Crítica
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Sinopse
Após uma série de problemas comportamentais, o adolescente João é internado pela família em uma clínica psiquiátrica. No local ele conhece Judite, também paciente, por quem logo se apaixona. Ela não tem muito tempo de vida e ambos sabem disto, o que não impede que iniciem um intenso romance.
Crítica
Até que ponto é preciso estar preso para encontrar a liberdade? Afinal, em tempos como os de hoje, em que tudo é possível e liberado, não chega a ser nenhuma surpresa alguém se sentir enclausurado dentro de sua própria vida, sem saber por onde começar diante de tantas e infinitas opções. E num momento como esse, um simples passo em falso pode significar tanto um retrocesso quanto um avanço inesperado, e como tal mudança deverá ser encarada dependerá apenas do protagonista desta jornada. Pois é exatamente isso que verificamos acontecer com o jovem João (João Pedro Zappa), personagem principal de Boa Sorte, longa de Carolina Jabor (filha, como o sobrenome já adianta, do consagrado Arnaldo Jabor).
Se a expectativa em torno do primeiro longa de ficção da cineasta, herdeira de um dos diretores mais instigantes do cinema brasileiro moderno, já era grande por si só, a partir do momento que outros talentos se uniram ao projeto a curiosidade a seu respeito só tendeu a aumentar. Afinal, não é qualquer profissional da área que consegue contar com Fernanda Montenegro no elenco (ainda que numa participação especial) e Jorge Furtado como roteirista (atuando ao lado do filho, Pedro), ainda mais num trabalho de estreia. Mas apesar do pulo ter sido alto – e como diz o ditado, quanto maior a ambição, pior é a queda – Boa Sorte cumpre à contento o que dele se espera e, felizmente, vai além. Amparado pelo sentimento expresso no título, este romance de formação, sobre um menino pronto a se tornar homem e o que ele precisa enfrentar nesse processo, é de fácil identificação, e muito disso se deve à condução segura e tranquila da realizadora, aos diálogos inspirados e aos bons desempenhos dos atores escolhidos para defendê-los.
Zappa, após alguns pequenas participações no cinema e na televisão, é uma revelação. Filho caçula de uma família de classe média desestruturada – o pai (Felipe Camargo) e a mãe (Gisele Fróes) mal conversam entre si, enquanto que o irmão (Fabrício Belsoff) quer saber apenas de si próprio – João é um garoto que tenta levar a vida como pode, experimentando de tudo e fazendo quase nada. Até que uma quase overdose de remédios coloca os pais em alerta, que sem saberem como agir decidem interná-lo em uma clínica de recuperação. Lá, ao contrário do problema ser transferido, ele serve como muleta para um processo muito maior de redescoberta pessoal. Ele, pela primeira vez, conseguirá ver a si mesmo, deixando de ser invisível para si e para os outros. E para tanto será de importância fundamental o relacionamento que o aproxima de Judite (Deborah Secco, dez quilos mais magra e numa composição admirável), uma soropositiva viciada em drogas que não tem muitas esperanças de sair dali – ao menos não viva.
Ao contrário de outro título nacional que transita por um universo bastante similar – Bicho de Sete Cabeças (2001) – Boa Sorte encara a temática de despreparo paterno e da dependência química entre jovens de modo leve, porém nunca despreocupado. As verdades estão lá, porém evitam-se os discursos enfadonhos e didáticos. A obra, ao se apresentar neste formato, torna o debate ainda mais relevante e acessível. Para tanto, é importante destacar as boas atuações de Zappa e Secco, que revelam um entrosamento surpreendente, principalmente por serem tão diferentes entre si. A sintonia que estabelecem é precisa, e Jabor é hábil em criar situações pensadas para que essa se faça presente sem maiores esforços.
Baseado no conto Frontal com Fanta, de Furtado, Boa Sorte foi apresentado pela primeira vez durante o 6th Paulínia Film Festival, e depois seguiu uma carreira por diversos festivais nacionais – Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará – até chegar ao circuito comercial. Merecidamente premiado como Melhor Filme pelo Júri Popular em Paulínia, este é um filme que tem seu ponto forte justamente na sua fácil comunicação com um público mais amplo e pertinente. Um bom sinal de que a produção cinematográfica nacional não precisa se restringir às comédias superficiais que parecem dominar nosso cenário – afinal, ainda há vida inteligente por aqui disposta a nos apresentar filmes tão interessantes quanto este.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Edu Fernandes | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Bruno Carmelo | 4 |
Francisco Carbone | 5 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.2 |
Gosto da proposta do filme. Gosto de várias cenas como: Judite dançando completamente livre pelos corredores da loucura; a visita invisível aos pais do joão;os pais do João; o diálogo silencioso em que se entregam os amantes... Não gosto da Judite plasticamente (peitos parecem falsos) , do João inseguro incoerentemente se expõe , altivo, em sua nudez; do clichê altruísta do amor abandonado , da morte com legendas... Muitos assuntos que se perdem nas propostas como aquele artista (louco) da clínica ...mas fica o gosto de nossa gente, nossa história que se conta e que não tardará a encantar-nos.