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Sinopse

Benjamin Zambraia, modelo fotográfico veterano, viveu um complicado relacionamento em meados dos anos 1960. Casualmente, ele conhece uma jovem corretora de imóveis, Ariela Masé, que parece ser a reencarnação de seu antigo amor. Em uma tentativa de resgatar o passado, Benjamin tenta convencer a moça a morar com ele, pois percebe que Ariela, orfã, deve ser a filha desaparecida de seu grande amor, que foi militante e morreu assassinada pela repressão.

Crítica

Benjamim não é um filme qualquer. Seus diferenciais começam pelo elenco, escolhido com cuidado e conduzido de forma competente, indo até quesitos mais técnicos, como a belíssima fotografia e a trilha sonora inspirada. Mesmo assim, não é plenamente satisfatório: o roteiro, ainda que apresente resoluções interessantes, é, no seu todo, irregular, revelando ser o maior problema da produção. Ele primeiro foi escrito pela dupla de cineastas gaúchos Jorge Furtado e Glênio Povoas, que depois repassaram o trabalho produzido para que a diretora Monique Gardenberg desse sua versão final. Assim, a responsabilidade é dela – tanto para o bom, quanto para o ruim.

Benjamim Zambraia (Paulo José, em desempenho comovente) trabalhou a vida toda como modelo fotográfico. Já velho, se tornou solitário, vivendo das lembranças de uma juventude repleta de aventuras e de boas e más escolhas. É desse modo em que leva seus dias, até o momento em que uma dessas memórias vem ao seu encontro: o grande amor de sua vida (Cléo Pires, uma revelação que exala frescor), perdido anos atrás, reaparece na mesma forma em que a viu pela última vez, como uma moça jovem, bela, e cheia de mistérios. Aquilo o intriga, na mesma proporção em que o deixa fascinado. Sua missão será solucionar tais questões que passarão a alternar seu cotidiano entre ilusões e certezas.

Desde o seu início, Benjamim possui uma atmosfera de fortes tons oníricos, como se a ambientação, cenários e personagens fossem todos parte de uma viagem por sonhos e alucinações. Mas essa opção, acertada num primeiro instante, no desenrolar dos acontecimentos se vê sendo substituída, próximo ao final da história, por uma subtrama policial pouco verossímil e nada original. E o pior é que essa alteração de discurso é feita de forma abrupta, gerando efeitos equivocados e decepcionantes.

Aqueles que leram o romance de Chico Buarque em que o filme se baseia foram generosos em afirmar que os defeitos da adaptação constavam também no texto original. Isso, porém, não é uma desculpa válida, pois se havia algo errado, a transposição para o cinema seria a desculpa ideal para que reparações se fizessem necessárias. Além do mais, toda peça artística deve ser julgada única e exclusivamente pelo que é por si só, sem levar em consideração suas origens prévias. Ainda, é claro, que seja quase impossível evitar comparações entre “matriz” e “filial”, mas elas só serão justas em âmbitos de avaliação restritos, e por isso mesmo, pouco populares. Quanto aos espectadores, estes devem considerar as intenções do realizador e o produto por ele apresentado. E, no caso de Benjamim, o que se vê é um conto de interesse legítimo e bela concepção, mas não isenta de “senões” e alguns tropeços. Motivo de lamentação, é certo, pois é perceptível em suas entrelinhas o potencial para o alcance de um resultado mais relevante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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