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Sinopse

Zach Galifianakis sempre sonhou em se tornar uma estrela. Mas quando Will Ferrell descobriu seu programa de acesso público Between Two Ferns e publicou no Funny or Die, Zach virou um motivo de piadas viral. Agora, ele e sua equipe resolvem fazer uma viagem de carro para completar a série de entrevistas com celebridades do alto-escalão para restaurar sua reputação.

Crítica

A princípio, o projeto deste longa-metragem é tão tentador quanto perigoso: esticar o conceito das pequenas esquetes cômicas em que Zach Galifianakis interpreta um péssimo entrevistador, insultando seus entrevistados famosos num cenário ornado por duas samambaias. A possibilidade de ter ainda mais celebridades, ainda mais sátira descompromissada num único longa-metragem parece uma aposta segura de humor. Por outro lado, o roteiro precisava efetuar uma acrobacia considerável para acomodar o teor das curtas esquetes num formato longo, capaz de ultrapassar a simples colagem de entrevistas voluntariamente ruins. Em outras palavras, era preciso desenvolver uma trama única para unir estes segmentos.

Between Two Ferns: The Movie se complica ao tentar fornecer uma narrativa linear. O motor por trás da série de entrevistas conduzidas Zach (Zach Galifianakis) é um tanto risível: depois de uma gravação catastrófica com Matthew McConaughey, quando o estouro do sistema hidráulico do estúdio quase mata o ator afogado, Zach é obrigado por Will Ferrell, proprietário do canal Funny Or Die, a fazer dez novas entrevistas. Ou seja, como punição pela irresponsabilidade, o entrevistador é promovido. Por mais absurda que seja a premissa, ela se encaixa na ludicidade do conceito de Between Two Ferns, que adota outras liberdades evidentes, como transformar o ator Zach Galifianakis num jornalista inexperiente e propor uma galeria de estrelas que aceitam se submeter aos insultos, apesar do histórico nada convidativo do entrevistador.

O interesse por trás das esquetes, e do longa-metragem, ainda se encontra na lista impressionante de grandes nomes de Hollywood dispostos a parodiar suas próprias imagens. Keanu Reeves responde a perguntas sobre ser um mau ator, Benedict Cumberbatch é questionado sobre ter se "vendido à indústria", Brie Larson é confrontada à fama de arrogante com a imprensa, Matthew McConaughey lida com a sugestão de ser apenas um belo homem descamisado, Jon Hamm precisa responder sobre sua condição de “galã burro”, enquanto Rashida Jones fala sobre sua etnicidade e Paul Rudd se defende da suposta vergonha de sua origem judaica. Os atores são cutucados pelo imaginário popular, por suas personas, dentro do conforto de se encontrarem num contexto fictício. Isso significa que a grosseria do suposto documentário é atenuada pela ficção ao redor: os atores-entrevistados estão obviamente cientes do conteúdo que os espera.

No entanto, é curioso que o longa-metragem aproveite tão pouco a presença ilustre desses atores, a maioria muito desenvolto com a comédia e o improviso. Cada entrevista de Zach dura pouquíssimo tempo, ainda menos do que as esquetes nucleares do Funny Or Die. A principal vantagem deste formato extenso seria a possibilidade de brincar mais com cada ator, expandir o jogo de insultos e provocações, desenvolver as tiradas cômicas de ambos os lados. Mesmo assim, em muitos casos – vide as entrevistas com Awkwafina, Hailee Steinfeld e Tessa Thompson – a interação é tão curta que deixa a impressão de material sabotado pela edição. Como todas as entrevistas, reunidas, somam menos de 15 minutos, resta ao projeto preencher a viagem com mais uma hora de trapalhadas da produção e uma viagem existencial de Zach Galifianakis em busca de sua verdadeira identidade enquanto entrevistador.

 

Neste aspecto, a comédia perde bastante o fôlego. Por mais que o mockumentary se esforce em fornecer uma pluralidade de situações ao road movie (a paixão pelas samambaias, a questão do prazo de filmagem e do orçamento), a narrativa se arrasta, sem conflitos reais para transformar a história ou preencher o espaço entre cada gravação. Zach permanece um personagem fraco, assim como os tipos que o cercam: a produtora ingênua, o assistente de câmera descrente, a assistente de arte otimista. O filme jamais constrói uma evolução orgânica da trupe, tornando-se ainda mais frágil quando se leva a sério – vide a pretensão de propor crises de identidade ou laços profundos de amizade. Between Two Ferns: The Movie possui um potencial cômico imenso, ainda que limitado pelo roteiro e montagem, enquanto reserva espaço demasiado a uma jornada banal de quatro amigos. O diretor Scott Aukerman possui evidente controle da linguagem do falso comentário, porém o deslocamento de foco, da paródia de Hollywood para a difícil vida por trás das câmeras, produz uma sensação de desperdício e corrupção da proposta simples, porém eficaz, das esquetes originais de Between Two Ferns.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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Bruno Carmelo
4
Daniel Oliveira
4
MÉDIA
4

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