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Sinopse

Depois de matar o próprio pai a fim de defender sua mãe, Rio foge pelo Velho Oeste. Seu tio inicia uma caçada por ele, situação que acaba envolvida no conflito entre um famoso fora da lei e um xerife bastante respeitado.

Crítica

No Velho Oeste nem sempre é simples traçar limites entre certo e errado. Embora existam leis escritas, os comportamentos de mocinhos e bandidos frequentemente são similares ao ponto de borrar fronteiras já tão cinzentas. De acordo com as normas estabelecidas à melhor convivência em sociedade, Rio (Jake Schur) se torna inequivocamente criminoso quando executa o pai que espancava sua mãe até a morte. Porém, a ação se justificaria como medida protetiva do ente querido ameaçado, enquanto legítima defesa. Diante da revelação do assassinato, em momentos diferentes de Billy The Kid: O Fora da Lei, tanto o procurado Billy (Dane DeHaan) quanto o xerife Pat (Ethan Hawke) demonstram empatia pelo garoto separado da irmã sobrevivente, feita de refém por seu tio ansioso por vingança interpretado por Chris Pratt. Toda essa complexidade moral está ali colocada, à disposição de quem estiver procurando mais do que intensos instantes de duelo armado, ainda que não seja distribuída ao longo do filme, assim pouco reiterada pelo ator/cineasta Vincent D'Onofrio.

Billy The Kid: O Fora da Lei é o título brasileiro inadequado, pois sugere que a trama é a respeito do mítico Billy The Kid, pseudônimo de William Henry McCart. The Kid (O Garoto, em tradução livre), o original em inglês, é eficiente porque ao mesmo tempo se refere ao jovem malfeitor, uma das figuras lendárias do Oeste selvagem norte-americano, e ao verdadeiro personagem central da trama, exatamente Rio, o pré-adolescente levado ao homicídio. De certo modo, a história segue os princípios básicos das narrativas de formação em que um menino abandonado à própria sorte, e/ou carente em certo sentido, é levado a se identificar com um sujeito considerado perigoso, ou seja, alguém que sobressai justamente por ser colocado socialmente à margem, fazendo dessa condição uma potência, não uma fraqueza. Mas, evidentemente Vincent D'Onofrio não quer apenas sinalizar a simetria entre o jovem e o homem cuja cabeça está a prêmio, pois disposto em conjecturar um triângulo por meio da inclusão de Pat Garrett. E o resultado é parcialmente bem-sucedido.

Pat é paternal, disposto a convencer Rio de seguir a retidão. Embora seu discurso contemple o entendimento de que a lei tem variáveis condicionadas por outros elementos, sua conduta como eminente representante da ordem carece de nuances e ambivalências, tendo em vista a sinalização das contradições intrínsecas aos percursos compartilhados por todos (mesmo os em lados opostos). Já Billy se apresenta imponentemente como influência direta, acolhendo o garoto necessitado de ajuda imediata e orientação para saber o que fazer com as culpas e as dúvidas que lhe pesam sobre os ombros. Quando grita aos moradores da pequena cidade que não desejava ter matado o policial encarregado de o vigiar, somente agindo porque o candidato a cadáver tentou se rebelar, ele coloca em xeque o sangue frio pelo qual acabou se tornando amplamente conhecido. Vincent D'Onofrio, infelizmente, não mergulha fundo na psicologia desse personagem que acredita ser justificável agredir os obstáculos entre ele e os seus objetivos, guiado por um código ético bastante próprio.

À medida que o enredo anda, Billy The Kid: O Fora da Lei permanece num meio termo, nem sempre incômodo, mas certamente debilitante, entre ser um exemplar focado em personagens ou em circunstâncias. Vincent D'Onofrio avança em vários momentos quanto à investigação dos paradoxos que tornam complexas as ações e reações das pessoas. Já em outros, parece principalmente preocupado com o desenho de um Velho Oeste movido, basicamente, por vinganças sucessivas, onde empilhar corpos para conseguir chegar a uma espécie de equilíbrio (para quem?) é absolutamente natural. Ethan Hawke é subaproveitado, sobretudo porque o filme restringe um acesso maior a Pat Garrett, sinalizando especialmente sua diligência e a disposição por livrar a sociedade de um perigo brutal. Já Dane DeHaan ganha espaço e tempo para fazer de Billy The Kid um tipo interessante, ainda que toda a dinâmica com a namorada grávida também configure um claro desperdício. O destaque do elenco principal é Jake Schur. Ele agarra as oportunidades para sobressair nesse bom faroeste que, como toda produção em processo de resgate do gênero fadado aos saudosistas, tem um quê de reverente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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