Crítica
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Sinopse
Shelly, uma jovem dançarina, sonha se tornar cantora de Brega - uma cena musical romântica e sensual da periferia brasileira. Ela está em busca de fama e de algum dinheiro. Inserida em um mundo onde tudo é descartável, como sucesso, amor e relações humanas, encontra em Jaqueline, sua companheira de banda, uma cantora experiente em decadência, o seu espelho.
Crítica
O brasileiro é muito rápido em seus julgamentos. É muito fácil dizer que algo é ruim, bom, que não presta ou que é maravilhoso, sem nunca avaliar profundamente não só suas consequências, como também origens. Um bom exemplo disso são as chanchadas, sucesso popular do cinema nacional que, em seus áureos anos, era desprezado pela crítica, somente para muito tempo depois ser redescoberta como nossa verdadeira identidade nacional. Há algo de semelhante também na música brega, que agrada a milhões ao mesmo tempo que provoca calafrios em muitos. É neste universo em que se passa o pernambucano Amor, Plástico e Barulho, trabalho de estreia na ficção da premiada Renata Pinheiro, que mais uma vez entrega ao seus espectador uma obra madura e envolvente.
Realizadora de curtas aclamados no Brasil e no exterior e do documentário Estradeiros (2011), codirigido por Sérgio Oliveira, Renata em nenhum momento procura emitir algum tipo de julgamento sobre os personagens de Amor, Plástico e Barulho – muito pelo contrário, os defende até às últimas instâncias. Estamos na periferia de Recife, universo decadente e desgastado, dominado por artistas populares que sonham por seus quinze minutos de glória. A ação se dá principalmente entre Jaqueline (Maeve Jinkings, numa atuação hipnotizante), a veterana já cansada de tantos altos e baixos, e Shelly (Nash Laila, que faz bom uso de sua cara de menina para combinar ingenuidade com ambição), a novata determinada a conquistar os holofotes, atropelando quem for preciso nesse processo. O duelo entre as duas é completado pelo terceiro vértice de um triângulo amoroso, Allan (Samuel Vieira), namorado da primeira que a troca pela segunda e, principalmente, pelo estrelato.
A caráter descartável das coisas, das pessoas, dos sentimentos e das conquistas é o mote a ser revelado durante o desenrolar da ação de Amor, Plástico e Barulho. As duas protagonistas lutam, assim como aqueles que as circundam, por melhores condições, por sucesso, por aclamação. Mas o que possuem para oferecer em troca, além de suas vidas e escassos potenciais? Há de se questionar também a respeito da validade destes feitos, pois quem os valoriza e reconhece? As famílias são deixadas para trás, as paixões ignoradas e as vocações abafadas em nome de um jogo em que cada movimento pode ser o último. Assim como o plástico que não se desintegra, o barulho, ainda que fugaz, permanece na memória de quem o confronta, como incômodo e perturbação. Mesma impressão que o amor pode provocar, quando não tratado com o respeito e dignidade merecido. Elementos que compõem essas vidas tanto quanto suas carnes e sangue.
Apaixonada por seus personagens, a cineasta constrói um embate de divas digno de um clássico como A Malvada (1950), e muito desse mérito se deve também aos talentos superlativos de Maeve Jinkings e de Nash Laila. A primeira, principalmente, consegue compor um tipo de trafega pela mesma avenida de Margo Channing (Bette Davis), no clássico de Joseph Mankiewicz vencedor do Oscar, ou Norma Desmond (Gloria Swanson), do inesquecível Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder. Seus olhos não escondem seu fardo, vislumbrando uma melancolia doída, porém nunca autocomiserativa. Sua presença é forte, contagiante, e por pouco não abafa por completo sua oponente. O destino que enfrentam é retrato de uma luta sem vitoriosos, em que o próprio sentido de tudo o que passam é questionado. Assim como o próprio filme, que carrega consigo muito mais do que uma primeira percepção pode acusar.
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