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Sinopse

Nina morou durante boa parte da infância com o avô no interior, mais tarde se mudando para a cidade grande. No entanto, com a morte do parente, ela precisa voltar para administrar seu hotel, onde conhece um argentino recém-chegado ao Brasil.

Crítica

Bodas de Papel, o segundo longa dirigido por André Sturm é quase tão ruim quanto o anterior, Sonhos Tropicais (2001). A diferença é que desta vez ele deixou um pouco de lado a arrogância e o despreparo – seus enganos são todos relativos à falta de competência profissional, mesmo. Ao contrário de sua primeira incursão por trás das câmeras, uma adaptação histórica do romance de Moacyr Scliar que decepcionou tanto os fãs do imortal autor gaúcho como também os curiosos por um texto que dizia respeito a um importante episódio do nosso passado, desta vez Sturm vai direto ao ponto: assim como o título já deixa entender, o foco desta vez está numa história de amor que acaba de completar um ano, como ela começou e como será o seu desfecho.

Se o diretor não desperta muito interesse, a expectativa sobre Bodas de Papel diz respeito unicamente ao quarteto principal de intérpretes. Como protagonistas estão o argentino Dario Grandinetti (do almodovariano Fale com Ela) e Helena Ranaldi, em sua estreia no cinema. E até que não se saem tão mal assim. Ele é um ator competente, obviamente, mas não está em seus melhores dias. Percebe-se claramente que faltou uma orientação mais segura. Agora, se no trabalho de um ator experiente como ele é possível perceber este deslize, imagine no dela, que nunca antes havia atuado para a tela grande? Ranaldi é uma das mais belas atrizes brasileiras, mas sua presença em cena é apagada, e todos os seus pontos fortes são desperdiçados numa atuação frouxa, sem paixão nem postura adequada. Por fim temos como coadjuvantes de luxo os veteranos Cleyde Yáconis (há anos afastada do cinema) e Walmor Chagas (que recentemente esteve à frente de Valsa para Bruno Stein). Os dois possuem escassas oportunidades para aprofundarem seus personagens, resultando em participações sem muito sentido. Mesmo assim, conseguem algum destaque, principalmente Walmor, no terço final da trama. O engraçado é que o único desempenho premiado do filme foi justamente o de Yáconis, vencedora do Calunga de Melhor Atriz Coadjuvante no último CinePE, o Festival de Cinema de Recife. Obviamente uma conquista que diz mais respeito ao seu carisma como intérprete do que pelo trabalho em si.

A cidade de Candeias, no interior de São Paulo, deveria ter desaparecido com a construção de uma represa. Como estes planos não se concretizam, os antigos habitantes da pequena vila decidem retornar aos seus lares. Entre eles estão Nina, que reassume o hotel do avô já falecido, e Miguel, arquiteto chamado para as reformas necessárias na região. Os dois acabam se conhecendo e, claro, se apaixonando um pelo outro. O que era atração vira amor, e quando percebem ele já está decidido a deixar a capital para ir morar no interior com ela. Mas, um ano depois, uma tragédia se impõe no destino deles, alterando um rumo que parecia já estar traçado. Este fiapo de enredo compõe a história de Bodas de Papel. Dito assim, não precisa ser nenhum gênio para adivinhar como tudo irá terminar.

O maior problema do filme nem é o roteiro fraco, mas a simples falta de empatia que o projeto inteiro (não) desperta sobre o espectador. Meia hora de exibição se passa e a impressão que temos é que foram horas. E isso porque simplesmente nada acontece. E conduzido de mão frouxa e com um ritmo muito fraco, a pouca atenção dedicada logo vai para o espaço. André Sturm é uma pessoa importante para o cinema brasileiro. Mas não enquanto cineasta, e sim como distribuidor (é responsável pela Pandora Filmes), programador (cuida das salas do HSBC Belas Artes, em São Paulo) e político (é presidente do SIAESP – Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo, além de exercer destacada atuação na Secretaria do Estado da Cultura de SP). Ou seja, o que lhe falta mesmo é humildade. Que faça o que sabe bem fazer, e deixe de lado esta ambição cinéfila. Nós, o público, agradecemos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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