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Sinopse

Consagrado como um dos principais documentaristas do Brasil, Silvio Tendler teve uma grave doença em 2010 e desde então ficou paraplégico. Após uma delicada operação na medula ele começou a se recuperar, sentindo-se impelido a contar a própria história.

Crítica

A iniciativa era louvável: realizar um relato biográfico e documental de um dos maiores nomes do cinema brasileiro. E o melhor: com o homenageado ainda em vida. Aliado a isso, está o fato de se poder traçar um paralelo entre a própria jornada de vida do artista com a recente curva ascendente de tomada de consciência moral que nosso país vem enfrentando nos últimos meses. Dito tudo isso, é triste perceber que A Arte do Renascimento: Uma Cinebiografia de Silvio Tendler está aquém do que poderia ter sido, justamente por ser reverencial demais e por não possuir o distanciamento necessário para que fosse possível a criação de uma obra séria e independente. Como resultado temos um pastiche, uma sombra inerte de algo que poderia ter sido muito bom.

Os problemas do trabalho do diretor Noilton Nunes começam logo no título – ao invés de se preocupar em narrar a história e a jornada do consagrado cineasta carioca, como é anunciado em seu nome, o que vemos é um ideário da obra do documentarista, com seus melhores momentos, até se concentrar em sua recuperação física após uma doença que o deixou tetraplégico há poucos anos. É um trabalho bonito e emocionante em determinadas passagens, porém mais pela obra investigada do que pelo que é visto através das câmeras de Nunes. Com uma melhor edição e um roteiro inteligente, teríamos um bom curta de 15, 20 minutos no máximo. O que, infelizmente, não é o caso.

Mesmo tendo pouco mais de 70 minutos de duração, A Arte do Renascimento soa, aos olhos e à percepção dos espectadores, muito mais longo do que é de fato. E isso se deve à opção não muito feliz de seu realizador em ocupar mais da metade do desenvolvimento de sua obra com uma colagem pouco inspirada dos filmes mais polêmicos e políticos de Tendler. Esse recorte, por si só, motiva questionamentos, pois são literalmente ignorados longas de incrível sucesso, como O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981) – até hoje o documentário de maior bilheteria da história do cinema brasileiro, com quase 2 milhões de espectadores – ou o premiado Castro Alves: Retrato Falado do Poeta (1999). Por outro lado, títulos como Os Anos JK (1980), Jango (1984), Glauber: Labirinto do Brasil (2003) e Utopia e Barbárie (2009), principalmente, são explorados à exaustão. Para os novatos, essa montagem pode servir para despertar a curiosidade e propiciar uma necessária redescoberta. Para todos os demais, iniciados e admiradores do cinema de Silvio Tendler, isso acaba soando repetitivo e pouco inspirado.

Mas o pior mesmo de A Arte do Renascimento é a tentativa de mitificar um cineasta que ainda está muito vivo e atuante. Ao invés de simplesmente reconhecer sua obra e importância, tenta-se reproduzir a todo custo o mesmo discurso que Tendler adotou em toda sua vida e militância política e cultural, como se o próprio não tivesse mais condições de falar por si próprio. Tal aposta se revela equivocada e contraditória, uma vez que já em avançado estágio de recuperação e com uma vontade imensa de viver e produzir, o biografado aparece não só para revelar suas ideias, mas para falar de projetos concretos e futuros, deixando claro não estar nem um pouco disposto a dizer adeus. Felizmente, Silvio Tendler sabe que seu lugar é atrás das câmeras, encantando e provocando plateias de norte ao sul, e não em um altar, protegido por uma redoma de vidro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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