Crítica
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Sinopse
Depois de anos vivendo na China, Jérôme volta à França decidido a impedir o irmão de vender a casa da família.
Crítica
De passagem pela França onde nasceu, Jérôme (Mathieu Amalric), empresário residente na China, retoma um contato familiar há muito distante. Contudo, rapidamente o carinho pelo irmão, Jean-Michel (Guillaume De Tonquédec), é encoberto por incontornáveis diferenças. Eles chegam a se engalfinhar na sala da casa da mãe, Suzanne (Nicole Garcia), como provavelmente faziam nos tempos de criança. Aliás, o diretor Jean-Paul Rappeneau filma a cena exatamente para evocar um passado de relações conflituosas que, assim, não precisa ser esmiuçado verbalmente. pois fica evidente na tensão que paira no ar. Esse tipo de construção, porém, é uma exceção em Belas Famílias. Aliás, a maneira como o filme se fundamenta na esfera da fala deixaria de ser um entrave não fosse a fragilidade também do texto. Nem mesmo a notabilidade dos nomes do elenco salva o resultado de um lugar-comum incômodo, primeiro, por conta do mote desgastado, e, segundo, em virtude da monotonia do ritmo empregado.
A situação intrincada em torno da residência da infância de Jérôme, central ao problema que ele pretende solucionar, é apresentada de tal maneira burocrática que chega a enfraquecer momentaneamente as dinâmicas humanas implicadas. São gastos minutos preciosos para esmiuçar a disputa que evolve a prefeitura da cidade interiorana e o comprador que não consegue efetuar o pagamento à proprietária simplesmente por se ver de pés e mãos atados diante de um emaranhado legal. Quando Belas Famílias, depois de um tempo, volta seu foco aos personagens, principalmente às tentativas do protagonista de reconciliar-se com o passado, para isso consertando o presente, o que se vê é um desfile problemático de interações, uma ciranda que subaproveita talentos evidentes como os de Mathieu Amalric, André Dussollier e Karin Viard, para citar apenas três dos intérpretes que fazem o possível com o material ordinário que lhes é dado.
Diante de Belas Famílias há sensação de déjà vu. Os desdobramentos do envolvimento de Jérôme com Louise (Marine Vacth), enteada de seu falecido pai, preenchem um conflito que não se sustenta, justamente porque Jean-Paul Rappeneau opta por aliviar tensões, direcionando a um final feliz, ao menos, condizente com a vocação do filme, um exemplar demasiadamente romantizado. Embora estejam em jogo componentes fortes e devastadores, que graves feridas sejam evocadas como pretextos para este ou aquele comportamento, há uma inclinação inequívoca à conciliação acima de qualquer coisa, fato que limita a dimensão emocional do longa-metragem, ou seja, mina aquilo que pretensamente seria sua âncora. Rappeneau recorre em determinados momentos ao humor, mas o faz tortuosamente, o que acaba por expor sobremaneira as fragilidades de sua concepção. Algumas boas sequências se salvam, mas são insuficientes frente à inépcia do todo.
Belas Famílias é um retrato bastante convencional de dificuldades familiares praticamente universais. Na medida em que a trama avança, essa falta de um olhar próprio e apurado sobre a singularidade das pessoas se avoluma até gerar aborrecimento. O amigo do protagonista serve somente como agente de hostilidade ao amor novidadeiro que ele experimenta nos braços da francesa. A noiva chinesa é mais uma personagem à beira do decorativo, já que sua função – ser barreira à felicidade que acena em meio a um aparente redemoinho de adversidades – está além de qualquer traço que defina sua particularidade. Não fosse tudo isso, ainda há diversos outros fragmentos que denotam a predileção por um dramalhão rasgado, pouco sutil, como quando Jérôme “vê” o pai na casa da meninice, recurso sintomático do sentimentalismo estabelecido, atributo que sufoca complexidades, instalando o filme numa região pouco fértil da representação dos afetos.
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