Sinopse
Blitz acompanha George, um garoto inglês que vive em um dos momentos mais tensos do século XX. Londres está sendo bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial e sua mãe procura protegê-lo, enviando o menino para um abrigo do governo. Acuado, ele decide fugir. Em sua jornada para casa, descobrirá muitos sentimentos. Com Saoirse Ronan.
Crítica
Steve McQueen consolidou sua reputação como diretor que não apenas narra histórias, mas as eleva com intensidade visceral. Obras como Fome (2008) e Shame (2011) exploraram dramas pessoais com dualidade, enquanto 12 Anos de Escravidão (2013) alcançou grandiosidade histórica, rendendo-lhe o Oscar de Melhor Filme em 2014. Embora tenha continuado a trabalhar em projetos de destaque ao longo da última década, em Blitz, aposta tecnicamente competente sobre a Segunda Guerra Mundial, McQueen se aventura por caminhos que, ao tentar abarcar ideias demais, acabam diluindo a ousadia característica de seu estilo.
A história nos transporta para Londres entre 1940 e 1941, durante os devastadores bombardeios aéreos conduzidos pela Alemanha nazista. Nesse cenário de desespero, acompanhamos George (Elliott Heffernan), garoto entregue pela mãe, Rita (Saoirse Ronan), aos cuidados do governo britânico. Com o pai ausente e a mãe obrigada a trabalhar na indústria, George precisa enfrentar não apenas a separação familiar, mas também o preconceito por ser filho de mulher branca com homem negro (que George não conhece). Sua odisseia começa quando decide abandonar o trem que o levaria a um abrigo infantil, em tentativa desesperada de voltar para casa.
Através dos olhos de George, mergulhamos nos horrores cotidianos de período marcado por destruição. A jornada do garoto, além de revelar os desafios de sobreviver em cidade que precisava ser reconstruída diariamente, aborda também as consequências do racismo estrutural. Porém, apesar do talento do jovem ator e da riqueza visual do projeto, a narrativa acaba tropeçando na repetição de eventos semelhantes, subtraindo o impacto de sua trajetória. O excesso de simbolismo não encontra equilíbrio com a urgência do drama humano que deveria ser o coração da empreitada.
Um dos aspectos mais provocativos de Blitz é sua desconstrução do mito da solidariedade incondicional entre os Aliados. Enquanto os brancos encontram apoio mútuo, George percebe que sua cor o isola, com exceção de raros momentos de empatia entre outros marginalizados. Essa perspectiva, contudo, é enfraquecida pela dispersão narrativa. A inclusão do soldado Jack (Harris Dickinson), por exemplo, é simbólica, mas irrelevante para o enredo. Sua presença poderia ser suprimida sem prejuízo algum, ilustrando como McQueen, ao tentar condensar múltiplas histórias, compromete a profundidade de cada uma.
Algo semelhante ocorre com Rita, vivida pela talentosa Saoirse Ronan. Embora sua personagem represente mulher resiliente em contexto hostil, sua relação com George carece de densidade. Em vez de explorar o drama de ser mãe solteira de menino negro em época adversa, o roteiro recorre a clichês, culminando em cena exagerada com cara, roupa e perfume de “award-bait”. Assim, desperdiça-se oportunidade de aprofundar a complexidade de seus dilemas.
Blitz é produção ambiciosa que aspira ser mais do que consegue entregar. Sua tentativa de abordar temas abrangentes como racismo, desigualdade e resistência acaba ofuscada por execução que falta em nuances. O longa impressiona visualmente, mas carece de emoção genuína, como se os personagens fossem peças de estudo histórico em vez de figuras humanas. Apesar disso, McQueen reafirma sua habilidade de criar imagens poderosas, mesmo que a alma que antes acompanhava seu trabalho pareça cada vez mais distante.
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