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Sinopse

A banda brasileira Blitz é apresentada do surgimento no emblemático Circo Voador até as turnês internacionais e o enorme sucesso. Fatos já conhecidos e curiosidades sobre a banda e sua trajetória, além de hábitos e costumes, modas e o rico cenário musical da década de 1980.​

Crítica

A Blitz, banda liderada pelo ator e músico Evandro Mesquita, foi um verdadeiro fenômeno da indústria fonográfica brasileira nos anos 70/80. Existia ali um balanço muito raro entre a musicalidade natural da galera que extraia sua inspiração dos dias nas praias cariocas, em meio a uma fauna específica, e as composições repletas de ginga. Antes mesmo da profissionalização, Você Não Soube Me Amar já era um sucesso enorme. A história desse estouro é contemplada em Blitz: O Filme. Paulo Fontenelle, o diretor, não é aquele calejado nesse tipo de documentário centrado em celebridades cantantes, o que capitaneou os elogiados longas Loki (2008), sobre Arnaldo Batista, e Cássia (2014), a respeito de Cássia Eller. É seu homônimo com menos tarimba na área. E ele faz um filme bem convencional, no sentido de narrativamente se contentar com uma colagem de depoimentos que vão se autocompletando de modo simples. É uma espécie de versão oficial, de cinebiografia autorizada, pois são raros os instantes em que depoentes são contraditos ou algo que o valha.

Blitz: O Filme conta, em ordem estritamente cronológica, os anos de formação da banda, a ligação com o grupo teatral de vanguarda Asdrubal Trouxe o Trombone, bem como os pormenores da entrada de cada integrante. Assim mesmo, didaticamente, tim-tim por tim-tim. Todos têm espaço de fala, uns mais, outros menos, isso de acordo com o valor do conteúdo destas ao entrelaçamento proposto pela montagem. Evidentemente, Mesquita é a figura principal, o mais carismático entre os jovens que outrora foram rapidamente arremessados numa “máquina de moer carne”, como diz um empresário a certa altura. Todavia, ao invés de modular as tonalidades do filme pelas circunstâncias, ou mesmo de sublinhar com mais afinco determinadas conjunturas, o realizador prefere se focar nas peculiaridades dos panoramas formados gradativamente, como supracitado, num processo de cerzimento direto, sem grande vontade de gerar complexidade. O intuito principal é criar o painel informativo, não necessariamente pormenorizado.

Há passagens impagáveis em Blitz: O Filme, como a deliciosa narração de Evandro Mesquita sobre um show no Maracanã que acabou com ele literalmente driblando homens vestidos de ursinhos e ajudantes do Papai Noel a fim de marcar o seu primeiro tento nas quatro linhas mais famosas do Brasil. Certas potencialidades são apenas mencionadas, mas não estudadas, como a teatralidade da Blitz, sua singular qualidade cênica, aliás, um dos diferenciais da trupe. Seguindo a lógica temporal, tem-se a exposição dos motivos que levaram ao primeiro rompimento, emoldurada pelo grafismo das manchetes estourando na tela a fim de fornecer ao conjunto um bem-vindo dinamismo visual. Nesse ponto é possível intuir, especialmente por conta de hesitações na fala e pequenos silêncios que denotam a ponderação de palavras, que há muito mais ressentimentos do que os ali verbalizados. Uma pena que Fontenelle não ressalte isso como algo sintomático.

Blitz: O Filme tem um esqueleto careta, formalmente não fazendo jus ao legado da Blitz. O fato do âmbito comercial ter transformado a banda, inclusive, num produto para consumo infantil, tampouco é estudado profundamente no filme, quando muito apontado com a displicência semelhante a do trânsito pelos demais tópicos, tampouco esmiuçados. Há diversos vieses pelos quais abordar esse êxito meteórico extinto parcialmente quando fulgurava no firmamento da música brasileira. A última meia hora, destinada à observação do retorno menos pautado pela vontade de fazer sucesso, é apressada, como que para cumprir uma tabela estipulada pela produção. Faltam, então, recortes rigorosos ou ainda uma intenção de desvencilhar-se de estruturas próprias do documentário televisivo e/ou puramente jornalístico. Sai-se da sessão sabendo das etapas desse capítulo vital da nossa música, mas com a sensação de acesso tão e somente ao superficial.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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