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Sinopse
Três garotos ainda inocentes, mas prestes a atingirem a adolescência, matam aula em San Fernando Valley, na Califórnia, para consertar um drone quebrado antes que seus pais cheguem em casa. O que prometia ser um dia comum transforma-se em uma grande aventura repleta de perigos.
Crítica
Na mesma linha de Conta Comigo (1986) e Os Goonies (1985), em Bons Meninos é uma aventura que demarca o paradigmático fim da pré-adolescência. Completar determinada missão, desvencilhar-se de uma (ou várias em torno da principal) adversidade proposta, é necessário para cumprir um rito de passagem caracterizado essencialmente pela perda da inocência. Mas, aqui o cineasta Gene Stupnitsky prefere um tom mais ameno, numa trama que passa longe de ressaltar certas problemáticas de modo colateral, tais como as várias disfuncionalidade familiares. Max (Jacob Tremblay), Lucas (Keith L. Williams) e Thor (Brady Noon) formam um trio inseparável. O primeiro deseja ardentemente beijar a menina pela qual está perdidamente apaixonado; o segundo é confrontado pelo divórcio dos pais enquanto mantém-se íntegro às suas paixões, entre elas a verdade e as regras; o terceiro busca aprovação social, quer ser um sujeito descolado, nem que para isso tenha que deixar de lado sua paixão/vocação. Somadas, essas experiências heterogêneas fornecem bons indícios do que é preciso fazer/largar/assumir/rechaçar nesse período antes da tão almejada e obscura adolescência.
O elemento que o cineasta repetidamente utiliza para sublinhar a pureza regendo o comportamento dos meninos é a ignorância quando ao sexo. Além das demonstrações corriqueiras, tais como não saber beijar, frequentemente eles se deparam com os brinquedos eróticos dos pais de Thor, sempre os interpretando como algo diferente, às vezes lúdico. Na imaginação dos garotos, a boneca inflável vira um item de treinamento médico; o massageador anal é ressignificado como colar malcheiroso; vibradores adquirem contornos de armas ou utensílios práticos para os tirar de enrascadas. Essa candura exposta está ali para mostrar ao espectador que o trio é composto de crianças tentando ser adultos, meninos de 12 anos que falam palavrões como se os mesmos fossem versos de um mantra para sinalizar amadurecimento. É essa constatação da força que os três fazem para “crescer” que os faz cativantes e dignos de gerar identificação imediata. Ainda assim, essa pontuação se torna uma claque por conta de seu emprego sucessivo, praticamente virando uma muleta.
Em boa parte do tempo, os meninos deixam à vista o quão são incautos em relação às cifras entendidas como intrínsecas aos adultos. A visão que têm das drogas, por exemplo, notoriamente deriva do que os pais e a escola lhes proveem. Eles querem ser admirados, amados, respeitados, mas não sabem como se expressar. É por meio de suas fragilidades corriqueiras que eles se aproximam organicamente do espectador. Gene Stupnitsky faz de Max uma espécie de líder cujos intentos amorosos deflagram a missão de, antes de qualquer coisa, descobrir como se beija alguém, conhecimento importante ao ponto dele arriscar a confiança paterna ao violar uma interdição. A sucessão de erros e mal-entendidos os traga a situações tétricas – para os parâmetros de um pré-adolescente, naturalmente. Essa noção de escala também é importante em Bons Meninos, pois a maior fração dos problemas práticos enfrentados pelos protagonistas, a partir de seus crescimentos, vão se transformar em contratempos banais. Conjecturas possíveis em meio ao ótimo encerramento dessa "epopeia".
Bons Meninos, de fato, tem uma estrutura engessada, vide a possibilidade de antever circunstâncias imediatas. É evidente que, a longo prazo, estamos diante de uma jornada de aprendizado, à qual é vital o entendimento de que laços afetivos também se modificam na medida em que os pré-adolescentes começam a sentir borbulhar os hormônios e a vontade de conhecer outros universos e pessoas. Todavia, entre as sequências há um leve esquematismo que deixa esse coming-of-age com um sabor requentado, inclusive, dos filmes supracitados, pois marcantes dentro do cinema. Este longa consegue ser universal, exatamente pela maneira como engendra questionamentos e comportamento mais ou menos adaptáveis a qualquer cultura e/ou nacionalidade, mas inclusive porque não lança mão de uma leitura para além desse microuniverso pré-adolescente em que Max, Lucas e Thor ficam circunscritos. Parte do entrave advém do privilégio da observação dos meninos, do jeito que eles filtram códigos aos quais se familiarizarão. Parte, da mera sujeição aos cânones desse subgênero.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Sarah Lyra | 8 |
MÉDIA | 7 |
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