Crítica
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Sinopse
Dois perus que não são nem um pouco amigos. Mas, eles são obrigados a colocar as diferenças de lado tão logo embarquem numa aventura inusitada, viajando pelo tempo e mudando os rumos da História.
Crítica
Que cada país possui sua própria cultura é algo evidente. Mas há peculiaridades tão típicas de determinados lugares que para os estrangeiros elas podem soar, no mínimo, estranhas. Uma delas diz respeito ao feriado nacional norte-americano, o Dia de Ação de Graças, e a uma ação que acaba se refletindo um mês depois. Isso porque, ao contrário do que acontece no mundo inteiro – em que o prato principal do Natal é o peru – esta é a iguaria mais aguardada nos Estados Unidos em novembro, mais especificamente na última quinta-feira do mês. Porém, desde que Harry Truman assumiu a presidência em 1945, uma curiosa tradição se instalou: a de perdoar ao menos um peru com um “indulto presidencial”. E é basicamente sobre isso a história de Bons de Bico, animação que, se não funcionou muito bem nem no seu país de origem, quem dirá por aqui?
Beto (Marcius Melhem na versão brasileira e Owen Wilson no original) é um peru que não se encaixa muito bem junto ao bando em que cresceu. E simplesmente por uma coisa: ele é esperto, ao contrário dos demais, idiotas demais para perceberem que o único propósito de passarem a vida sendo engordados é para acabarem na mesa do fazendeiro que os criam. Certo dia, no entanto, ele é escolhido justamente pelo presidente da nação, que o salva do trágico destino anunciado e o leva para ser animal de estimação da filha. Lá ele acaba sendo encontrado por Zeca (Leandro Hassum por aqui, Woody Harrelson nos EUA), um peru um tanto desmiolado que tem uma missão: invadir uma máquina do tempo secreta desenvolvida pelo governo americano e viajar para o passado, até o dia em que a foi inventada a moda de matar os perus para a festa de Ação de Graças. O objetivo deles não é salvar apenas uma ave, mas sim todas!
O principal problema de Bons de Bico é seu roteiro, que possui diversas ‘quebras’ no ritmo, o que torna sua compreensão um pouco complicada para o público ao qual o filme se dirige: crianças abaixo dos dez anos. Há exatamente quatro momentos na trama: (1) a fazenda onde Beto se criou; (2) o perdão presidencial e a ida para o novo lar; (3) a viagem no tempo e a vida nos Estados Unidos do século XVII; e (4) a volta ao presente e sua conexão com todos os tempos passados. Com tanto vai e vem, esse desenvolvimento termina prejudicado, com um andar truncado e cansativo. Porém, se sua estrutura exige uma atenção mais dedicada, o humor e os diálogos que emprega são bastante simplistas. Ou seja, é quase como se não houvesse uma conexão entre estes dois aspectos. Desta forma, nenhum tipo de espectador fica inteiramente satisfeito. Sem falar nos momentos finais do enredo, bastante dramáticos e violentos – inclusive com uma morte importante – o que pode assustar os mais pequenos.
Bons de Bico é dirigido por Jimmy Hayward, o mesmo do curioso Horton e o Mundo dos Quem (2008) e o do terrível Jonah Hex (2010), versão live action do herói da DC Comics. Mas Hayward não é novato no mundo da animação, já tendo se envolvido, enquanto animador, em produções como Toy Story (1995), Monstros S.A. (2001) e Procurando Nemo (2003), entre tantos outros. Faltou-lhe aqui, portanto, a melhor lição que poderia ter aprendido no mundo da Pixar: não basta uma técnica exemplar, é preciso também um texto coeso e inteligente, que não subestime sua audiência, independente de sua idade. Ao invés disso, temos um filme movimentado, porém também confuso, com muitos personagens sem identidade nem conteúdo. Ou seja, tão esquecível quanto a ceia do Natal passado.
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