Crítica
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Sinopse
Olavo Bilac é um médico legista renomado que trabalha em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele é convidado pelo Instituto Médico Legal de Brasília para identificar uma ossada que pode ser de alguém que desapareceu há meses.
Crítica
O título enigmático de Brasília 18% pode ter dois significados – ou além! O mais óbvio é que esta é a taxa média de umidade do ar da capital federal. O número 18 faz referência também à quantidade de filmes de ficção já realizados pelo diretor Nelson Pereira dos Santos – este é o seu décimo oitavo longa. Os mais antenados, entretanto, podem ver aqui um paralelo com o primeiro trabalho de Nelson, Rio 40 Graus (1955), ou ainda que este percentual seria uma taxa cobrada como propina entre corruptos no governo federal. Como se pode ver, as interpretações são muitas. A se lamentar apenas que esta diversidade se restrinja apenas ao nome, já que sobre a obra em si há quase um consenso: está tão aquém das expectativas e do que os talentos envolvidos poderiam realizar que chega a ser vergonhosa.
Carlos Alberto Riccelli, numa interpretação monossilábica e sorumbática, é um médico legista brasileiro que trabalha nos Estados Unidos. Ele é chamado às pressas para resolver uma questão em Brasília: precisa identificar um corpo que se acredita ser o de uma jovem economista desaparecida há meses. Caso seja confirmada a identidade, membros do alto escalão ficarão tranquilos, uma vez que a culpa recairá no noivo da garota, um cineasta polêmico. Caso contrário, as investigações continuarão, e outros “podres” poderão aparecer, com muitas cabeças correndo o risco de rolarem. Por isso a pressão sobre o médico será imensa, chegando até a sofrer ameaças. Soma-se a isso o fato dele ter perdido a esposa recentemente, o que lhe provocará alucinações com a amada, com a moça sumida, com uma nova namorada e até com uma jovem prostituta que encontra nas ruas.
O argumento de Brasília 18% é interessante – a realização, no entanto, pode ser considerada precária. Com exceção de Carlos Vereza (um dos poucos elementos dignas de nota positiva), como um senador corrupto e poderoso, todo o elenco constrange pelo amadorismo. Malu Mader, que filmou logo após ter superado um tumor cerebral, está claramente afetada, sem conseguir dar um rumo crível ao personagem. Bruna Lombardi é só beleza – e mais nada! Já as novatas Karine Carvalho e Mônica Keiko decepcionam diante às poucas oportunidades que lhes são oferecidas, assim como os demais coadjuvantes. Mas o pior mesmo é a mão cansada do diretor e o roteiro falho, sem ritmo nem originalidade. É tudo por demais óbvio, desorientado e cansativo. Nenhuma revelação surpreende, e o público chega ao término da projeção incitado mais a bocejos do que à reflexão que o tema deveria incitar.
Durante o lançamento de Brasília 18% em São Paulo, quando questionado sobre como definiria o filme, Santos afirmou: “é uma grande história de amor, acima de tudo”. Bem, muitos já disseram algo semelhante antes, de que, no fundo, qualquer enredo se resumiria ao desenvolvimento de interesses amorosos, em maiores ou menores graus de profundidade. Neste caso aqui, infelizmente, a constatação mais evidente é de que esta relação é muito rasa. As pontas apresentadas são tão frouxas e mal conectadas que antes da metade da trama o público já perdeu o interesse pelo que se passa na tela. A partir deste ponto, reconquistar esta atenção será uma tarefa tão árdua quanto inglória. Em tempos de novos escândalos políticos a cada semana, um filme como este deveria levantar discussões e servir de base para uma reflexão nacional. Infelizmente, esta oportunidade foi desperdiçada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Ailton Monteiro | 7 |
Lucas Salgado | 4 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 5.3 |
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