Borg vs McEnroe
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Janus Metz
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Borg McEnroe
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2017
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EUA / Suécia / Dinamarca / Finlândia
Crítica
Leitores
Sinopse
Em meio as finais do torneio de Wimbledon, em 1980, este é o verão mais chuvoso de décadas. O mundo está esperando para ver um dos maiores jogadores de tênis do mundo, Björn Borg, conquistar seu quinto título. Mas poucos sabem o drama dos bastidores: aos 24 anos, Borg está perto do fim, cansado, desgastado e atormentado pela ansiedade. Enquanto isso, seu rival John McEnroe, de 20 anos, está decidido a tomar o lugar no trono de seu antigo herói.
Crítica
Não é de hoje que o cinema busca retratar o fascínio exercido pelas grandes rivalidades esportivas. Afinal, a mítica que envolve a maior parte destas disputas carrega uma qualidade cinematográfica natural, transformando-as em um terreno fértil a ser explorado pelos diretores. Em Borg vs McEnroe, o dinamarquês Janus Metz estreia na direção de longas ficcionais levando para as telas um dos antagonismos mais célebres da história do tênis mundial, protagonizado pelo sueco Björn Borg (Sverrir Gudnason) e pelo norte-americano John McEnroe (Shia LaBeouf) entre o final dos anos 1970 e início dos 1980. Tendo como epicentro narrativo o embate entre os dois na final de Wimbledon de 1980, Metz visa expor o clima muitas vezes opressivo dos bastidores do esporte de alto rendimento e, especialmente, a complementaridade dessas figuras de personalidades aparentemente tão distintas.
A oposição entre a frieza de Borg e a impulsividade de McEnroe ecoa a dinâmica apresentada recentemente em Rush: No Limite da Emoção (2013), drama esportivo sobre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt e Niki Lauda, dirigido por Ron Howard, com o qual o trabalho de Metz também divide a ambientação calcada na estética setentista. Adotando uma narrativa não-linear, com uma série de flashbacks intercalados ao registro do evento principal, Metz investiga não só a trajetória atlética, mas também a construção psicológica, os traumas e os anseios, de ambos desde a infância. Mesmo com as idas e vindas temporais, o cineasta mantém o ritmo equilibrado sem perder o foco, sustentando o crescente da atmosfera que cerca o inevitável confronto na disputa pelo título do tradicional torneio britânico.
Talvez pela proximidade nórdica, Metz acaba elegendo Borg como personagem central, dedicando a ele um exame mais aprofundado. É do sueco a primeira imagem que vemos, observando a paisagem da sacada de seu apartamento, chegando a se debruçar perigosamente sobre o parapeito. Um plano que de cara denota um homem cuja vida se equilibra no limite, com seus sentimentos reprimidos sempre à beira da ebulição. Através das passagens que remontam à sua juventude, revela-se que a fachada inabalável do tenista foi construída como um escudo para proteger o talento nato de seu comportamento explosivo. Uma barreira mantida através da rotina metódica composta por costumes que beiram a superstição – hospedar-se sempre no mesmo quarto de hotel, alugar o mesmo carro, utilizar o mesmo número de tolhas durante os jogos, todo o ritual de encordoamento das raquetes etc.
O semblante impassível ostentado durante praticamente toda a projeção por Gudnason – dono de uma notável semelhança física com Borg – a princípio pode soar como uma limitação dramática. Aos poucos, contudo, o ator deixa transparecer, de modo sutil, os conflitos emocionais escondidos por trás da máscara do apelidado “Iceborg”. Refletindo sobre sua condição, como alguém que deixou de ter prazer com o esporte que ama, e sofrendo com a pressão em relação à possibilidade da quinta conquista em Wimbledon, Borg chega a ser questionado pela futura esposa, a tenista romena Mariana Simionescu (Tuva Novotny), se conseguiria viver sem o tênis. Algo que o sueco chega a vislumbrar na cena em que se abriga em um café francês, afirmando ser um eletricista ao atendente que não o reconhece.
O outro lado moeda, a figura de McEnroe, ainda que com menos tempo de tela, nunca é negligenciado, recebendo atenção suficiente para que suas motivações sejam igualmente compreendidas. Seu comportamento insolente, como bem nota Borg, também configura uma espécie de proteção, até mesmo uma estratégia, de um jovem que sente o peso da própria vocação e que escolhe se defender, atacando. Um personagem que LaBeouf defende de maneira extremamente competente, empregando a intensidade necessária sem se desviar para a caricatura. Utilizando a contraposição da dupla, Metz evidencia suas similaridades, como o sentimento de solidão profunda que contrasta com o cotidiano de quadras lotadas, coletivas de imprensa e festas, ou mesmo a relação com as figuras paternas – o próprio pai, no caso de McEnroe, e o treinador Lennart Bergelin (vivido pelo sempre confiável Stellan Skarsgård) no de Borg.
Demonstrando um bom senso estético, Metz realiza um longa visualmente atrativo, conseguindo traduzir a emoção do esporte para a tela com eficácia. Ainda que os primeiros relances das partidas sejam tímidos, no clímax da decisão, o cineasta constrói sequências vibrantes, se utilizando de um trabalho de edição ágil – mesclando planos aéreos da quadra, de detalhes, reações dos jogadores, público e narradores – instaurando uma aura apreensiva mesmo para os familiarizados com o resultado. Mas é mesmo o pós-catarse mostrado pelo dinamarquês que aproxima ainda mais os personagens, quebrando de vez os estereótipos do “Cavalheiro Imaculado” e do “Mau Exemplo”, ressaltando que, mais do que temer um ao outro, os tenistas sempre cultivaram um respeito mútuo genuíno, se enxergando como similares e criando laços de amizade profundos, como confirmam as imagens de arquivo dos créditos derradeiros. Tal proximidade acaba se estendendo à compreensão do público sobre os homens que sobrepõem os ícones nos quais se transformaram, refletindo e expandindo o conceito contido na frase de André Agassi que abre o filme, sobre “cada partida ser uma vida em miniatura”, a uma dimensão mais ampla.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Leonardo Ribeiro | 7 |
Robledo Milani | 8 |
Thomas Boeira | 8 |
MÉDIA | 7.7 |
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