Crítica
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Sinopse
Assombrado por questões que o incomodam, um homem passa seus dias domando cavalos numa fazenda cercada por natureza. Prestes a embarcar numa jornada perigosa, ela recebe a visita inesperada de seu filho Tommaso.
Crítica
O emprego de animais em cena como subterfúgio de análise das relações humanas está longe de ser uma novidade no cinema. Ainda assim, é o que pretende o ator, diretor e roteirista italiano Kim Rossi Stuart em Brado, seu terceiro trabalho como realizador. Assim como fez em Estamos bem mesmo sem você (2006) – sobre um pai que precisa criar sozinho os dois filhos pequenos após o abandono da esposa (e mãe das crianças) – e Tommaso (2016) – que tinha como protagonista um homem recém-separado em busca do seu lugar no mundo – mais uma vez ele coloca os laços familiares como centro do discurso que busca desenvolver. É de se lamentar, por mais que esteja trilhando terreno mais do que conhecido, que essa mesma ‘zona de conforto’, por assim dizer, seja perceptível da mesma forma nos dramas dos personagens e nos resultados de suas interações, apresentando pouco de novo ou relevante a partir desse discurso. Segundo o dicionário, o termo empregado como título pode significar “voz propagada de modo intenso e forte”. O desse filme, no entanto, se mostra quase apático, fazendo-se ouvir apenas entre os mais sensíveis ao tema.
Apesar de ser o principal nome por trás da produção, Stuart é, na verdade, o antagonista da história. Quem ocupa o papel principal é o jovem Saul Nanni (Amor & Gelato, 2022), que aparece como... Tommaso (a escolha do nome não parece ser ao acaso, e como descrito no parágrafo anterior, é de se supor que os três exercícios diretoriais do cineasta formem uma trilogia). Dono de sua própria vida, o rapaz tem um ofício em construções e leva uma vida modesta, ainda que independente. Sem muita paciência para a mãe que luta para manter uma juventude que dela já se despede (arrumando namorados mais novos e evitando assumir maiores responsabilidades) e pouco próximo da irmã, casada e com filhos e, portanto, dona de uma vida à parte, ele se encontra ainda mais distante do pai, Renato (Stuart), que mora afastado da cidade e dos familiares. Porém, a notícia de que esse teria sofrido um acidente e estaria com o braço imobilizado obriga o filho a não apenas ir visitá-lo, como reorganizar suas prioridades para os próximos dias.
Como se vê, o nó a ser desfeito está no diálogo que precisa ser recuperado entre os dois no centro da ação. Tommaso vai contrariado até à fazenda onde o pai mora e trabalha, dono de uma criação de cavalos para treinos de principiantes na montaria e disputa de concursos e competições esportivas. Mesmo com as evidentes limitações impostas por um braço engessado, o mais velho insiste em seguir tratando de um dos animais recém-chegados, um belo alazão negro de grande potencial, mas selvagem o bastante para exigir um comprometimento diferenciado daquele disposto a domá-lo. Uma vez que o drama é exposto, não restam dúvidas quanto ao que deverá acontecer a seguir: o garoto se muda temporariamente e vai morar com o pai, para ajudá-lo com as lidas diárias – feitas aos trancos e barrancos, em meio a muitas reclamações e estresses entre eles – e para assumir o compromisso de montar a grande aposta e, assim, participar de uma prova eminente. Uma vitória poderia colocá-los em um novo patamar. Mas o quanto estariam dispostos a investir para alcançar esse resultado?
Stuart se mostra mais envolvido com a direção do que em relação ao personagem que assume a tarefa de interpretar. Seu Renato é um homem bronco, travado pelo tempo, com dificuldades para se abrir e ensimesmado pelo rancor que acumulou ao longo dos anos. Se ressente pelo abandono, e mesmo quando se vê rodeado por parentes e amigos, tudo o que consegue transmitir é uma eterna expressão de incômodo, como se preferisse, de fato, a solidão. É uma máscara que o ator enverga, e dela se afasta apenas em poucos momentos, sem oferecer à maleabilidade necessária a ponto de permitir uma identificação com o público. Por outro lado, Nanni se revela mais versátil, deixando claro tanto movimentos tácitos da personalidade que defende – como a opção declarada de se afastar dos familiares para evitar uma criação provavelmente forjada pela inconstância e insegurança afetiva – como pelos esforços que aos poucos vai abraçando nesse processo de aproximação com uma figura paterna pela qual tanto anseia, mas que, no fundo, duvida que ainda possa existir.
Dessa forma, Brado nasce e morre pelo envolvimento dessas duas figuras que, por mais machucadas que se apresentem num primeiro instante, inevitavelmente caminharão rumo a um momento de cura e recuperação, juntos ou mesmo por meio de uma separação definitiva. Os cavalos, que respondem por algumas das mais belas cenas do longa, são não mais do que uma desculpa para a retomada desses afetos e a construção de uma nova possibilidade para esses homens que há muito esqueceram ser possível não ser apenas um e, sim, abrir-se ao mundo em um gesto de entrega e compartilhamento, tanto pelo muito que se corre o risco de perder, mas, também, pela aposta do que, eventualmente, se pode ganhar. Trata-se de um percurso por vezes traiçoeiro, desgastado pelo tanto que se visitou em ocasiões anteriores, assim como pelo pouco de original que se dispõe a oferecer a cada revisita. Ainda assim, guarda uma ou outra passagem de maior emoção, proporcionados pelos conflitos que se impõem ou pelos embates entre dois tipos de forte carisma, ainda que reunidos em função de um conto de alcance frágil e, por vezes, até mesmo ingênuo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Celso Sabadin | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
Miguel Barbieri | 6 |
MÉDIA | 6 |
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