Crítica
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Sinopse
Na pequena vila de pescadores de Easter Cove, as irmãs Mary Beth e Priscilla acabam de perder a mãe e ficam responsáveis pelas dívidas do lar. Quando um encontro fatídico em um bar local força Mary Beth a matar um estranho em legítima defesa, ela pede ajuda para Priscilla - que é mais racional e saberá o que fazer. A dupla planeja se livrar do corpo sem deixar vestígios, mas o crime não passará despercebido.
Crítica
Pequena cidade, grandes segredos. Essa é a frase de divulgação impressa no cartaz de Blow the Man Down, thriller independente norte-americano que foi premiado no Festival de Tribeca, indicado ao Film Independent Spirit Awards e, mesmo assim, ficou inédito nos cinemas brasileiros, tendo sido lançado diretamente em streaming pela Amazon Prime Video. E se o título por aqui permaneceu o original, tal expressão pode ser genericamente traduzida como “afundar o navio”, algo como “jogar tudo pelos ares”, ou “que tudo se exploda”. Mais ou menos o que acontece nessa trama em que nada é o que parece, mas rapidamente as máscaras, tão bem ajeitadas ao longo dos anos em um vilarejo onde o tempo parece não passar, vão caindo uma a uma, dando lugar aos verdadeiros rostos e expressões que comandam o lugar. E tais revelações não apenas se mostram surpreendentes, mas também conquistam pela forma e aparência que vão assumindo, em um jogo de mentiras absolutamente insuspeito, e por isso mesmo ainda mais interessante e divertido.
O longa escrito e dirigido por Bridget Savage Cole e Danielle Krudy tem como protagonistas Priscilla (Sophie Lowe, de Amor Sem Pecado, 2013) e Mary Beth Connolly (Morgan Saylor, de Homeland, 2011-2013). Elas estão mais uma vez reunidas para o velório da mãe, que morreu deixando para as duas um acumulado de dívidas e a penhora da casa onde a primeira mora, numa pequena comunidade costeira perdida no norte dos EUA, quase na fronteira com o Canadá. A caçula, que há muito havia deixado a família em busca de melhores oportunidades, está de passagem, e pensa em sair dali o quanto antes. Mas quando, na mesma noite do velório, decide sair com um desconhecido em um bar e depois, temendo ser agredida por ele, acaba matando o homem por acidente, sua única solução será recorrer à irmã, aprofundando seus laços com a região. Agora há um crime – e uma verdade a ser escondida a todo custo. Ainda que nem mesmo elas tenham plena noção de onde acabaram de se meter.
Isso porque em Easter Cove a lei não é praticada pelas vias mais tradicionais. Apesar dos homens que aparentam estar no comando, com os braços fortes que diariamente se aventuram no mar em busca do pescado que lhes garante a sobrevivência, ou a força policial que segue na ativa acreditando que, ao ir de um lado para outro, imagina estar no controle das situações, a real configuração da ordem que determina o que pode ou não ser feito é bem diferente. E essa só começa a se manifestar quando as duas irmãs, sem saber o que fazer com o falecido, decidem despejá-lo no oceano. Porém, no dia seguinte, quando o oficial Justin (Will Brittain, de Kong: A Ilha da Caveira, 2017) bate na porta da peixaria que elas herdaram, pedindo o barco delas emprestado para buscar um corpo não identificado que foi encontrado nas redondezas, a tensão só se intensificará – ao menos até o espectador se dar conta que se trata de uma outra pessoa, no caso, uma mulher.
Neste ponto, outras verdades começarão a emergir. A menina morta trabalhava para a senhorita Devlin (Margo Martindale, em atuação hipnotizante, indo da ameaça ao reconforto num estalar de dedos). Ela, assim como a mãe das garotas e outras três senhoras altamente respeitáveis e acima de qualquer suspeita, eram as reais autoridades veladas da região. O frágil balanço que equilibrava essas relações, no entanto, foi rompido com a morte de uma delas, e agora há dois extremos em confronto: a madame que quer manter o prostíbulo que comanda há tantos anos, e o trio de anciãs – lideradas por uma amável e dissimulada June Squibb – que acredita ter chegado a hora de dispensar os serviços daquela que sempre fizeram vista grossa. Um assassinato – ou dois, ou mais – é apenas mais uma gota d’água em um copo que há muito já estava prestes a transbordar.
Entre tortas de maçã e subornos deixados embaixo das escadas, a dupla de realizadoras de Blow the Man Down vai, lentamente, construindo uma rede de intrigas e dissimulações que a todo instante oferece uma nova camada de desafetos e reviravoltas. Estas servem, também, para aumentar a curiosidade a respeito do próximo desenlace que, inevitavelmente, acabará acontecendo. Uma história em que os chefões mafiosos são vovozinhas que muito bem poderiam passar por pacatas e inocentes é, por si só, suficiente para justificar um olhar mais demorado. Felizmente, há mais por aqui além das aparências. E sem entregar desfechos tirados da cartola, será nessa luta silenciosa, na qual um mero semblante visto do jardim pode ter outros significados que não somente o aceno entre vizinhos, restará o canto dos pescadores, aqueles que tudo sabem e conhecem, e justamente por isso, nunca interferem. Afinal, é assim que as coisas têm sido feitas desde o início dos tempos. E se funcionaram ontem e hoje, porque duvidar de sua eficiência no amanhã?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Sarah Lyra | 8 |
Lucas Salgado | 8 |
Bruno Carmelo | 8 |
Francisco Russo | 8 |
MÉDIA | 6.4 |
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