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Sinopse

Branca de Neve é uma bela jovem com cabelos escuros, pele clara e lábios avermelhados. A beleza de Branca de Neve é o seu maior problema, pois quando ela vira a mais linda de todas, ela se transforma em uma ameaça para sua Madrasta, Ravenna. Porém, o que a malvada tirana nunca imaginou, é que a jovem que ameaça seu reinado vem treinando a arte da guerra com o caçador que foi enviado para matá-la.

Crítica

Dos quase 20 filmes estrelados por Kristen Stewart, apenas os da série Crepúsculo se saíram bem nas bilheterias. Algo similar acontece com Chris Hemsworth, que até o momento possui apenas um personagem de sucesso - o herói Thor. Já Charlize Theron até pode ter um Oscar em casa, mas retorno de público ela conta com apenas dois – Hancock (2008), apoiado no carisma do colega Will Smith, e Uma Saída de Mestre (2003), um filme de elenco em que ela é apenas mais um dentre tantos. Ou seja, uma nova produção que causasse um bom impacto nas plateias cairia bem para qualquer um destes protagonistas. E esta, obviamente, deve ser a principal razão por terem aceitado participar de Branca de Neve e o Caçador, mais uma releitura do clássico conto de fadas, a segunda somente neste ano (após o catastrófico Espelho Espelho Meu, 2012). E como a competição foi fraca, este longa se sai melhor na disputa – e mesmo assim, por pouco.

Um pouco mais fiel ao eterno e popular desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões (1937), este Branca de Neve e o Caçador mantém alguns elementos tradicionais da fábula, como a presença dos anões (oito deles, mas logo a conta se ajusta), a maçã envenenada, o espelho mágico e a inveja da Rainha Má. Mas também é só. De resto temos um cenário bem mais sombrio, uma vilã que transborda maldade em estado bruto e um universo em que a magia está por todos os lados. É uma realidade mais próxima da vista em histórias atualmente populares, como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, do que daquela imaginada até alguns anos atrás. Deixa-se de lado qualquer resquício de ingenuidade e em seu lugar entram batalhas épicas, vinganças elaboradas e violência sem limites, tudo embalado por um apuro estético bastante elevado.

A trama é próxima da que lembramos: Branca de Neve (Stewart) é a bela filha do rei. Este, em pleno sofrimento pela viuvez recente, cai de encantos por uma desconhecida, tornando-a sua esposa. A nova rainha (Theron) assume o poder e transforma a vida de todos em um inferno. Branca precisa fugir, mas é perseguida por um caçador (Hemsworth) que parte em seu encalço à mando da soberana. Ao encontrar a garota, no entanto, ele se apaixona, e passa a lutar ao seu lado, junto com anões mineiros e todos os demais rebeldes. Ravenna, a rainha, está amaldiçoada, e só poderá manter sua beleza estonteante consumindo a jovialidade das moças que cruzarem por seu caminho. O Espelho Mágico, no entanto, lhe confidencia que Branca de Neve é a única que pode acabar com seu feitiço, ao mesmo tempo em que é também a única com força suficiente para derrotá-la. O embate final, obviamente, se dará entre as duas, na mais evidente representação do eterno conflito entre o bem e o mal.

Ao contrário do já citado Espelho Espelho Meu, que apostava no riso fácil e no deboche estilo pastelão, Branca de Neve e o Caçador possui proporções muito mais ousadas. O problema, no entanto, é a fonte – trata-se de um conto secular para crianças, cujo desenlace todo mundo conhece e dona de uma origem que não pode ser ignorada. Quando soma-se a essa mistura elementos como uma terra de fadas, a benção de um cervo gigante (referência direta ao pai de Bambi) e uma floresta negra repleta de perigos, sabemos que estamos diante de algo que não pode, definitivamente, ser levado plenamente à sério. Outro problema é a escolha do elenco: afinal, em que mundo Charlize Theron – uma das mulheres mais lindas da Hollywood atual – teria qualquer tipo de receio pela “beleza” de Kristen Stewart – uma garota, no máximo, simpática? Stewart, por mais que se esforce, não convence como a “mais bela de todas” Branca de Neve, e sem dar o espaço merecido para que Theron domine a cena, seu potencial acaba sendo menosprezado e pouco aproveitado. Felizmente temos a sequência final, um verdadeiro show à parte.

Branca de Neve e o Caçador foi uma das grandes apostas de público de 2012, e após o incrível sucesso da versão de Alice no País das Maravilhas (2010) de Tim Burton, que faturou mais de um bilhão de dólares nas bilheterias de todo o mundo, era de se esperar que o mesmo objetivo fosse aqui alcançado - o que acabou não acontecendo, no entanto. Ainda mais porquê, enquanto produto cinematográfico, este filme fica devendo, e muito. O diretor estreante Rupert Sanders não consegue esconder sua falta de experiências cinematográficas, e a concepção visual é tão atenta aos detalhes que acaba perdendo o foco principal, que é provocar paixão e envolvimento com o espectador. E por fim temos a gravidade de um triângulo amoroso – Branca de Neve, Caçador e Príncipe (Sam Claflin) – que não se resolve, demonstrando a falta de coragem do realizador em apostar em caminhos mais ousados. Bonito, mas sem coração – tudo o que uma história como essa não poderia ser.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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