraram como fenômenos da música norte-americana, e seus trabalhos repercutem até hoje. No entanto, desde a morte de Yauch, em 2012, vítima de câncer, a banda não mais existe. Sua história, no entanto, segue presente. E foi com o objetivo de relembrá-la – e também prestar a devida homenagem – que o diretor Spike Jonze reuniu os dois membros remanescentes em um palco no Brooklyn não para uma última performance, mas para aquilo que foi, basicamente, uma palestra de lembranças, fatos curiosos e memórias preciosas. O registro desse encontro é esse Beastie Boys Story, que teria tudo para ser um filme de e para fãs apenas, mas graças ao talento dos envolvidos, se mostra – felizmente – muito mais do que isso.

Vencedor do Oscar pelo roteiro de Ela (2013) – e indicado a Melhor Direção por Quero Ser John Malkovich (1999) – Spike Jonze é amigo de Horovitz e Diamond há anos, além de ser ligado ao universo musical desde o início de sua carreira como cineasta. Para se ter uma ideia, dirigiu videoclipes para artistas como R.E.M., Björk, Daft Punk, Beck e Fatboy Slim, trabalhos que lhe renderam um Grammy e cinco MTV Video Music Awards. Mas talvez a parceria mais sólida que tenha estabelecido ao longo dos anos tenha sido justamente com os Beastie Boys. Pelo vídeo da canção Sabotage (1994), por exemplo, recebeu sua primeira indicação ao prêmio da MTV. Foram quase uma dezena de curtas em conjunto, desde um dos iniciais (Time for Livin’, 1993) até um dos derradeiros (Don’t Play No Game That I Can’t Win, 2011). Esse relacionamento, que transcende os aspectos profissionais, fica evidente durante as quase duas horas de Beastie Boys Story. Mas, curiosamente, sem as invencionices que são tão características ao realizador.

A estrutura do documentário, afinal, não poderia ser mais simples. Michael Diamond, também conhecido como Mike D, e Adam Horovitz, apelidado do Ad-Rock, sobem ao palco do King’s Theatre, um belíssimo e enorme cine-teatro localizado no Brooklyn. Motivados pelo sucesso do Beastie Boys Book, que os dois lançaram em 2018 e registrava no papel a trajetória do trio, aqui se encontram para um evento especial, praticamente um ‘meet-and-greet’ de gigantescas proporções. Não pegam instrumentos, nem se arriscam a cantar nenhuma das suas mais famosas canções. Pelo contrário, sentam em bancos – ou ficam andando agitadamente de um lado ao outro – e resolvem repassar os mais notórios episódios da própria história, da adolescência tresloucada, quando experimentaram de tudo e todos e, como chegam a afirmar, o que queriam era apenas provocar o riso nos outros, até os amigos que iam fazendo, os contatos que começavam a se solidificar e as portas que vão se abrindo diante deles, mesmo sem que nunca houvessem pedido, sequer sonhado, com tais possibilidades.

Há de se estar atento para o fato de que o público está em frente a dois verdadeiros mestres do entretenimento. Horovitz, aliás, chegou a tentar carreira em Hollywood – participou de filmes como Um Beijo Antes de Morrer (1991) e Enquanto Somos Jovens (2014). E com a ajuda de Jonze, que usou e abusou de projeções em uma tela imensa atrás deles, oferecem uma visão absurdamente ilustrada de tudo pelo qual a banda passou, do estouro imediato à crise que se deu logo após ao lançamento do primeiro álbum, das inúmeras separações e novas apostas, de fatos engraçados – como terem sido chamados para abrirem a primeira turnê da Madonna! – até os mais constrangedores – como a saída da baterista Kate Schellenbach. Aliás, estes são dois pontos perseguidos com habilidade: bom humor e sinceridade. Se o segundo é sempre alcançado, cabe aos fãs mais devotos verificarem os fatos. Mas quanto ao primeiro, é um dos principais motivos para que a narrativa seja tão empática a qualquer tipo de audiência, não ficando restrita apenas aos iniciados.

Ao término de Beastie Boys Story – um conselho é esperar até o fim da projeção, pois há diversas cenas extras após os créditos – a impressão que fica, no entanto, é a respeito da imensa amizade que reuniu estes três garotos, quando ainda adolescentes, e o quanto essa conjunção foi se solidificando com o passar dos anos. Mais do que isso, é um momento em que Mike D e Ad-Rock aproveitam, também, para uma justa homenagem ao amigo que já partiu, oferecendo os devidos méritos e responsabilidades por tudo que conseguiram juntos. E mesmo que a voz de Spike Jonze seja ouvida em uma passagem ou outra, e que o seu olhar esteja no comando por todo o documentário, este é, obviamente, um filme muito mais dos Beastie Boys do que do diretor. O que, provavelmente, seja também o maior dos seus acertos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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