Sinopse
No sul do Líbano, sobre uma montanha, o Castelo de Beaufort passou de um exército a outro durante séculos. Em 2000, quando as tropas de Israel deixam o local após 18 anos de ocupação, um jovem impulsivo é designado como o último comandante da velha base.
Crítica
Cinco anos após o lançamento em sua terra natal, finalmente entra em cartaz no Brasil o premiado drama de guerra Beaufort, escrito e dirigido por Joseph Cedar. Este longa despertou a atenção internacional quando foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro – perdeu para Os Falsários, da Áustria – mas antes mesmo disso ele já havia conquistado importantes reconhecimentos, como o prêmio de Melhor Direção no Festival de Berlin e 10 indicações à premiação da Academia de Cinema de Israel, inclusive para Melhor Filme e Diretor, ganhando em quatro delas (Edição, Fotografia, Direção de Arte e Som). É curioso perceber que um filme com uma carreira internacional tão impressionante tenha conquistado apenas prêmios técnicos dentro do seu país de origem. O grande vencedor daquele ano em terras israelenses foi A Banda, de Eran Kolirin, que inclusive foi premiado pela crítica em Cannes e no National Board of Review. Os dois possuem histórias comoventes, porém o trabalho de Cedar é muito mais seco, crítico e direto em seus argumentos. E talvez seja esse o motivo da diferença entre suas recepções em casa e no exterior.
O Castelo de Beaufort estava localizado sobre um monte de mesmo nome na fronteira entre o Líbano e Israel. Construído no Século XII, tem sido motivo de disputa por diversos povos durante o último milênio. Sua posição estratégica, que permite uma vista privilegiada em todas as direções, motivou mais de uma dezena de ataques de forças israelenses entre 1976 e 1982, quando finalmente foi ocupado pelo exército vizinho. Esse combate foi conhecido como A Batalha de Beaufort, e o domínio exercido pelos judeus num local que geograficamente pertencia aos libaneses possuiu um significado de extrema importância para mais de uma geração. Hoje em dia, no entanto, o lugar é deserto e esquecido pelos principais poderes. Ainda é uma zona de conflito, mas estes embates ficam muito mais no campo das possibilidades do que da realidade em si.
Assim começa o filme Beaufort, mostrando um grupo de soldados israelenses que foram praticamente esquecidos por lá. Eles entendem o mérito de estarem onde estão e a importância de suas missões ao defender o forte, mas a impressão que vão adquirindo com o passar dos dias é que são os únicos que ainda possuem esse sentimento. Absolutamente nada acontece por lá, e quando algo se passa, serve apenas para confrontá-los diante a inutilidade de todos os seus esforços. Como o especialista em desarmar bombas, que tem sua vida desperdiçada em uma esquina qualquer de uma via há muito já abandonada. Pais, avós, irmãos e amigos sofrem em conjunto, mostrando que a dor que sentem os que lá ficaram encontra ressonância por todo o país. É justamente neste ponto que Cedar consegue imprimir força em seu filme, reforçando o vazio daquilo tudo e colocando em evidência que não se pode viver do passado quando o futuro promete muito mais.
Filmado nas Colinas de Golan devido a uma impossibilidade natural, Beaufort é um trabalho sincero e que ataca diretamente a natureza militarista de uma nação que nasceu tentando se defender. Neste processo, é claro, precisou aprender a atacar, e é possível que tenha exagerado, pois as vítimas estão em ambos os lados do conflito. Filme de ritmo lento e fotografia acurada, apresenta ainda um belo trabalho de atores e uma direção precisa, sem excessos, que explica pouco, mas o suficiente para se fazer entender. É uma aula de História, mas acima de tudo um exemplo universal de como somos pequenos quando sensações básicas, como saudade, amizade, medo, desespero, carinho e esperança nos unem como um só. E como poderia ser diferente?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Alysson Oliveira | 6 |
Francisco Carbone | 9 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
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